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Megaoperação combate lavagem do tráfico e pede bloqueio de R$ 3,5 bilhões

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Operação das polícias Civil e Militar movimentaram cerca de 450 policiais (Foto: Contribuição de leitor)
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Mais de 30 pessoas, com idades entre 20 e 40 anos, foram presas durante uma megaoperação deflagrada pela Polícia Civil, com apoio das polícias Militar e Penal, nesta quarta-feira (23), para combater uma organização criminosa ligada ao tráfico de drogas, receptação de veículos furtados/roubados e lavagem de dinheiro, com base nos bairros Vila Ideal e Olavo Costa, na Zona Sudeste de Juiz de Fora, e braços na capital do Rio de Janeiro, no Espírito Santo e em São Paulo. O objetivo principal da manobra foi descapitalizar o grupo, por meio do pedido de bloqueio de R$ 3,5 bilhões que seriam movimentados pelos investigados em várias contas do país.

Pelo menos 29 suspeitos foram presos só em Juiz de Fora, entre eles um empresário, proprietário de casa de carnes, enquanto um segundo, dono de pizzaria, é considerado foragido. Ao todo, 21 empresas dos ramos de alimentação, distribuição de bebidas e de produção de eventos estariam sendo usadas no município para lavar o dinheiro do tráfico, inclusive uma instalada no Bairro Alto dos Passos, Zona Sul. Também foi preso um envolvido em Lima Duarte (MG) e outro em Divinópolis (MG). Outro artifício para “limpar” o lucro das drogas era a aquisição de cavalos de raça, como mangalarga marchador, e 30 mandados para apreender animais do tipo, avaliados em R$ 1 milhão, foram solicitados para a ação, que mobilizou cerca de 450 policiais. A Justiça ainda decretou o sequestro de 14 imóveis ligados à quadrilha e de 49 veículos.

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Os policiais saíram por volta das 6h às ruas para cumprirem 47 mandados de prisão e 116 de busca e apreensão. Em Juiz de Fora, além de investigados da Zona Sudeste, houve alvos em bairros como Granbery e Santa Helena, na região Central, e no Democrata, Zona Nordeste. A investigação começou há cerca de dois anos com foco em rastrear o dinheiro da organização criminosa, que também estaria envolvida em vários homicídios. Cerca de uma tonelada de maconha e cocaína foi apreendida no curso das apurações. Nesta data, além de armas e entorpecentes, foram apreendidos R$ 29 mil em espécie.

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“Essa operação mostra uma resposta das forças de segurança ao avanço do crime organizado na Zona da Mata e região”, pontuou o chefe do 4º Departamento de Polícia Civil, delegado-geral Eurico da Cunha Neto, destacando ter sido esta a maior investida dos últimos 20 anos contra o crime na região. “Desde agosto do ano passado temos acompanhado essa rivalidade (entre a facção de origem carioca que já atuava na cidade e a outra, com raízes no estado de São Paulo, que teria chegado mais recentemente). Nos unimos com as demais forças de segurança pública, levantamos informações e fizemos a ocupação das comunidades para evitar que aconteçam novos homicídios, até que se avancem as investigações”, complementou o comandante da 4ª Região da PM, coronel Marco Aurélio Zancanela do Carmo, citando a mobilização de 144 militares.

Vínculo permanente com criminosos do Rio de Janeiro

A megaoperação policial desta quarta-feira (23) foi batizada de Sepulcro Caiado, em referência a uma expressão bíblica sobre uma coisa que é bela por fora, mas “podre” por dentro. “Faz alusão aos bens e ao modo de vida adotado pelos investigados. Eles acabam ostentando um padrão de vida muito alto, incompatível com a capacidade financeira deles. Mas, na verdade, isso é fruto do tráfico de drogas, às custas da saúde pública, porque tem todo um pano de fundo de homicídios e de famílias sofrendo por envolvimento de parentes no mundo das drogas”, destacou o coordenador do Laboratório de Tecnologia contra Lavagem de Dinheiro do 4º Departamento de Polícia Civil em Juiz de Fora e responsável pelas investigações, Rômulo Segantini.

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O delegado reforçou que as 21 empresas investigadas por lavagem de dinheiro do tráfico tiveram suas contas bloqueadas, inclusive uma instalada em Cariacica, no Espírito Santo. Algumas dessas, como lanchonetes e restaurantes, já existiam, enquanto outras foram criadas especificamente para essa finalidade. “Pelo volume do dinheiro em espécie do tráfico e dificuldade em armazená-lo, os criminosos acabam utilizando diversos meios para justificar o patrimônio que ostentam, como a criação de pessoas jurídicas. Acabam dissimulando a origem desse dinheiro, utilizando inclusive de laranjas.”

Sobre os cavalos de raça, Segantini contou que os animais seriam adquiridos pelo líder da organização criminosa. “Fizemos um trabalho robusto para combater essas organizações criminosas, sobretudo aquelas que, ao longo dos anos, vem amealhando patrimônio considerável, para manter o narcotráfico em plena atividade em Juiz de Fora.”

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Além de combater o tráfico de drogas na cidade, sobretudo na região dos bairros Vila Ideal, Olavo Costa e Furtado de Menezes, foi enfrentado o tráfico interestadual. “Os investigados mantinham vínculo permanente com criminosos do Rio de Janeiro”, destacou o delegado, citando ainda a receptação de veículos roubados naquele estado, usados até para o transporte de entorpecentes. Um dos mandados de prisão foi expedido contra morador de São Paulo. “Estamos apurando se esses investigados são de fato integrantes de grandes facções criminosas.”

A investigação apontou que o Vila Ideal concentrou a maior movimentação do tráfico entre os anos de 2015 e 2022 no município, só perdendo para o Centro devido à população flutuante e ao constante patrulhamento. Mas um fator chamou mais a atenção. “Começou a acontecer em Juiz de Fora cenário semelhante ao que a gente percebe no Rio de Janeiro: organizações criminosas utilizando de terceiras pessoas para conseguir autorização do poder público para realizar eventos. Tivemos um evento em Juiz de Fora que, de acordo com a investigação, ao que tudo indica, foi patrocinado pelo tráfico de drogas”, revelou o coordenador do Laboratório de Tecnologia contra Lavagem de Dinheiro.

Entre os presos estão quatro mulheres, e pelo menos três pessoas foram autuadas em flagrante. Os investigados vão responder por integrar organização criminosa direcionada à prática do tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, receptação de veículos roubados e outros delitos ainda em apuração, porque as investigações continuam, e novos suspeitos podem ser identificados.

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