Nos 23 primeiros dias do mês de abril, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou, em Juiz de Fora, acumulado de precipitações de 173,3 milímetros. O índice representa mais de duas vezes o previsto para o mês, conforme a média histórica, que são 78,6 milímetros. Apenas na tempestade de terça-feira (23) foram 35,2 milímetros, resultando em duas ocorrências na Defesa Civil do município.
A instabilidade atmosférica observada na terça já estava prevista pelos institutos de meteorologia. Ela é resultado de um canal de umidade formado no oceano em direção ao continente, atingindo a região Sudeste do país, incluindo a Zona da Mata de Minas Gerais. Entretanto, este fluxo não deve se manter nos próximos dias, que deverão ser de tempo estável na cidade e na região.
Nesta quarta-feira, o céu ainda ficou parcialmente nublado em Juiz de Fora, mas os termômetros marcaram até 27 graus. A partir desta quinta-feira, a tendência é de redução da nebulosidade e o consequente aumento da temperatura máxima, que poderá voltar até os 30 graus. Já a mínima, ao longo de toda a semana, permanece entre 17 e 19 graus.
Defesa Civil
Entre as ocorrências registradas pela Defesa Civil por causa das chuvas, estão dois destaques. No Bairro Santa Rita, Zona Leste, um destelhamento assustou moradores de uma casa, na Rua Maria Fávero. Durante a tempestade da noite, o Inmet chegou a registrar rajadas de ventos de 49 quilômetros por hora em Juiz de Fora. Já no Bairro São Benedito, também na região Leste, a Defesa Civil foi acionada para atender a uma ocorrência de queda de muro de divisa na Rua José Zacarias dos Santos. Não houve feridos ou desalojados.
Embora não tenha registro na Defesa Civil, as chuvas também causaram transtornos em outras áreas da cidade. No Bairro Santo Antônio, Zona Sudeste, moradores e comerciantes da Rua Pedro Trogo passaram a manhã de quarta-feira limpando os estragos do alagamento ocorrido na tarde anterior. “Eu moro há 40 anos aqui, e a situação só vem se agravando”, lamentou o aposentado Aparecido Idemir Pazinato. “A nossa preocupação maior é com a creche por conta da quantidade de crianças. Hoje ela nem funcionou, eles só abriram para limpar o local”, acrescentou.
Os vizinhos do Centro Educacional Adalberto Teixeiras Fernandes Filho, também localizado na Rua Pedro Trogo 60, ligaram para a coordenadora pedagógica Joanita de Almeida, assim que começaram a perceber que a água estava invadindo o estabelecimento. Embora o alagamento venha sendo uma constante para os moradores da região, de modo que eles já adotam medidas preventivas para evitar as perdas materiais, a desolação diante do prejuízo não deixa de estar presente. “O estrago é sempre muito grande. Nossa creche é comunitária, não temos retorno disso pela Prefeitura. Dessa vez, a perda foi de aproximadamente R$ 10 mil. As manilhas não suportam a água do bairro, o que afeta as ruas todas, em toda chuva mais forte acontece isso. Precisamos de uma solução definitiva, para que a gente não tenha que lidar com essa perda toda vez. Precisamos que a Prefeitura olhe por nós e faça a troca das manilhas logo.” De acordo com ela, o maior prejuízo vem dos equipamentos danificados, sem os quais a instituição fica sem ter como funcionar plenamente. Fora que as 300 crianças atendidas não puderam ficar na creche em função dos danos.
“Em outras chuvas já perdemos freezer, máquina de lavar, geladeira. Nessa, perdemos colchões de estimulação, que apodreceram por causa da água que volta do esgoto. Perdemos documentos, liquidificador, balança. Estamos buscando arrumar emprestado esses materiais ou que alguém os ceda para a creche, porque só assim vamos conseguir retomar o funcionamento amanhã e para não prejudicarmos as mães que precisam trabalhar”, conta a coordenadora. Quem quiser ajudar financeiramente ou com os equipamentos que são necessários com urgência pode ir até a creche ou buscar informações por meio do telefone: 3235-5500.
A estudante Duane Constâncio também terá que lidar com prejuízo em função da chuva. Ela tinha estacionado seu carro na Rua Pedro Trogo, onde mora, como sempre faz, por volta das 19h. Entrou em casa e, em cerca de 15 minutos, segundo ela, a água começou a tomar conta da via. “Pelo menos metade da rua ficou completamente encharcada, foi muito rápido. Assim como em menos de 40 minutos a água escoou. Fiquei desesperada, a água invadiu meu carro, molhou tudo, não tinha ninguém que pudesse me ajudar na hora. O carro de outra moça, que estava na frente do meu, ficou patinando e só parou porque bateu no meu. Quando a água baixou, não pude ligar o carro, porque chegou a molhar o motor. Nessa quarta-feira, quando fui abrir o carro, estava todo cheio de lama. Isso acontece sempre, as bocas de lobo não dão conta de escoar a água e as pessoas jogam muito lixo, o que contribui para que elas fiquem entupidas.”
De acordo com a Prefeitura, o Bairro Santo Antônio é um dos pontos da cidade que experimentou um grande crescimento nos últimos anos. Com maior volume de pessoas e de imóveis na localidade, aumenta também a demanda de captação de água pela rede, que não está mais comportando toda a água que desce do bairro. A PJF afirmou que está ciente do problema e que é preciso realizar uma obra de ampliação da rede de drenagem, mas que para isso são necessárias 60 manilhas, e o trabalho de troca desse sistema, serviço para o qual o Executivo ainda está em busca de captação de recursos. A PJF também salienta que a população, principalmente em áreas em que os alagamentos são uma realidade frequente, precisa se conscientizar ainda mais sobre a importância de descartar o lixo da maneira correta.