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Agressão e roubo a professora levantam polêmica sobre insegurança no Campus da UFJF

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Atualizada às 20h58

Alunos se reuniram no campus para organizar mobilização e chamar atenção para assédios (Foto: Leonardo Costa/23-02-16)

Estudantes da UFJF se mobilizaram nesta terça-feira (23) diante da tentativa de roubo e agressão sofridos por uma professora na Faculdade de Engenharia no Campus da UFJF, quando um adolescente de 17 anos rendeu a docente, armado com duas facas. O modo como ocorreu o crime levantou a possibilidade de o suspeito ter a intenção de estuprar a mulher, já que, mesmo após roubar sua bolsa, ele insistiu em levá-la para um local ermo. Diante da falta de provas em relação ao suposto estupro, o adolescente teve o flagrante confirmado por tentativa de roubo, porém, as investigações da Polícia Civil continuam para esclarecer a possível intenção do autor em estuprar a vítima. Após o fato, os alunos pretendem cobrar uma ação da universidade diante da situação e também pelas correntes denúncias de assédio e opressões que movimentos afirmam que vêm recebendo. Uma manifestação em frente à Reitoria da universidade está prevista para sexta-feira (26), às 10h, quando irão reivindicar ações imediatas da instituição. Além disso, uma reunião entre os alunos e a UFJF está prevista para a manhã de segunda-feira para discutir o assunto.

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De acordo com o boletim de ocorrência, a professora disse que, por volta das 8h, já estava no interior do prédio da Faculdade de Engenharia e, ao chegar no Departamento de Engenharia Ambiental e Sanitária e fechar a porta, foi surpreendida pelo jovem. Segundo o relato da mulher aos policiais, ele forçou sua entrada e agarrou sua bolsa. A professora caiu no chão, com metade do corpo para o corredor e o restante dentro da sala. Ela ainda foi puxada pelas pernas, mas conseguiu se segurar nas guarnições da porta e iniciou luta corporal com o infrator. Neste momento, sua calça teria sido parcialmente arrancada.

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[Relaciondas_post]  Enquanto tentava se desvencilhar, a mulher gritava por socorro, até que alunos escutaram seus gritos, chegaram ao local e dominaram o ladrão. Em seguida, compareceu a equipe de vigilantes. O suspeito foi detido e levado para a sala da segurança, onde foi aguardada a chegada da PM. Ele foi preso e levado para a Polícia Federal, de onde foi encaminhado para a Polícia Civil. A professora sofreu escoriação na perna e ficou de procurar atendimento médico posteriormente.

De acordo com o delegado que recebeu o caso no plantão da Polícia Civil, Rodrigo Ciscotto, em depoimento prestado na delegacia, a vítima “não pode enfatizar qual o propósito do adolescente quando a abordou”. Segundo ele, em sua oitiva, a mulher contou que resistiu em entregar a bolsa e entrou em luta corporal com o autor, momento que sua calça teria sido parcialmente arrancada. “Ela afirmou que não sabia esclarecer se houve tentativa de despi-la ou se isto ocorreu quando ela se debatia tentando fugir dele”, contou.

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O que chamou a atenção em seu depoimento foi o fato de que, mesmo com a bolsa em mãos, o jovem insistia em arrastá-la para outro local, que, segundo a vítima, seria ermo e escuro. “Ela levantou esta dúvida, pois o autor já estava de posse da bolsa e poderia ter fugido. Mas continuou tentando arrastá-la, dizendo para ela entrar logo na sala. Em seguida, chegaram as testemunhas, impedindo que ele continuasse qualquer coisa. Ela cita ainda que o autor estava muito surtado”, comentou Ciscotto.

Ainda conforme o delegado, também foram ouvidas nesta terça duas testemunhas, porém, elas também não puderam esclarecer sobre a suposta tentativa de estupro. “Estas pessoas viram o fato parcialmente e não tiveram condições de descrever algum ato que configurasse tentativa de estupro. Elas visualizaram apenas o momento que a vítima tentava se desvencilhar do autor, gritando por socorro. Elas viram o detalhe da calça abaixada, mas não souberam declinar se houve ou não a tentativa de estuprá-la”.

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O delegado Rodrigo Ciscotto confirmou o flagrante do jovem por tentativa de roubo e encaminhou o procedimento para a Vara da Infância e da Juventude, onde será decidido se ele ficará ou não acautelado. O jovem ainda está sendo ouvido na delegacia. “A situação do estupro gerou dúvida, porque embora ele pudesse conduzi-la para este cômodo ermo e escuro, mesmo já de posse dos seus bens, a gente não tem nenhuma informação nos autos indicando que ele realmente tentaria cometer algum ato libidinoso. Aparentemente, ele poderia estar tentando arrastá-la para cometer mais algum crime patrimonial, levar mais algum objeto de valor dela. Então, não ficou claro esta questão, e, em momento nenhum, a vítima alega que escutou o adolescente falando algo neste sentido”, finalizou. A Tribuna tentou contato com a professora por telefone na tarde desta terça. Seu marido disse que, no momento do contato, ela prestava depoimento e que estava abalada. Mais tarde, as ligações não foram atendidas. A princípio, o caso será investigado pela Delegacia Especializada de Roubos, caso venha à tona alguma evidência da tentativa de estupro, o caso segue para a Delegacia de Mulheres.

