A jornalista e especialista em transformação digital e mestre em mídias sociais pelo IE, na Espanha, Sabrina Passo Cimet, e a médica, pediatra, com especialização em puericultura e acompanhamento integral do processo de desenvolvimento da criança, educadora parental e membro da Positive Discipline Association, Carolini Santin, foram as convidadas do podcast Tribuna no Ar desta sexta-feira (22).
A entrevista, conduzida por Paulo César Magella e Júlia Pêssoa, abordou o uso excessivo de telas por crianças e foi transmitida pela Transamérica através da frequência FM 91.3 MHz e pelo youtube da rádio. Ela também está disponível aqui.
Tribuna: Como nasceu o projeto?
Sabrina: A Carol, que está aqui, doutora Carolini, é a médica da minha filha, pediatra que acompanha a Cora desde que ela nasceu. Conversando sobre isso, a gente percebeu que estava vendo um monte de coisa diferente no comportamento das crianças e dos adolescentes. Vocês mesmos noticiam bastante o quanto a gente vê as crianças tendo acesso à Inteligência Artificial, por exemplo, criando coisas e distribuindo imagens. Bullying, cyberbullying, muita depressão… Eu falei com a Carol, ‘olha, a gente tinha que bolar uma coisa porque eu me inscrevo se você fizer um curso sobre isso’. E aí ela me devolveu a provocação e disse, ‘eu acho que quem tem que fazer é você, que trabalha com digital desde sempre’. Então, uma coisa que a Carol sempre brinca, que era para ser uma conversa na sala da nossa casa, acabou que a gente chegou à conclusão que essa conversa precisa estar em todas as casas do Brasil. A gente tem esse objetivo íntimo.
Carolini: Nasceu de um desejo nosso de proteger as nossas meninas, e que percebemos que sozinhas não ia rolar, que era preciso dividir isso com mais gente, porque nós aprendemos pesquisando .E quanto mais a gente ia atrás, quanto mais a gente pesquisava, mais a gente percebeu que era preciso defender as crianças e até a gente mesmo. O que falamos tem a ver com adultos também, defender esse excesso de informação. Então, a gente não é contra internet, mas a gente precisa, definitivamente, entender até que ponto esse sistema nos serve ou a gente serve esse sistema.
Tribuna: Vocês têm alguma estratégia? Por exemplo: primeiro, a gente trabalha com os adultos ou com os jovens? Porque muitos pais pegam os filhos e entregam essas ferramentas, até por uma questão de afastamento. Vocês estão educando os pais ou as crianças?
Sabrina: A gente tem esse foco nos adultos. Não são as crianças o público do nosso projeto. Talvez, em algum momento, no futuro, até a gente venha criar alguma coisa que seja voltada às crianças, ao brincar e às coisas que a gente acredita que são importantes para o desenvolvimento da infância. Mas a gente foca nos adultos. O nosso trabalho é tentar mostrar para eles o que a gente descobriu e o quanto impacta na formação de um adulto funcional aquilo que ele faz enquanto criança, enquanto adolescente, e o papel dos pais é fundamental nisso. A criança não pode comer bolacha recheada, mas quem compra bolacha recheada? Acho que é mais ou menos a mesma coisa. Então, sim, são os pais que precisam entender o que pode, o que não pode, o que pode causar. E a gente não é fatalista, mas os dados são horrorosos. Então, a gente quer tentar mostrar uma forma mais saudável e mais segura e, também, a idade adequada para as crianças terem acesso a essas coisas.
Tribuna: Nas escolas, a discussão se acentuou a partir de um projeto que foi aprovado pela Assembleia Legislativa de São Paulo que proíbe os celulares nas escolas públicas e privadas paulistas. São Paulo é o primeiro estado a ter essa legislação. E o que chamou a atenção é que o projeto de autoria da Deputada Marina Elu do Rede torna proibido o uso dos aparelhos em toda a educação básica para todas as idades e com o detalhe que eu gostaria que vocês comentassem: “eles não poderão ser usados no período de permanência dos alunos na escola, incluindo intervalos entre aulas, recreios e eventuais atividades extracurriculares.” Não pegou pesado, não gente?
Carolini: Eu acho que pegou zero pesado, tá? Eu acho que a escola é momento de socialização, é momento de prestar atenção. E a gente sabe o quanto um telefone apitando o tempo todo recebendo mensagem, a gente tem um aplicativo que manda tomar água hoje em dia, sabe? Isso tira a nossa atenção, isso tira a atenção de uma criança. Então, eu acho que não pegou pesado. Imagina só, tu tava no recreio brincando com os amigos, aí vem alguém, filma, posta, sabe? E a gente tá falando de cyberbullying, né? A gente tá falando não é daquele bullying que começava na escola, terminava na escola, no dia seguinte ninguém lembrava, é aquela coisa que segue sendo enviado, segue sendo repostado e acaba tomando uma dimensão muito maior. Então, eu acho que não pegou pesado não, sou super a favor desse projeto da Marina.
A entrevista completa com as especialistas, você pode encontrar no nosso canal do Youtube.