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Minas Gerais tem mais de 35 mil notificações de dengue

Liraa ponta alto risco de dengue em JF

Casos de dengue começam a chamar atenção em Juiz de Fora

fabio prezoto
Biólogo e professor do Departamento de Zootecnia da UFJF, Fábio Prezoto, lembra que cidade vem registrando chuvas toda semana, e temperaturas não estão frias
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Enquanto as atenções estão voltadas para a propagação do coronavírus no país, outra doença já conhecida entre os brasileiros também tem causado preocupação: a dengue. Só em Minas Gerais, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) registrou 35.639 casos prováveis da doença, segundo boletim epidemiológico publicado nesta terça-feira (24). Em Juiz de Fora, a incidência da doença ainda é considerada baixa, com 55 notificações. Entretanto, especialistas advertem sobre o comportamento do clima nas últimas semanas, favorável à proliferação do Aedes aegypti, além da necessidade de maior cuidado em relação à prevenção dentro de residências, considerando que todo o país já está enfrentando uma pandemia de coronavírus e que muitas pessoas estão ficando mais tempo em casa, por conta da recomendação de isolamento social.

A dengue é considerada uma doença endêmica no Brasil, e tende a se tornar mais significativa neste período após o verão, com aumento na proliferação dos mosquitos, de acordo com o médico infectologista Marcos Moura.

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“O grande problema disso é que a gente já tem uma demanda aumentada pela dengue nesse período e, se não prevenir contra o coronavírus, vamos ter duas epidemias e um colapso mais evidente do sistema de saúde.”

Segundo o especialista, nessa circunstância, haverá dúvidas quanto à separação dos casos, visto que ambas as doenças apresentam sintomas semelhantes, como a febre. “Na fase inicial da doença, o coronavírus é mais ‘arrastado’. A dengue é mais aguda. Mas é muito difícil para o cidadão comum, até para o médico, em uma primeira consulta, separar uma doença da outra. Com certeza vai ter muitas dúvidas em relação a isso. Isso tem que estar bem claro no setor de saúde para evitar a interação de pacientes sem necessidade.”

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Ainda não há conhecimento sobre o que pode acontecer com uma pessoa caso ela venha a ter as duas doenças, entretanto, o especialista acredita que a possibilidade é preocupante. “Tanto a dengue quanto o coronavírus vai deixar um período de convalescença. Se a pessoa se reinfectar, a tendência é um segundo caso ou a segunda doença ser bem grave. Então, tem que ter um cuidado porque vai ter um corpo debilitado, e aí, além do quadro hemorrágico de uma dengue grave, um quadro respiratório”, exemplifica Moura.

Prevenção

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A prevenção, tanto da dengue como do coronavírus, está diretamente relacionada à higienização. Desta forma, o infectologista lembra que o cuidado vale para o ano todo. “Cabe a nós continuarmos a prevenção para a dengue com repelente, tirar a água parada, o lixo do quintal e, além disso, se prevenir contra o coronavírus: aumentar a higiene, evitar contato e manter o isolamento.”

95% dos focos do Aedes está em residências

Em janeiro, a Secretaria de Saúde (SS) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) realizou um Levantamento do Índice Rápido do Aedes aegypti (Liraa) que indicou que mais de 95% dos focos do Aedes aegypti estão no interior de residências e estabelecimentos comerciais na cidade. Foram visitados 5.898 imóveis em 224 bairros, onde o índice de infestação foi apontado como 3,6, considerado estado de alerta pelo Ministério da Saúde (classificação entre 1 e 3,9).

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Com o regime de isolamento social por conta do avanço do coronavírus, as pessoas estão passando mais tempo em suas residências, o que pode deixá-las mais sujeitas ao mosquito. Isto soma-se ao comportamento do clima nas últimas semanas. “Estamos tendo uma sequência de chuvas suficientes para abastecer possíveis criadouros”, diz o biólogo e professor do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Fábio Prezoto.

“Toda semana, na verdade, está tendo um pouco de chuva, e a temperatura não está fria. Está um período favorável para desenvolvimento de inseto. Então observamos que já estamos, sim, tendo proliferação, e isso está se refletindo no número de casos de dengue notificados no estado.”

Para o especialista, o período de quarentena pode ser utilizado para verificar a presença de criadouros do Aedes aegypti, realizando limpezas básicas. O Liraa, realizado pela SS, mostrou que, dos focos do mosquito, 28,5% estão em vasos, frascos com água, pratos e pingadeiras; 22,7% em lixo, sucatas e entulhos; 16,4% em tanques, calhas e piscinas não tratadas; 14,8% em barris e tambores; 12,9% em pneus; 2,7% em axilas de folhas (bromélias e afins); e 2% em depósitos de água elevados.

“Já que as pessoas estão em casa, naqueles horários mais propícios de atividade do mosquito – início da manhã ou final da tarde -, podem verificar se na residência já está sendo encontrada essa incidência do mosquito e, se sim, fazer um esforço. (Deve-se) olhar a casa em busca de possíveis criadouros para evitar, talvez, uma segunda consequência, que é o aumento no número de casos de pessoas com dengue.”

