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Crescem registros de estelionatos nos bairros de Juiz de Fora

golpe whatsapp by free pik
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Além do coronavírus, a pandemia tem sido responsável pela proliferação de crimes de estelionato na internet. Clonagem do WhatsApp e de sites de compra e venda de mercadorias estão no topo da lista dos crimes mais comuns praticados ao longo dos últimos nove meses. A Polícia Civil constatou mais uma característica deste período: os estelionatos que eram mais frequentemente aplicados no Centro de Juiz de Fora, onde se encontram as instituições financeiras, passaram a ser mais registrados no bairros, uma vez que, em decorrência da quarentena, as pessoas estão realizando mais transações de maneira on-line.

A Zona de Norte de Juiz de Fora, que concentra cerca de 150 bairros e, aproximadamente, uma população de 180 mil pessoas, é a que mais tem gerado registros dessa modalidade criminal. De acordo com o titular da 3ª Delegacia de Polícia, Rodolfo Rolli, responsável pela investigação dos crimes nesta área, sua unidade policial tem recebido, semanalmente, cerca de 70 registros de golpes aplicados na internet. Antes da pandemia, a média girava em torno de dez registros por semana.

Zona de Norte, que concentra cerca de 150 bairros e, aproximadamente, uma população de 180 mil pessoas, é a que mais tem gerado registros dessa modalidade criminal (Foto: Fernando Priamo)

Último dado da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) mostra que, de modo geral, em Juiz de Fora, houve um aumento de 19,37% nos casos de estelionatos registrados entre janeiro e junho de 2020, quando comparado com o mesmo período do ano passado. Foram 1.232 registros de golpes em 181 dias, o que equivale a cerca de seis crimes sendo aplicados diariamente na cidade.

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“O golpe do WhatsApp está muito comum, apesar da criptografia e da tecnologia empregada neste aplicativo. Essa modalidade de estelionato acontece quando a pessoa recebe um SMS como se fosse a promoção de uma loja virtual. Ao clicar para abrir esse link, que é falso, a vítima envia seus dados aos estelionatários, como senhas, por exemplo, que ficam acessíveis para o criminoso”, explica o delegado Rodolfo Rolli. Segundo ele, para clonar o WhatsApp, os criminosos usam um aparelho que bloqueia o da vítima, encaminhando todos os dados para um celular do golpista. “Ali, ele terá o controle do aplicativo da pessoa, que continua mantendo a foto dela e conseguindo trocar mensagens com os contatos, realizando esses golpes que estão cada vez mais comum”, ressalta.

Ele orienta que a desconfiança é a melhor arma contra golpes. “A pessoa jamais deve abrir esses links e sempre desconfiar daqueles que têm promoções de lojas virtuais, concessionárias de automóvel, de farmácias, pois, nestes últimos tempos, eles estão carregados de vírus que sequestram o aplicativo e dados do dono.”

O delegado alerta que, no caso do WhatsApp clonado, quando a vítima usa no mesmo aparelho um aplicativo de banco ou faz um pagamento virtual com uso de cartão, os criminosos conseguem ter acesso às senhas e ao código do cartão. “Eu mesmo como delegado tive o meu cartão bloqueado recentemente. Eu fui fazer a reserva em um hotel e, dois dias depois de realizá-la, o meu celular foi clonado e fizeram a reserva em outro lugar. Só que percebi a irregularidade e meu banco bloqueou meu cartão” conta.

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Rolli ainda acrescentou: “Infelizmente, não existe sistema bancário completamente seguro na internet, apesar deles se cercarem de todos os cuidados disponíveis. Sempre os estelionatários encontram uma brecha, porque, enquanto os técnicos dos sistemas de banco estão pensando num processo, os criminosos já estão criando outra forma de burlar. Essa tecnologia de segurança acaba ficando atrasada apesar de todos os investimentos nessa área.”

Banco não envia funcionários na casa do cliente

 

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Ainda como pontua o delegado Rodolfo Rolli, outro golpe muito comum que vem sendo aplicado e que também envolve banco é quando a pessoa recebe uma ligação de alguém se passando por funcionário de uma instituição bancária, avisando que a vítima teve o cartão da sua conta clonado e que um funcionário irá até a casa dela para pegar o equipamento e os seus documentos. “A população precisa saber que esse tipo de procedimento não é realizado por nenhuma instituição financeira. O banco não avisa que o cartão foi clonado. Ele pergunta se seu cartão foi clonado, faz o bloqueio para resguardar o cliente e emite outro sem mandar alguém até a residência dele”, adverte, completando que, geralmente, os idosos têm sido as vítimas mais frequentes desse golpe.

“Eles fazem parte do grupo de risco da Covid-19 e não estão saindo de casa. Os mais velhos estão na mira dos estelionatários, que vão até a casa deles, se identificam como funcionários de bancos e conseguem enganá-los. Esses criminosos usam transporte de aplicativo e jamais carro particular, para dificultar a identificação.”

