As fortes chuvas que caem sobre Juiz de Fora nas últimas semanas trazem inquietações diversas. Com problemas crônicos de drenagens, alagamentos e enchentes são comuns e recorrentes em vários pontos da cidade. Mais do que isso, as precipitações também contribuem para deslizamentos de terra, por conta do encharcamento do solo. Esta é uma ameaça real para 50.336 pessoas que vivem em 80 áreas de risco espalhadas por todas as regiões do município, conforme dados disponíveis no painel do Serviço Geológico do Brasil, vinculado ao Ministério de Minas e Energia.
Segundo as informações constantes do painel, essas 80 áreas de risco se dividem da seguinte forma: 59 delas estão classificadas na faixa laranja como “áreas de risco alto”; enquanto em outras 21 localidades são categorizadas na faixa vermelha como “áreas de risco muito alto”. Em todos estes 21 pontos mais graves e de maior preocupação, a possibilidade de deslizamentos de terra coloca em risco um total de 7.184, que vivem nestas localidades.
As 21 áreas classificadas como de risco muito alto se dividem em 16 bairros. Três estão em Nova Benfica, duas estão no Linhares e outras duas no Santos Anjos. Já os bairros Bandeirantes, Benfica, Granjas Betânia, Jardim de Alá, Nova Era, Parque Independência, Ponte Preta, Santa Cruz, Santa Luzia, Teixeiras, Vila Ideal, Vila Olavo Costa e Vitorino Braga registram um ponto na faixa vermelha e que gera maior preocupação com risco de deslizamentos de terra.
O painel também relaciona o número de pessoas em risco por cada uma das 80 áreas mapeadas em Juiz de Fora. Dois pontos se destacam entre aqueles que são categorizados como área de risco muito alto. No caso, tanto a Rua José Orozimbo de Oliveira, no Bairro Santa Luzia, como a Rua João Moreira da Rocha, no Teixeiras, tem cerca de mil pessoas vivendo em locais que convivem com a ameaça de deslizamento de terras.
Defesa Civil faz monitoramento constate destes locais
Em nota, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) afirmou que a Defesa Civil realiza monitoramento constante nas áreas de risco. “Nos últimos dois anos, já foram mais de 1.300 vistorias preventivas realizadas”, pontua o Município. Ainda de acordo com a PJF, o monitoramento é realizado in loco, através de vistorias conjuntas com o Corpo de Bombeiros. Nestes procedimentos são identificadas e encaminhadas as ações necessárias “para promover medidas de redução de risco como colocação de leira, instalação de lona, vedação de trincas e promover direcionamento correto de águas pluviais”, diz a Prefeitura.
“Entre as principais orientações para quem mora em área de risco, estão: não direcionar as águas pluviais para encostas; não realizar o plantio de árvores que retém águas nas raízes como, por exemplo, bananeiras; não realizar descarte de lixo nas encostas; e não realizar movimento de solo sem acompanhamento de profissional habilitado”, alerta a PJF.
Intervenções em alguns locais já estão em andamento
Sobre as intervenções necessárias, a Prefeitura de Juiz de Fora afirmou na nota que já possui projetos prontos em vários destes locais. “Com relação às obras de contenção no Vitorino Braga, já há recursos para a licitação das obras e, neste momento, está sendo elaborado o projeto. Na rua São José e José Orozimbo, em Santa Luzia, já há recursos disponíveis para a obra, e aguardam licitação”, afirma o Município.
“As obras de contenção nos bairros Grajaú, Santa Luzia, Santa Rita, Costa Carvalho e Parque Independência já foram iniciadas. Neste momento, elas passam por atualização das planilhas de custo junto à Caixa Econômica Federal. Já os projetos do bairro Linhares estão sendo executados pelas empresas que venceram as licitações. Após esse período, será iniciado o processo para a realização das obras”, reforça o Município. A PJF afirma ainda que, “quanto aos outros locais, a Prefeitura está realizando um estudo para detalhar quais são as intervenções necessárias em cada área”.
Brasil tem quase quatro milhões de pessoas vivendo sob ameaça
O painel do Serviço Geológico do Brasil mapeou áreas de risco em todo o país, onde cerca de 3,9 milhões de pessoas vivem em 13.297 em território considerados vulneráveis. Quatro mil localidades são classificadas como de “risco muito alto”, em que os moradores convivem com ameaças como deslizamentos e inundações. Outros 9.291 pontos são classificados como “áreas de risco alto”. Segundo os dados, Minas Gerais está entre os estados mais impactados, ao lado de Santa Catarina, Espírito Santo e São Paulo. Nas cidades mineiras alvos do mapeamento, foram apontadas 2.679 áreas de risco, sendo que 578.753 pessoas vivem nestes pontos. Entre estes locais identificados, 2.052 estão classificados como de “risco alto” e 627 como de “risco muito alto”.
“Esses estados têm grande parte do relevo caracterizado por áreas bastante montanhosas, os municípios estão parcialmente assentados sobre terrenos inclinados, morros e regiões serranas e naturalmente são áreas sujeitas a processos de instabilização de encostas – os deslizamentos. Além disso, são estados que têm (áreas) hidrográficas consideráveis, com rios bastante importantes e grandes terrenos ocupados nas margens desses rios, o que sujeita a população a sofrer com os eventos de inundação”, afirma o coordenador executivo do Programa de Cartografia de Áreas de Risco Geológico, Julio Lana, geólogo pesquisador do Serviço Geológico (SGB), conforme publicado pela Agência Brasil.
Lana aponta, ainda, outro fator que pode ter contribuído para que os estados de Minas Gerais, Santa Catarina, Espírito Santo e São Paulo apresentarem o maior número de pontos de riscos. Segundo ele o mapeamento feito pelo SGB envolve mais municípios nesses quatro estados. “Esse trabalho contemplou cerca de 1,6 mil municípios no Brasil. Não são todos os municípios brasileiros que foram contemplados. E, dentre os estados que têm maior número de cidades mapeadas, estão justamente Santa Catarina, Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo. É interessante destacar que eles têm o maior número de áreas de risco e consequente população nessas áreas justamente porque têm o maior total de cidades mapeadas em comparação com outros estados.”