O caso será acompanhado pela Diretoria de Segurança da UFJF, e seus desdobramentos serão informados à comunidade. “A universidade não tem o objetivo de ocultar essas informações, com receio de prejuízo para sua imagem. Queremos acompanhar a apuração dos fatos e debater com a sociedade medidas eficazes para ampliar a segurança na instituição e em seu entorno. E mais do que isso: assumir a sua responsabilidade e lutar efetivamente por uma política de segurança livre de opressões”, destacou o vice-reitor no exercício da Reitoria, Marcos Chein.

 

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UFJF lamenta caso

Por nota, a UFJF lamentou a ocorrência de mais um ato de violência no interior de seu campus. “Para coibir situações como esta, a instituição busca o aprimoramento de sua política de segurança, com a capacitação dos agentes envolvidos, para que sejam capazes de atuar contra opressões em geral – e também em ocorrências de machismo, homofobia, transfobia – promovendo a proteção de todos, sobretudo pessoas em situação de maior vulnerabilidade dentro da universidade”.

Como parte desta política, foi instaurado, no fim do ano passado, um Fórum de Segurança na UFJF, que tem como objetivo promover uma segurança mais preventiva, democrática e educativa no campus, abrindo espaço para maior participação dos alunos e das alunas em processos de decisões de questões estratégicas para a universidade. “Mais que policiar, precisamos promover uma segurança pedagógica, atuando com base em políticas de educação e prevenção”, destacou Marcos Chein.

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‘Medo de represálias leva muitas alunas a silenciarem’

No início da tarde desta terça-feira, o Diretório Acadêmico de Engenharia emitiu uma nota na qual sustentava que o crime na universidade tratou-se de uma tentativa de estupro, ao contrário do divulgado nos meios de comunicação. Afirmou ainda que o crime poderia ter vitimado qualquer aluna da faculdade e que “problemas de segurança e tentativas de assédio a mulheres fazem parte do cotidiano da UFJF, o que é inadmissível”, diz a nota. O grupo de estudantes alega que uma comissão de segurança formada pelo Conselho Universitário (Consu) está com o trabalho comprometido devido à “falta de comprometimento de seus membros”. Além disso, sugere que o assunto seja tratado com seriedade pelo órgão superior.

Já no fim da tarde, alunos da Secretaria de Combate às Opressões, do Instituto de Ciências Humanas, se reuniram com alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo na UFJF. No encontro, discutiram medidas para cobrar da universidade uma ação efetiva para solucionar os casos e prestar inclusive assistência pscicológica às vítimas de assédio que envolvem tanto mulheres quanto Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBTT). O grupo também sustentou que o crime se tratou de uma tentativa de estupro, e se dispôs a acolher as vítimas, temendo ações de silenciamento de opressões dentro da universidade. “É muito comum ocorrer assédio, ainda mais de aluno com aluno. A Universidade é a nossa casa, as meninas estão se sentindo inseguras de transitar sozinhas, isso é abominável”, afirma Flávia Maria Fabiano Chaves Esteves, integrante do movimento.

Por meio de nota, a titular da Diretoria de Ações Afirmativas (Diaaf), Carolina Bezerra, afirmou à Tribuna que o órgão está acompanhando os casos de estupro, assédio sexual, agressão moral e psicológica, coerção, desqualificação intelectual, violência sexual e física contra a mulher no ambiente universitário. Explica que nenhuma denúncia que chegou à Diretoria nos últimos meses ficou sem resposta ou acompanhamento. “O que acontece, muitas vezes, é que o medo de represálias ou de ter a sua vida acadêmica comprometida leva muitas alunas a silenciarem e não darem prosseguimento à abertura de processos administrativos”, justifica.

Diante da situação, Carolina disse ainda que a diretoria vem buscando parcerias com a Diretoria de Segurança, atuando na formação de seus agentes para saberem lidar, apurar e atender às vítimas nos mais diversos casos de violência contra a mulher que presenciarem no ambiente universitário. Também busca parcerias com a Casa da Mulher e outras instituições universitárias, garantindo um “ambiente de escuta para que alunas, professoras e técnicas possam falar sem medo”.

A Diaaf afirma ainda que está organizando para o mês de março uma série de ações para analisar as dificuldades a partir de cada realidade, entre elas mesas-redondas, rodas de conversa, intervenções, entre outros. “O principal objetivo da semana da mulher na UFJF é pensar ações institucionais no intuito de coibir, conscientizar e punir assédios praticados por professores, alunos, funcionários e demais pessoas que frequentam o campus”, completa.

 

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