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Juiz de Fora enfrenta seca moderada; em São João Nepomuceno, situação é severa

São João Nepomuceno está sob seca severa; veja situação de outras cidades
(Foto: Felipe Couri)
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No total, 13 cidades da Zona da Mata mineira estão em estado de seca severa. Os dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) indicam que São João Nepomuceno, Argirita, Paula Cândido, Divinésia, Dores do Turvo, Miraí, São Sebastião da Vargem Alegre, Tocantins, Piraúba, Astolfo Dutra, Guarani, Guiricema e Descoberto encontram-se nessa condição. No caso de Juiz de Fora, a situação foi classificada como moderada.

A pesquisadora do Cemaden Ana Paula Cunha explica que os dados do Monitoramento Operacional de Secas do órgão ligado ao Governo federal são obtidos a partir da falta de chuvas, umidade do solo e estresse na vegetação. As informações são reunidas no Índice Integrado de Secas, desenvolvido no Cemaden.

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Já as categorias variam de acordo com a intensidade dos fatores analisados para classificação dos municípios. “Quanto maior o déficit (mais fora do normal) estão essas variáveis, maior a intensidade da seca. Ou seja, o índice considera os três fatores: déficit de chuvas em relação à média; umidade do solo (quanto menos úmido, maior o impacto da falta de chuvas); e estresse na vegetação (impacto que a falta de precipitações tem sobre determinada vegetação)”, esclarece Ana Paula.

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As classificações do Cemaden, em ordem crescente, são: normal, fraca, moderada, severa, extrema e excepcional. “Nos municípios com seca fraca e moderada, a chuva está um pouco abaixo do normal. Os com classificação extrema já têm a situação mais crítica. Os impactos mais comuns de uma seca extrema são a queda na produção agrícola em vigência; queda na qualidade das pastagens e, consequentemente, na produção pecuária; risco maior de fogo; e, dependendo da região, queda da vazão e nível dos rios.”

Apesar disso, Ana Paula afirma que se a situação é crítica ou não vai depender muito da localização da cidade, do perfil socioeconômico, da quantidade de pessoas que vivem na região, se existe agricultura ou não e outra série de fatores. O que é crítico para um local pode não ser para outro, mesmo que os dois estejam na mesma classificação.

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A última estação chuvosa foi muito fraca em todo o estado, como relembra a meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Anete Santos. “A primavera, além da falta de chuva, foi marcada por recorrência de ondas de calor (setembro, novembro e dezembro), o que potencializa a evaporação. A estação chuvosa 2023-2024 iniciou somente em janeiro deste ano, ou seja, com cerca de três meses de atraso.” Segundo ela, na Zona da Mata, especificamente, a ausência de chuva não está tão grave quanto no restante de Minas Gerais.

Conforme dados do Inmet, em Juiz de Fora não chove há 14 dias: a última registrada aconteceu no dia 10 de julho. Em São João Nepomuceno não há estação do instituto. Anete ainda reforça que, para a meteorologia, considera-se chuva a partir de 1 milímetro, valor observado na ocasião.

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Seca faz parte de fenômeno climático

O climatologista do Laboratório de Climatologia e Análise Ambiental da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Fabio Sanches, explica que, mesmo com o final da fase positiva (El Niño) do fenômeno El Niño Oscilação Sul (ENOS), o inverno na região se caracteriza pela redução nos volumes de chuva (estação seca). Dessa forma, nessa época, o menor volume de chuvas é comum.

“No entanto, segundo os órgãos que monitoram o ENOS, estamos caminhando para uma nova fase prevista para agosto: a La Niña. De certa forma, nessa fase as chuvas tendem a diminuir na transição do inverno para a primavera, retardando o retorno da estação chuvosa para parte do sudeste do país, possivelmente, prolongando nossa estação seca.”

(Foto: Arquivo pessoal)

Além disso, Fabio conta que há atuação de um sistema atmosférico denominado Bloqueio Atmosférico. “Esses sistemas têm atuado com mais frequência e intensidade, sobretudo sob atuação da La Niña. Eles dificultam o avanço das frentes frias vindas da Antártica, bloqueando seu avanço e deslocando-as para o Oceano Atlântico. Isso promove a sequência de dias sem chuva, mais quentes e com redução na umidade relativa do ar”, destaca.

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Em relação aos dados do Cemaden, o climatologista ressalta que Juiz de Fora ter sido classificada como risco moderado desperta a atenção, pois seus efeitos – como baixa umidade do ar, ausência de chuvas e forte amplitude térmica – podem trazer problemas para a população, sobretudo as mais vulneráveis – dentre elas, idosos e crianças.

“Caso as projeções sobre a ação da La Niña venham a se confirmar, é provável que o retorno da estação chuvosa (em meados de outubro) sofra um retardo, prolongando a estação seca, avançando para o mês de novembro. As questões de saúde podem se tornar mais urgentes aliadas, ainda, à questão do abastecimento público”, completa.

*estagiário sob supervisão da editora Fabíola Costa.

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