Os esforços para aumentar o número de leitos disponíveis para atuar no tratamento de pacientes com Covid-19 inclui a contratação de equipes multiprofissionais. Ocorre, no entanto, uma escassez de profissionais para ocupar as vagas disponíveis. De acordo com a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), desde o início da pandemia, foram realizadas mais de 1.700 convocações de profissionais da saúde para trabalhar na linha de frente de enfrentamento à doença. Desse total, apenas 101 vagas foram preenchidas. Em 2021, até o momento, mesmo com vários chamamentos, apenas oito profissionais firmaram contrato.
A falta desses profissionais traz dificuldades para a ampliação da capacidade de atendimentos. No momento, há um edital em aberto pelo município, para a convocação de 44 médicos clínicos gerais. Ainda conforme a Prefeitura, o quantitativo de desistências conta com 86 contratos em que o profissional desistiu da vaga após o início das atividades.
O Município explica que, além das chamadas através da lista de aprovados em concurso público, foram abertos outros sete editais para suprir as vagas. Entre os vários cargos, estão auxiliares de enfermagem, enfermeiros, médicos clínicos gerais, médicos saúde da família e comunidade, psiquiatras, farmacêuticos e psicólogos”.
A subsecretária de Urgência e Emergência, Renata Prado, explica que a dificuldade não é exclusiva de Juiz de Fora e atinge a todo o país. “A Prefeitura hoje vem imprimindo esforços incansáveis na tentativa de, realmente, contratar esses profissionais. Estamos chamando a comunidade médica, fisioterapeutas, enfermeiros, entre outros para realmente conseguirmos suprir essas vagas.” O que acontece, segundo Renata, é que, se por um lado, há pouca disponibilidade de profissionais, por outro, os que estão empenhados no tratamento da doença estão exaustos.
Renata explica que há ações em dois sentidos: para ampliação dos leitos e para recomposição das equipes, que são coisas diferentes, mas complementares. A ampliação dos leitos, segundo a subsecretária, está ligada diretamente à expansão do quadro de profissional. A abertura de leitos pode até ser associada a equipamentos e ao espaço físico, mas o que é mais preponderante para que ocorra, no entanto, é o recurso humano que operacionaliza todo o atendimento.
A dificuldade, segundo a subsecretária é na busca. “Precisamos ter contratações para podermos abrir novas equipes de atendimento. Sanar o déficit ou recomposição de escala é outra história. Nesse momento, trabalhamos com as duas coisas. Tentamos equacionar e regularizar a questão de escala e tentamos contratar para expandir o número de leitos. Isso ocorre concomitantemente.”
Médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, fisioterapeutas e psicólogos estão ligados diretamente a essa atenção, a equipe multiprofissional geral. “Hoje a gente tem tido uma dificuldade grande com os médicos, com os enfermeiros, auxiliares de enfermagem e técnicos e fisioterapeutas. A sobrecarga acontece nesses cargos”, salienta Renata Prado.
A subsecretária salienta que é preciso que todos estejam cientes sobre as responsabilidades individuais e adotem todos os procedimentos necessários. “A gestão municipal imprime todos os esforços para que a cidade não sofra com a desassistência. Mas a população precisa ajudar. É importante que as restrições do momento sejam acatadas. Precisamos que a população não aglomere, use máscara, saia de casa somente se estritamente necessário. Use o álcool e esteja sempre com as mãos limpas. Os esforços precisa ser coletivo.”
Dificuldade no Estado
Segundo levantamento divulgado pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), dos 74 chamamentos feitos pela Fhemig para a contratação de médicos, em 14 os profissionais não se apresentaram. Há também, segundo a Fhemig, um esforço do Estado para adaptar hospitais da rede para ampliar leitos. Em Juiz de Fora, no momento, há um edital de chamamento emergencial em aberto pela Fundação, para a contratação de quatro médicos generalistas e cinco médicos especialistas para o Hospital Regional João Penido (HRJP).
Com o encerramento das inscrições na última terça-feira (16), começaram as etapas de validação e contratação dos candidatos. Após esse procedimento será possível avaliar melhor a falta de profissionais na unidade. Por meio de nota, a Fhemig informou que o “HRJP pode ampliar mais leitos para oferta à população, mas precisa de ter equipes completas para isso. O número de profissionais atual consegue manter os leitos existentes, com remanejamentos internos e plantões estratégicos.”
A Fhemig reforçou que, embora tenha estrutura para ampliar os leitos de UTI e de enfermaria em Minas, há dificuldades para encontrar profissionais para preencher as vagas. Na coletiva que realizou no início da semana para anunciar a onda roxa em todo o estado e evitar o colapso do sistema, o governador Romeu Zema (Novo) destacou que há ações para garantir o atendimento.
No Estado, os leitos de UTI passaram de dois mil para quatro mil nos últimos 12 meses. Leitos de Enfermaria, que antes eram de dez mil, saltaram para 20 mil unidades. O governador explicou que o Estado tem estrutura para ampliar ainda mais o atendimento, mas a falta de profissionais disponíveis dificulta a expansão.
Dificuldade de encontrar profissional qualificado
Nas UTIs, conforme destacou Zema, a dificuldade é, principalmente, para encontrar profissionais aptos a atender os casos graves e coordenar as equipes dessas unidades. “Para trabalhar em UTI, é necessária qualificação adequada do profissional. Estudantes de Medicina podem colaborar, mas estar dentro de uma UTI é um trabalho hiper especializado e uma intubação mal feita pode condenar à morte um paciente”, disse o governador.
Já o secretário de Estado de Saúde, Fábio Bacchetti, ressaltou que o processo de abertura de um leito de UTI demanda não só uma série de equipamentos, mas também médicos especializados e insumos que, segundo ele, foram disponibilizados ao longo do último ano. Ele pontou que há um esgotamento nos recursos humanos.
“Não existe sistema de Saúde no mundo que consiga acompanhar isso. Toda a expansão que o Estado fez foi aliviando a pressão até agora, mas chegamos ao nosso limite. Temos espaço físico, mas não temos o profissional. O papel da sociedade é fundamental para que a gente alivie esses números”, explicou.