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Dez personalidades receberão medalha na Câmara Municipal

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Ações de campos e formatos diversificados chamam atenção para a necessidade de ampliação da Consciência Negra e da emancipação da população negra em todos os espaços, ao longo deste mês de novembro e, com maior ênfase, nessa semana, que concentrou boa parte das atividades realizadas em Juiz de Fora, em função do Dia da Consciência Negra (20).

Entre os eventos previstos, está a entrega da Medalha Nelson Silva, pela Câmara Municipal, que reconhece e dá visibilidade a pessoas físicas e jurídicas, por sua dedicação à produção, à difusão e ao engrandecimento das manifestações artístico-culturais e sociais da raça negra. Nesse ano, dez personalidades serão homenageadas: Marília do Nascimento, Elísima Ignes Lopes, Fernanda do Nascimento Thomaz, Fabrícia Valle, Josenira Monteiro de Souza, Luciana Aparecida de Oliveira, Marcus Vinícius David, Reginaldo Barbosa da Silva, Sebastião Fernando da Silva e Sebastião Pinheiro. A sessão solene de entrega da outorga está marcada para 29 de novembro.

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No dia dedicado à Consciência Negra, a Comenda Jonicy de Barros Ramos deu visibilidade e promoveu o reconhecimento a 18 profissionais que se destacaram em suas áreas de atuação. A medalha, entregue pela Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra), leva o nome do engenheiro civil e professor, que foi chefe de Departamento de Trânsito da Settra, onde também há uma biblioteca que recebeu seu nome.

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Nós Sim

Na UFJF, a Semana da Consciência Negra começou com a criação e fortalecimento de vínculos, por meio da realização do 1º Encontro de Negros e Negras da UFJF, no qual a Reitoria reafirmou o comprometimento com o enfrentamento das desigualdades e com as pautas que dizem respeito à entrada e à permanência dos estudantes negros na instituição.

A reunião tinha como objetivo criar um espaço de acolhimento, de compartilhamento de experiências e vivências, contando com as vozes de professores, técnico-administrativas, alunos, representantes de órgãos como a Ouvidoria Especializada, a Diretoria de Ações Afirmativas (Diaaf) e o Fórum da Diversidade. A Diaaf, junto com o Coletivo Negro Resistência Viva e o Coletivo Descolônia, organizou o encontro.

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A UFJF trabalhou em seu vídeo institucional uma série de vivências de racismo, com o mote “Nós Sim”. A ideia permeou outras ações. Entre elas, o convite a cinco artistas, alunos da UFJF, para grafitar 14 banners espalhados pela instituição. Conforme a Diretoria de Imagem Institucional, a ideia é que toda a campanha se baseasse em negros falando para outros negros, isso envolveu desde a equipe de produção até as pessoas que passaram a estampar os banners. Até a ideia de trabalhar com o graffiti reforça esse recado de ocupação dos espaços. O intuito é conseguir mudar dados, como os expostos na campanha de 2017, quando o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) mostrava que apenas 12,8% dos negros (pretos e pardos), entre os 18 e os 24 anos eram estudantes em instituições de ensino superior brasileiras.

Ter esse respaldo para o pixo, o graffiti, a tag permite que as pessoas vejam esses trabalhos com outros olhos, e o recado é de que a universidade também abraça todas essas manifestações. O artista e estudante do 6º período do Bacharelado Interdisciplinar de Artes e Design, Roko (@SBDM_Roko), que também faz parte do Coletivo Submundo (@SBDM_Corp) e do Coletivo Descolônia (@coletivodescolonia), relembra, justamente, que o graffiti é um dos pilares da cultura hip hop, junto com o break, o DJ e o MC. “Ele nasce para ser resistência e se mantém com essa missão. No período que vivemos, é importante a gente perceber isso, pensar que já vencemos coisas muito ruins e vamos continuar resistindo.”

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O artista diz sentir uma satisfação muito grande ao ver o seu trabalho sendo reconhecido e pensado. “É gratificante ver que as pessoas enxergam representatividade nessas imagens. Quero que as pessoas vejam meu nome, percebam que eu sou uma pessoa comum e que elas também podem ocupar esse local, sendo e desenvolvendo o que elas quiserem ser. Estando em um espaço que nos foi tomado há séculos. O espaço da universidade pública precisa ser retomado por nós, negros, porque ele também nos pertence”.

Na base

Nas escolas, os estudantes são estimulados a fazer buscas e a aprender mais sobre a história do continente africano e, por meio dela, aprender mais sobre a do Brasil. Essa época, pela agenda das escolas, é o momento para inserir de maneira mais enfática a temática em trabalhos e exposições. A professora Kery Cristian Moura e Silva trabalha em duas instituições, na Escola Municipal Jesus de Oliveira, como coordenadora, e na Escola Estadual Juscelino Kubitschek, no Santa Luzia, como professora de projetos. Na primeira, haverá um evento em que serão apresentados trabalhos relativos à Consciência Negra, na manhã desta sexta-feira, a partir das 10h, já na segunda, será realizada uma feira multitemática, em que o assunto será um dos destaques. Em ambas, há uma preocupação de ressaltar o protagonismo da produção dos alunos.

Para Kery, as escolas precisam encontrar meios de trabalhar a consciência negra ao longo do ano, expandindo o aprendizado para além do conteúdo programático de novembro. “Temos como trabalhar com a Consciência Negra em todos os temas possíveis. Em uma das escolas que trabalho, que se situa em uma comunidade, a maioria dos estudantes é negra, e eles dizem sentir que a sociedade não os aceita. Quando tocamos nesse tema, eles se sentem agradecidos, falam, se colocam, perguntam, questionam. Precisamos valorizar e reconhecer essa demanda que vem deles também. Nesse sentido, as escolas fazem um trabalho de suma importância, e precisamos levar isso para um número maior de alunos”, considera.

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A professora diz que o maior desafio dos profissionais, dentro e fora das salas de aula, é fazer com que essas crianças e jovens entendam que ainda há um terreno muito vasto esperando para ser ocupado. “O preconceito, infelizmente, ainda existe e é muito forte. Eles se preocupam muito. Então, toda vez que eles dizem que a sociedade não tem espaço para eles, o nosso papo é mostrar o quanto as pessoas negras já conquistaram, que esse legado não vai se perder e que ainda é preciso avançar muito mais.”

Tocar na ferida e sensibilizar

Abrir o diálogo em ambientes em que a presença negra ainda é muito restrita também é outro foco de ações. O evento “Com Ciência Negra”, realizado pelo Programa de Educação Tutorial da Engenharia Civil (PET Civil) da UFJF, debateu sobre racismo institucional e estrutural. Participaram a professora do Departamento de Física, Zélia Maria da Costa Ludwig, a doutora honoris causa pela UFJF e integrante do coletivo Vozes da Rua, Adenilde Petrina Bispo, e a doutoranda em História pela UFJF, Giovana de Carvalho Castro. Elas estiveram na mesa-redonda “A representatividade negra no cenário científico e tecnológico brasileiro após 130 anos da abolição da escravatura”´, na última quarta-feira (22).

A intenção era sensibilizar estudantes e professores sobre a influência de toda essa história sobre a entrada e permanência de alunos negros no ensino superior e, até mesmo, na educação básica, a partir das vivências das participantes do ambiente acadêmico. Abordando entre os temas, as cotas e o colorismo.”

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