No último final de semana, a morte de uma jovem de 18 anos após uma cirurgia do siso teve enorme repercussão entre os internautas. Quando o fato ocorreu, em abril deste ano, a jovem chegou a ser internada, mas teve uma parada cardíaca devido à infecção que teve. O caso aconteceu em Porto Feliz, no interior de São Paulo, mas chamou a atenção de diversas pessoas para os riscos e os cuidados que essa operação envolve, fazendo até com que diversas pessoas passassem a temer a operação. Por isso, a Tribuna conversou com dois especialistas para saber mais sobre a cirurgia e todo o preparo necessário antes de se submeter ao procedimento.
A cirurgia do siso é bastante comum, mas não se trata de um procedimento simples. De acordo com Isabella Francisquini, cirurgiã-dentista, essa operação pode apresentar riscos maiores ou menores de acordo com graus de dificuldade variados. Ela ressalta que os sisos possuem algumas peculiaridades que devem ser consideradas, principalmente relacionadas ao posicionamento e à ocorrência ou não de pericoronarite, que é a inflamação e a infecção da região na erupção do siso, podendo causar pus, mau hálito, inchaço e dor no indivíduo. “Essa cirurgia envolve diversas técnicas, devendo o cirurgião-dentista optar por aquela mais indicada em cada caso”, explica.
Isabella cita ainda que, geralmente, a operação é indicada no caso de dor; pericoronarite; quando os dentes estão semi-inclusos com risco de formação de cárie neles ou nos dentes adjacentes; quando estão desalinhados, fazendo com que machuquem a mucosa da bochecha durante a mastigação; quanto estão inclusos ou impactados e não erupcionam; quando há risco de prejudicar a oclusão dental ou quando há reabsorção da raiz do dente vizinho.
Os riscos da cirurgia do siso, como esclarece, incluem as possibilidades de sangramentos, parestesias (perda da sensibilidade), comunicação buco sinusal e infecções. Por isso, Isabella ressalta que sempre devem ser pedidos exames de imagem, radiografia periapical, panorâmica e até mesmo tomografia odontológica, para que seja possível visualizar a posição do dente e a sua relação com as estruturas anatômicas importantes antes da cirurgia do siso. “Alguns exames de sangue também podem ser pedidos, como por exemplo, hemograma, glicose e coagulograma, principalmente em casos de pacientes com comorbidades e/ou histórico de hemorragia. O risco cirúrgico também pode ser solicitado ao médico em casos de comorbidades e/ou pacientes polifarmácia”, explica.
Outra medida apontada pelo cirurgião dentista Vanderson Beligoli é que, antes de qualquer procedimento, seja feita uma “anamnese bem feita”, na qual devem ser abordados diversos aspectos sobre a vida do paciente. Entre os dados, é preciso questionar sobre o uso de medicamentos; se há alguma comorbidade (como diabetes ou hipertensão); se o paciente é ansioso; como são os hábitos alimentares; se o paciente fuma ou mesmo se é ativo. “O paciente deve ser honesto e não pode mentir para o cirurgião dentista ou omitir nenhuma informação que é perguntada nesse pré-operatório”, ressalta. De acordo com ele, no entanto, o caso de Isadora Belon Albanese não deve ser tratado como apenas uma exceção, mas um problema que pode ocorrer quando não se toma todos os cuidados cabíveis. “Os indivíduos não precisam ter medo de fazer a cirurgia, é só procurar um profissional apto e capacitado para fazer a operação, porque não são todos os dentistas que fazem cirurgias de siso complexas”, esclarece. Isabella ressalta ainda que os índices de morte por exodontias são extremamente baixos.
Problemas trazem impactos para a saúde
De acordo com o especialista, mesmo com os receios cabíveis em qualquer operação, é importante ressaltar que problemas dentários podem trazer prejuízos sérios à saúde dos indivíduos. “Principalmente os problemas periodontais, que acometem as gengivas e os tecidos de sustentação dos dentes. Por isso, as pessoas precisam ir ao dentista de seis em seis meses, fazer um check-up, uma manutenção do sorriso ou uma terapia periodontal, para que isso seja controlado e todo problema seja visto com antecedência, para não virar um transtorno maior no futuro”, afirma Beligoli.
Da mesma forma, Isabella esclarece que qualquer foco de infecção nos dentes pode causar problemas na saúde em geral. “A região de cabeça e pescoço é extremamente irrigada, possuindo muitos vasos sanguíneos que podem carregar as infecções da boca para outras partes do corpo, como pescoço, coração e cérebro”, alerta.