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Visitas suspensas

Procurada, a Secretaria de Saúde informou que as visitas domiciliares dos agentes de combate a endemias está suspensa. Entretanto, a pasta mantém os demais serviços relacionados ao combate à dengue, como aplicação de UBV e atendimento de denúncias. A SS reforçou que parte dos servidores continua atuando no monitoramento de 197 pontos estratégicos espalhados por todas as regiões de Juiz de Fora, com o intuito de avaliar o índice de infestação do mosquito nesses locais.

“A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a mobilização social como um dos pilares mais importantes na luta contra a dengue, portanto, nesse momento de enfrentamento ao coronavírus, a Secretaria de Saúde reforça que precisa, mais do que nunca, que a população cuide das suas casas e quintais para evitar a proliferação do mosquito Aedes aegypti”, diz o texto.

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Cidades da Zona da Mata registram incidência muito alta

Distante cerca de 120 quilômetros de Juiz de Fora, Tocantins é a quarta cidade com maior número de casos em Minas Gerais, atrás apenas de Belo Horizonte e dos municípios de Campo Belo e Pará de Minas. Conforme o último boletim epidemiológico da SES-MG, o município registrou 1.189 notificações prováveis em 2020. Outros municípios da Zona da Mata integram a lista de incidência muito alta da doença, como Ubá, Visconde do Rio Branco, Rodeiro e Astolfo Dutra. As cidades registram 634, 325, 250 e 220 casos prováveis de dengue, respectivamente.

Em nota, a SES-MG informou que o Governo estadual tem tomado uma série de medidas para conter o avanço da dengue, destacando a elaboração dos planos de contingência estadual e municipais, com ações recomendadas para a prevenção e controle das doenças ocasionadas pelo Aedes aegypti. O Comitê Técnico Estadual de Enfrentamento das Arboviroses realiza encontros semanais para propor tais orientações, contemplando eixos de controle vetorial, vigilância epidemiológica/laboratorial, urgência e emergência e assistência farmacêutica. Além disso, conforme a pasta, o comitê se reúne, também, por meio de videoconferências com as Unidades de Referência Secundária (URSs) que apresentam municípios com incidência alta e muito alta da dengue, para tirar possíveis dúvidas e orientá-los quanto ao trabalho de controle da doença.

A secretaria ainda informou que realiza monitoramento dos indicadores municipais, além de ter lançado a uma campanha de enfrentamento à dengue, com o conceito “Quando você culpa o vizinho, o mosquito ganha terreno”, cujo objetivo é “mostrar que a responsabilidade de eliminar os focos do mosquito é de cada um”. Também está ocorrendo a distribuição de 3.550 equipamentos para controle vetorial do Aedes nos municípios do estado, a partir de um investimento de R$ 4,3 milhões, conforme a pasta. Os equipamentos são bombas costais motorizadas e manuais, além de termonebulizadores para aplicação de inseticidas.

“Além disso, a SES-MG iniciou a distribuição de medicamentos e insumos para tratamento de pacientes de acordo com o programado pelo plano de contingência. Há, ainda, a implantação de ovitrampas em todo o estado, que são armadilhas de ovos do mosquito Aedes aegypti que tem como objetivo detectar os índices de infestação do Aedes em cada região, durante todo o ano”, aponta o texto.

Em todo o estado, durante 2020, dois óbitos foram confirmados, nas cidades de Medina e Carneirinho, sendo que 17 permanecem em investigação. Destes, dois já estavam sendo investigados na Zona da Mata, em Além Paraíba e Muriaé. O novo boletim epidemiológico da SES-MG apontou que o município de Senador Firmino trouxe mais um óbito em investigação na região.

Tocantins monitora notificações

Desde que o aumento dos casos foi observado, a prefeitura de Tocantins reforçou o trabalho com carros fumacês e de vistoria dos agentes de epidemiologia. Estes, entretanto, estão empenhados nas ações preventivas do coronavírus. “Tivemos que desfocar, porque agora o maior temor, realmente, é o coronavírus. Mas continuamos com as orientações, continuamos sugerindo a população a não descuidar da necessidade de vigiarmos também o mosquito, que é um risco que não pode retornar”, explica o prefeito de Tocantins, Ieder Washington de Oliveira (PTB).

Conforme o chefe do Executivo, o número de notificações tem sido controlado. “Considerando que o município cumpriu os protocolos de enfrentamento da epidemia da dengue – acabamos de sair desse ciclo prolongado de combate -, nós acreditamos que essa volta da epidemia de dengue estaria superada, mas não quer dizer que não tenhamos que continuar vigilante, e estamos vigilantes.”

Chikungunya e zika

Em 2020, até o momento, Minas Gerais teve 646 notificações prováveis de chikungunya. Entre as cidades do estado, Pirapetinga lidera no número de casos, com 90 prováveis. Localizado na Zona da Mata, o município tem incidência muito alta para a doença. Com 25 notificações, Tocantins é a quarta cidade mineira com maior número de casos prováveis, com incidência média, enquanto Ubá é a quinta, também com 25 notificações, com baixa incidência. Já Juiz de Fora tem oito notificações, situação considerada também de baixa incidência.

Em relação à zika, até então, foram registrados 244 casos prováveis da doença no estado, sendo 26 em gestantes. Ubá é a segunda do estado com maior número de casos, com 28 notificações. Já Tocantins conta com 15 casos prováveis da doença. Ambos os municípios contam com uma notificação cada, e as pacientes seriam gestantes.

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