A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) confirmou, na manhã desta segunda-feira (24), que a vítima que morreu em decorrência da suspeita de febre maculosa em Juiz de Fora é um menino de 13 anos. De acordo com a pasta, o menino começou a apresentar os sintomas na última terça-feira (18). Dois dias depois, houve agravamento do caso, e a vítima morreu na madrugada do sábado (22). Na sexta-feira (21), ele deu entrada na Santa Casa de Misericórdia com febre hemorrágica. A Tribuna tentou mais detalhes com a SES-MG e a Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) sobre a vítima, a respeito do local de contaminação e se ela é residente do município, mas não obteve essas informações.
Como na notificação houve suspeição para febre maculosa, a SES-MG informou, em nota, que o caso está “sob investigação epidemiológica para identificação do provável vínculo epidemiológico, como também laboratorial, com coleta de amostras para elucidação do diagnóstico, já que os sinais e os sintomas da febre maculosa são similares a outras doenças febris hemorrágicas”. Ainda de acordo com a pasta, embora os casos da doença possam ocorrer durante todo o ano, eles costumam ser mais frequentes no período de seca, especialmente entre os meses de abril a outubro.
À Tribuna, a PJF informou que a cidade não possui nenhum caso confirmado de febre maculosa até o momento, completando que a Secretaria de Saúde foi notificada sobre a suspeita no sábado e que o caso segue em investigação.
Já o Ministério da Saúde também apontou que ainda não há resultados para a coleta de amostra para exames, sendo que a pasta federal, juntamente com o Estado, acompanha as investigações epidemiológicas e ambientais sobre o caso. “Cabe esclarecer que este é um período no qual é esperado um aumento no número de casos de febre maculosa e que o município de Juiz de Fora fica em uma região endêmica para a doença”, informou.
‘Tratamento precoce é extremamente importante’
De acordo com o infectologista e responsável pelo Setor de Vigilância em Saúde do HU-UFJF, Rodrigo Daniel, uma região é considerada endêmica quando já são esperados casos de determinada doença anualmente, a partir de uma série histórica. No caso, todos os anos há registro de febre maculosa em Juiz de Fora.
O diagnóstico é demandado quando o paciente chega com febre hemorrágica, sendo que o exame vale para outras doenças que apresentam sintomatologia semelhante, como dengue, leptospirose, hantavirose e febre amarela. Entretanto, cada caso possui particularidades que orientam a notificação de suspeita. “Se a pessoa teve contato com área de mata ou se teve contato com carrapato, isso fortalece a hipótese”, aponta o médico.
Áreas margeando rios ou com grande presença de animais são as mais propícias para infecção por febre maculosa, que pode ocorrer pelo carrapato-estrela, o transmissor mais conhecido da doença. Em Juiz de Fora, há destaque para a presença das capivaras na zona urbana. Já na zona rural, áreas de criação de cavalos que não façam controle de carrapato também costumam ter circulação da bactéria que causa a doença.
“O carrapato, em forma adulta, é muito grande, só que não é essa forma adulta que transmite a doença. É a forma de linfa e larva, que são os pequenos, os filhotinhos, chamados de micuim”, explica Rodrigo Daniel. “O carrapato é bem pequeno e tem que ficar preso na pele da pessoa de quatro a seis horas. Então um carrapato grande, a pessoa vai perceber que está ali, porque vai incomodar. Um carrapato pequeno, às vezes passa despercebido, e a pessoa vai sentir uma coceira só depois.”
Desta forma, há alguns cuidados que devem ser tomados, como usar roupas claras em regiões de mato e prender a “boca” da calça no sapato, para evitar que o carrapato suba no corpo pelo pé. Além disso, o infectologista orienta que a pessoa que esteja em uma área de mato vasculhe o corpo a cada duas horas para verificar se há a presença do inseto. Caso um carrapato seja encontrado, é preciso ter cuidado na hora de removê-lo.
“Na hora de retirar o carrapato, é importante não apertar a barriga dele. É preciso puxá-lo a partir da região próxima da pele, idealmente com uma pinça. Não se deve espremê-lo porque isso pode fazer ele inocular a bactéria para dentro do corpo.”
Febre alta é principal sintoma
Conforme o infectologista Rodrigo Daniel, o período de incubação da febre maculosa – de exposição até o aparecimento dos sintomas – é de dois a 14 dias. O principal sintoma é a febre alta e de início súbito. Além disso, é possível que o paciente apresente manchas no corpo, entretanto, esse sintoma costuma afetar somente metade das pessoas infectadas. Dessa forma, o médico alerta que, caso a pessoa tenha estado em lugares com mato ou teve contato com carrapato, é preciso procurar atendimento logo no início dos sintomas para que o tratamento seja realizado.
“O tratamento da febre maculosa é feito com um antibiótico antigo, fácil de tomar e barato. Mesmo que não tenha na rede pública, é possível encontrá-lo por R$ 20. É também por um período muito curto, às vezes a pessoa toma durante uma semana apenas e isso pode reduzir o risco de morte”, explica. “É uma doença que começa, em geral, de forma benigna, confundindo com dengue, por exemplo, mas pode evoluir para formas graves, principalmente neurológicas e pulmonares. É uma doença que mata se deixar chegar na forma grave, então, o tratamento precoce é extremamente importante”, destaca.
Quatro mortes por febre maculosa confirmadas em Minas
Ainda de acordo com a SES-MG, somente em 2023 foram confirmados, até o momento, 14 casos de febre maculosa. Destes, quatro pessoas infectadas morreram – dois homens, de 28 e 54 anos, residentes de Manhuaçu, e duas pessoas de Conselheiro Lafaiete, uma mulher de 25 anos e um jovem de 23. “Em respeito à Lei Geral de Proteção de Dados, mais informações sobre os pacientes não serão divulgadas”, complementa a Secretaria de Estado de Saúde, em nota.
“A SES-MG destaca que atua continuamente em todo o território, por meio de monitoramento/vigilância de casos humanos suspeitos e confirmados da doença; vigilância ambiental de áreas de risco; divulgação de notas informativas e materiais orientativos/educativos aos municípios; e na realização de cursos e treinamentos para profissionais de saúde”, informou a pasta à Tribuna nesta segunda-feira.