A invasão da Ucrânia pela Rússia, que teve início na madrugada desta quinta-feira (24) e já atingiu grandes proporções, é uma preocupação em nível mundial. Para os brasileiros que já viveram no Leste Europeu, além do temor pelas pessoas que ainda tentam deixar o país, há o medo também por amigos e familiares que vivem ou estão na região do conflito, já que as proporções de uma guerra entre os dois países podem ser avassaladoras.
É o caso do juiz-forano Henrique Ayres, que mora na Itália. À Tribuna, nesta quinta, ele disse que tem medo de o conflito se estender para outras ex-repúblicas soviéticas, como, por exemplo, os Países Bálticos. Uma de suas amigas que vive no Leste Europeu disse que nem conseguiu trabalhar e estudar nesta quinta. “Isso abala muito o psicológico de qualquer um, com toda a incerteza.”
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O mestrando morou de 2017 até 2018 na Rússia, quando foi fazer um intercâmbio pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) na cidade de Tomsk, na Sibéria, a 3.600 quilômetros de Moscou. Entre as memórias que guarda desse período estão o inverno de -40°C, as visitas aos pontos turísticos e os amigos. Essa é, justamente, uma das maiores preocupações dele com as consequências do ataque no momento.
De acordo com Henrique, ao conversar com os amigos, o sentimento que prevalece é o de medo, tristeza e desesperança, mesmo para aqueles que não estão na Rússia ou na Ucrânia. “Tenho amigos russos morando na Alemanha que estão com medo de a União Europeia fazer os países europeus suspenderem os vistos e terem que voltar para a Rússia. Tenho amigos que têm parentes e amigos perto da fronteira e estão temendo pela vida deles. Sentem vergonha também de o país deles estar envolvido nesse conflito e por não concordarem com o expansionismo”, comenta o estudante.
Para além das pessoas que conhece, Henrique lamenta também pelas vidas que podem ser perdidas na guerra. “Nenhum conflito é bom. É muito triste ver que pessoas dos dois lados vão acabar morrendo por causa de pressões do lado da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e da Rússia.”
‘Ideais russos ainda persistem’
Para o engenheiro elétrico Fabrício Lima, de 26 anos, o sentimento em um conflito bélico é sempre o pior possível, porque “mostra que todas as alternativas civilizadas e diplomáticas se encerraram, sendo a única e última alternativa, a guerra”. Fabrício também estudou na UFJF e realizou um intercâmbio na área de Engenharia de Energia e Potência na Universidade Politécnica de Tomsk, na Sibéria.
De agosto de 2019 a janeiro de 2020, quando viveu na Rússia, fez amizades não só com russos, mas também com diversas pessoas de países ex-membros da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), como Turcomenistão, Cazaquistão e Uzbequistão. “Ainda tenho contato com alguns colegas russos e de outros países próximos, como turcomenos, e espero que todos estejam bem”, torce.
Sobre as questões políticas, ele aponta que há russos que apoiam a atitude tomada pelo governo do presidente Vladimir Putin. “Os russos que conheci aprovam as intervenções russas, seguindo o argumento de que as regiões separatistas na Ucrânia são formadas em maioria por russos e, por isso, possuem o direito de serem assistidas pela Rússia. Assim também o fizeram na anexação da Crimeia. A sociedade russa é bem diversa, muitas pessoas mais jovens ou moradores de grandes cidades são menos alinhadas com o governo russo, mas os ideais destes ainda possuem grande apelo nas populações mais velhas e também conservadoras”, analisa Fabrício, com base na sua experiência.
O engenheiro ressalta que a antiga rivalidade entre a Otan e a Rússia é o que ocasionou o atual problema. “Espero que o conflito seja breve, que a soberania ucraniana seja mantida, e que os crescentes grupos neonazistas na Ucrânia não se proliferem em meio ao caos”, afirma.