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Psicólogo de JF é denunciado por abuso sexual a paciente durante terapia

casa da mulher fernando priamo

Pesquisas mostram agravamento das investidas físicas e psicológicas promovidas por homens contra suas companheiras (Foto: Fernando Priamo)

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Uma jovem, de 22 anos, procurou a Polícia Civil de Juiz de Fora para denunciar um profissional de psicologia por abuso sexual. Segundo a vítima, os abusos teriam começado quando ela ainda era uma criança e fazia terapia com o psicólogo, que era conhecido dos pais dela. De acordo com a advogada da jovem, pelo menos outras cinco pacientes teriam passado pela mesma situação. O caso foi denunciado à Polícia Civil em julho do ano passado, e o temor é que a demora para a conclusão do inquérito possa contribuir para o desaparecimento de provas e para o surgimento de mais pacientes abusadas.

Conforme a advogada Gabriela Rigueira, que representa a jovem, são mulheres que, de alguma forma, sofreram algum tipo de relação abusiva envolvendo o suspeito, mas nem todas ainda falaram no inquérito. “Essa denúncia foi realizada à Polícia Civil, no ano passado, e, até então, o caso está parado. Esperamos que venha a público para que possíveis outras mulheres, que tenham sido vítimas, também possam se sentir encorajadas a procurar a polícia”, ressalta a advogada, acrescentando que a situação também já foi encaminhada para o Conselho Regional de Psicologia, a fim de que providências sejam tomadas. Nesta sexta-feira (23), o órgão informou que “a denúncia foi recebida pela Comissão de Ética, no dia 26 de março, e, desde então, já segue em trâmite dos processos éticos e atenção do conselho, bem como o sigilo para devidas apurações”.

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“Minha cliente teria sido paciente desse profissional desde criança, quando tinha entre 8 e 9 anos de idade, e, conforme foram passando os anos, e ela ficando mais velha, os abusos foram ficando mais constantes e mais intensos”, afirma Gabriela. Segundo ela, o modo de ação do suspeito não é violento. “Mas algo que demonstra que esse profissional se utiliza dos seus conhecimentos sobre o emocional fragilizado da vítima, das patologias psicológicas que ela apresenta. Por fazer uso de metodologias alternativas, como dinâmicas, acupuntura e massagens, que são dinâmicas que envolvem uma aproximação maior com as pacientes, ele acaba utilizando isso para facilitar ou fazer parecer que esse contato faz parte da terapia.”

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Como aponta Gabriela, sua cliente demorou muito tempo para falar sobre o abuso. “Ela foi paciente dele até por volta dos 17 anos, quando começou a perceber que o que acontecia era algo fora do normal. Depois que ela recorreu a outros profissionais da área, percebeu como, de fato, funcionava uma terapia, o que foi fundamental para ela ter coragem de denunciar, porque os abusos aconteciam na hora da consulta, no consultório dele”, afirma a advogada. “Nosso temor é que essa demora na investigação possa contribuir para uma queima de arquivos e produção de novas vítimas, porque esse profissional ainda está exercendo sua profissão.”

O boletim de ocorrência sobre o caso, que a Tribuna teve acesso, narra que a jovem compareceu à Delegacia de Polícia Civil, em dia 27 de julho de 2020, para denunciar a situação sofrida por ela. De acordo com o documento, a denunciante afirma que sofreu abusos sexuais por parte do psicólogo e que esses abusos aconteceram durante o período em que fazia acompanhamento psicológico com o suspeito, no consultório dele.

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“A pior sequela é a culpa”

Por telefone, a jovem conversou com a reportagem e contou que, por volta dos 18 ou dos 19 anos, essa situação começou a incomodá-la, o que a levou a quebrar o silêncio. “Comecei a fazer terapia com outro profissional e passei a entender como funcionava de fato o tratamento, percebendo que aquilo que tinha passado por cerca de oito anos não era normal”, disse, lembrando que tinha medo de contar ao novo profissional, com quem começou a se tratar, o que já tinha acontecido com ela quando era paciente do suspeito.

“Ele (o denunciado) dizia que eu não podia contar isso para ninguém, porque, se as pessoas soubessem, a vida dele iria acabar. E eu me sentia culpada, porque não queria ter essa responsabilidade, que ele colocava sobre mim.”

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Segundo a vítima, os abusos afetaram a vida dela de diversas formas. “Conversando com outras vítimas, percebi que a pior sequela é a culpa, porque ele é manipulador. A gente acha que tem autonomia, mas é um engano, porque ele exerce um poder sobre nós, levando-nos a essa culpa. Ele é alguém que usa da sua profissão para cometer abusos de poder.”

Ainda conforme a jovem, saber que estava sendo ludibriada ao longo de anos de terapia a deixa indignada. “Eu tinha um quadro de depressão infantil quando comecei a me tratar com ele e minha terapia não surtia efeito. Quando procurei outros profissionais, senti uma melhora que nunca tinha sentido anteriormente.”

Ao resolver denunciar, além de justiça, a vítima espera que seu caso sirva de exemplo para outras pessoas, já que esse tipo de crime, alega, muitas vezes, fica encoberto. “É um crime muito subjetivo, porque envolve pessoas que depositamos nossa confiança. Além disso, há sempre uma sombra de dúvida que paira sobre a mulher. Então, é preciso que se desenhe um novo cenário de como os estupros ocorrem, colocando-os em evidência, a fim de quebrar essa cultura do silêncio”, ressalta.

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Polícia Civil diz que caso continua em apuração

Procurada, a Polícia Civil informou à Tribuna que o caso continua em apuração pela nova delegada titular da Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam), Alessandra Aparecida Azalim. Ainda segundo a Polícia Civil, foram ouvidas algumas pessoas envolvidas no caso e algumas diligências serão realizadas. O órgão informou, ainda, que está prestando todo atendimento necessário para concluir o inquérito.

O jornal questionou à Polícia Civil se o psicólogo suspeito de abuso sexual já teria sido ouvido, ao longo do inquérito, ou se já havia data prevista para que seu depoimento fosse colhido, mas essas perguntas não foram respondidas.

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