Titular da 3ª Delegacia de Polícia, Rodolfo Rolli alerta para riscos de abrir links suspeitos (Foto: Leonardo Costa)

Anúncio de venda falso

A clonagem de sites de venda e compra de mercadorias, onde são feitos anúncios, também estão servindo para a prática de crimes de forma cada vez mais intensa. “Tivemos o caso de um rapaz que vendeu seu carro por R$ 17 mil, achando que estava negociando com um comprador de Juiz de Fora. Essa vítima teve seu aparelho clonado, e o comprador fez o pagamento para outra pessoa, um estelionatário, achando que estava pagando para o dono do veículo. A tática nesse tipo de golpe é usar quase tudo do anúncio de forma verdadeira, porém, trocam o telefone de contato, e a pessoa que está negociando acha que está falando com o vendedor, quando, na verdade, está tratando com o golpista, que passa os dados dele para que o depósito seja realizado”, pontua Rolli.

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Segundo o delegado, no caso do golpe contra esse rapaz, o estelionatário era de São Paulo. “Esse tipo de crime é muito comum quando envolve a venda de carros e motocicletas”, destaca. O empréstimo de dinheiro por meio de anúncio é outra versão dos criminosos para enganar suas vítimas. “A pessoa liga para o telefone do anúncio para conseguir o empréstimo. Porém, para ter o dinheiro, ela precisa pagar uma taxa e depois fazer um depósito. Esse é um tipo de crime muito comum, porque se aproveita do desespero das pessoas”, avisa o delegado. “Nenhum empréstimo pode ser realizado mediante a contrapartida de um depósito. As pessoas precisam ter essa malícia, para não cair nesse tipo de golpe”.

Golpistas se aproveitam de complexidade das investigações

 

Conforme o delegado Rodolfo Rolli, em todas essas modalidades de estelionato, pela legislação atual, o crime só se configura quando o dinheiro é sacado das contas das vítimas. Na maioria das vezes, elas estão em Juiz de Fora, mas são enganadas por criminosos do Norte e Nordeste ou do sul do Brasil, o que torna a elucidação do delito mais difícil. “A investigação tem que ser realizada no estado onde o saque foi realizado, porque é neste momento que se configura a vantagem ilícita e não onde a vítima fez o depósito. Isso é complexo porque o delegado está em Juiz de Fora, e o saque foi realizado em Manaus, por exemplo”.

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Como procedimento de apuração, a pessoa lesada pelo golpista é ouvida e depois são realizados encaminhamentos para a polícia do estado onde a transação foi concluída para início da investigação.

“Mas existe outra dificuldade. Por exemplo: a vítima perdeu R$ 2 mil, e foi aberto um inquérito na cidade onde o saque foi realizado. Esse município fica no nordeste. Para a vítima se deslocar até lá, a fim de prestar esclarecimentos e acompanhar o andamento do inquérito, terá um custo maior do que o prejuízo causado pelo golpe. Assim, ela desiste da representação. Os golpistas, sabedores do funcionamento desse processo, se aproveitam dessa situação para cometer mais crimes fora do seu estado de origem.”

Apesar das dificuldades, o delegado explica que o registro do crime é necessário e que a vítima precisa entender que não basta apenas fazer o boletim de ocorrência. “É preciso ir até a delegacia e solicitar a representação para que um inquérito seja instaurado, porque o estelionato é um tipo de crime condicionado à representação”, enfatiza, acrescentando que, sem esse procedimento inicial, os crimes ficam subnotificados, o que não colabora para que investimentos sejam empenhados para a solução dos casos.

Vítima recebeu mensagem sobre promoção em pousada na praia

Moradora do Bairro Santa Isabel, na Zona Norte, a assistente de administração Patrícia Oliveira teve seu WhatsApp clonado recentemente. Ela só não teve prejuízo porque desconfiou do golpe e recebeu mensagens das amigas alertando a respeito do crime. “Estava no Instagram quando vi o post de uma pousada, em Búzios, informando sobre sorteios e promoção de estadia. Como já tinha me hospedado na pousada e o símbolo da página era igual, jamais atinei que seria página fake. Mas tinha uma diferença que notei depois: havia um “a” a mais no nome do estabelecimento.”

Segundo ela, enquanto acreditava ser o site verdadeiro, iniciou uma conversa no chat, perguntando sobre valores de hospedagem. Conforme Patrícia, ela foi orientada a informar um código enviado para o telefone dela por meio de SMS contendo seis dígitos. Tal medida tinha o propósito, como foi orientada, de confirmar se o número de telefone informado pertencia realmente a ela. “Após o recebimento, informei o código. Algum tempo depois, passei a receber mensagens de amigas, afirmando que estavam pedindo dinheiro emprestado em meu nome em mensagens no WhatsApp”, lembra a assistente.

“Imediatamente, informei familiares e publiquei nas redes sociais o ocorrido. Meu marido passou mensagem para o meu aplicativo clonado, falando que já sabíamos do golpe. Assim, eles removeram o número dele da lista e fizeram o mesmo com outros contatos”, conta Patrícia.

Como providência, ela notificou o WhatsApp e registrou um boletim de ocorrência. A vítima também comunicou a pousada sobre a página falsa, e o estabelecimento divulgou nas redes um alerta sobre o uso do seu nome na fraude. “Passado o prazo solicitado pelo WhatsApp, consegui instalar novamente o aplicativo. A lição que aprendi com essa situação foi que é preciso ler com mais calma essas publicações e jamais compartilhar alguma informação de procedência duvidosa.”

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