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Novembro Azul: Mais de 8 mil tratam câncer de próstata pelo SUS anualmente em JF

câncer de próstata
câncer de próstata
Cirurgia robótica diminui os efeitos colaterais do tratamento do câncer de próstata, como a incontinência urinária e a disfunção sexual (Foto: Arquivo Monte Sinai)
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“No último ano, foram diagnosticados no Brasil mais de 71 mil novos casos de câncer de próstata. E a diferença entre aquele paciente que terá uma boa evolução e uma evolução desfavorável é o diagnóstico precoce dessa doença.” O alerta é do médico urologista Antônio Carlos Tonelli Toledo. Dados da Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) revelam que, em média, mais de oito mil homens passam por tratamentos relacionados ao câncer de próstata pelo SUS anualmente no município, que é referência para cerca de 1,5 milhão de habitantes de 94 cidades. Foram 8.179 procedimentos em 2023 e 8.235 em 2024, enquanto até agosto deste ano já foram contabilizados 6.053. Nesta terceira reportagem da série sobre a campanha Novembro Azul, a Tribuna reuniu estatísticas e conversou com o especialista sobre as formas de tratar esse câncer, considerado o mais incidente na população masculina, depois dos tumores de pele não melanoma, e também o segundo tipo que mais mata homens no país (atrás do de pulmão).

Chamando a atenção para a necessidade do rastreio para detecção precoce da doença, que costuma ser silenciosa no começo, o médico aponta que, em fases mais iniciais, o urologista propicia ao paciente um tratamento curativo e com menos efeitos colaterais. “O câncer de próstata é responsável por alta morbimortalidade na população masculina. E temos que lembrar que o seu tratamento depende diretamente da fase em que se encontra a doença no diagnóstico.” O Ministério da Saúde calcula que, somente em 2021, mais de 16 mil brasileiros perderam a vida em decorrência dessa enfermidade.

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A média de 44 mortes por dia reforça a importância da conscientização promovida neste Novembro Azul. A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) prevê que o homem deve começar a realizar os exames específicos aos 45 anos, se houver fator de risco, como histórico familiar e tabagismo, ou aos 50. A porta de entrada para as consultas na rede SUS são as Unidade Básicas de Saúde (UBSs), que deverão direcionar os usuários para a marcação de consulta. “O médico especialista vai avaliar a história miccional e sexual, o PSA (Antígeno Prostático Específico) e vai fazer o exame físico da próstata desse paciente. Tudo isso visando o diagnóstico mais precoce possível. No caso da presença de um câncer, esse diagnóstico precoce é o que fará a maior diferença na escolha do tratamento”, reforça.

Cirurgia robótica e o câncer de próstata

Prostatectomia radical robótica já existe no SUS para tratar câncer de próstata. mas ainda não é realidade em JF (Foto: Arquivo Monte Sinai)

De acordo com o urologista Antônio Carlos Toledo, nas fases iniciais, a cirurgia robótica é o melhor tratamento realizado no mundo atualmente. “Essa cirurgia consegue preservar os nervos que passam ao lado da próstata, com adequado controle oncológico, diminuindo os efeitos colaterais (como a incontinência urinária e a disfunção sexual) ocasionados pelo tratamento cirúrgico.”

Em Juiz de Fora, há a plataforma robótica DaVinci no Hospital Monte Sinai. “É a única que existe na nossa região e a que propicia melhor tratamento para o câncer de próstata localizado, com melhor preservação do feixe neurovascular, melhor controle oncológico para o paciente e recuperação mais rápida, com menos dor e retorno mais precoce às atividades laborativas e sociais.”

Segundo o médico, a plataforma robótica surgiu no final da década de 1990, “como alternativa para espaços de difícil acesso” e foi sendo aperfeiçoada, permitindo uma visualização muito melhor e uma dissecção mais adequada e detalhada de várias estruturas anatômicas. “Conseguimos uma destreza hoje maior até do que nas cirurgias abertas para determinados procedimentos, dentre eles, principalmente, a prostatectomia radical (remoção total da próstata).”

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Conforme o especialista, nos Estados Unidos, mais de 90% das prostatectomias já são feitas via robótica. “O braço robótico consegue fazer movimentos até mais amplos do que os do punho humano, e a óptica dupla permite noção de profundidade, uma visão 3D de onde estamos operando. Conseguimos avaliar a vascularização dessa próstata e fazer uma dissecção mais precisa.”

O câncer de próstata ainda pode ser tratado com bloqueio hormonal e radioterapia, “mas não antes da cirurgia”, conforme o urologista. “Esses procedimentos têm papel fundamental no caso de recidiva da doença, daquele paciente que tem um alto risco para fazer a cirurgia ou no caso de uma lesão metastática, quando a doença já não está mais restrita à próstata.”

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Ainda de acordo com o especialista, o Ministério da Saúde já colocou a prostatectomia radical robótica no SUS. “Ainda não está presente em todos os hospitais públicos, mas já está previsto, e talvez isso seja um primeiro grande passo. Creio que em pouco tempo vai entrar no rol da ANS (Agência Nacional de Saúde) e ampliar muito a cobertura pelos convênios de saúde também. Não vai ficar só restrita a ter uma autorização para ser feita pelo SUS.”

Em Juiz de Fora, entretanto, ainda não é uma realidade na rede pública. “Ainda são muito poucos hospitais que fazem robótica pelo SUS, pelo alto preço das pinças, da manutenção do robô e dos materiais utilizados. Mas a tendência é que, com o passar dos anos e com a avançada tecnologia, isso vai ficando mais barato e mais acessível para a população.” Segundo ele, portanto, os planos de saúde também são restritos em relação à técnica: “Autorizam só parte do procedimento, e o paciente tem que pagar uma complementação para fazer a cirurgia robótica.”

Minas tem mais de 1,8 mil óbitos ligados ao câncer de próstata

Dados da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) reforçam a necessidade de prevenção e diagnóstico precoce do câncer de próstata. Só em 2024, foram contabilizados 1.833 óbitos por câncer de próstata, enquanto em 2023 houve 1.823 casos fatais. A tendência é de queda em 2025, já que houve 1.262 óbitos até outubro, uma redução de 31,1% em relação ao ano anterior.

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Conforme o Estado, foram 7.610 diagnósticos de câncer de próstata em 2023 e 6.728 em 2024, o que representa uma redução de 11,6%. “Os dados parciais, até agosto, indicam 2.350 diagnósticos, correspondendo a uma queda de 65,1% em relação ao mesmo período de 2024.”

A SES garante manter campanhas permanentes de conscientização, com destaque para o Novembro Azul, por meio de mobilizações municipais, materiais educativos e reforço da busca ativa de homens que ainda não realizaram os exames de rotina. De acordo com a pasta, o SUS garante atendimento integral aos pacientes, com consultas, exames, cirurgias e tratamentos especializados. “A investigação do câncer de próstata começa pela atenção primária, nas UBSs. Se houver suspeita, o paciente é encaminhado a um especialista em urologia ou oncologia, onde exames complementares serão realizados.”

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