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Juiz de Fora tem cem infrações de trânsito por hora

motorista com celular

Caracteriza-se como infração gravíssima o condutor segurar ou manusear o celular (Foto: Olavo Prazeres)

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Cerca de cem infrações de trânsito são praticadas por hora em Juiz de Fora. O dado foi descoberto após uma avaliação de três horas em cruzamentos com semáforos em Juiz de Fora, em que foram observadas 303 infrações pelo especialista em Segurança do Trânsito e consultor independente em Engenharia de Tráfego e Transporte, Horácio Augusto Figueira. O levantamento foi apresentado na palestra “Hora H”, ministrada pelo engenheiro na última quinta-feira (20). O evento integrou a programação da Semana Nacional do Trânsito, organizada na cidade pela Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), em parceria com a Comissão Municipal de Segurança e Educação no Trânsito (Comset).

O especialista, natural e residente em São Paulo (SP), esteve nos últimos dias no município para realizar uma breve pesquisa juntamente com agentes de trânsito, a convite da Settra, com o propósito de analisar a situação quanto às infrações e propor soluções. O trabalho se dividiu em dois momentos. Em um primeiro, a equipe procurou avaliar cruzamentos com semáforos. Em cinco, foram observadas infrações de veículos que realizaram conversões, enquanto em outros dois, os que seguiram em linha reta, sem mudanças no trajeto. Na segunda parte, o grupo acompanhou dez automóveis por alguns minutos, para contabilizar as violações de cada. A análise foi feita na região central, como em alguns pontos da Rua Santo Antônio, e no Bairro Linhares. De acordo com o especialista, é possível ter noção da situação da cidade em qualquer cruzamento, independente do bairro, já que em todos acontecem infrações.

“Acho que Juiz de Fora dá para ser um grande exemplo de como podemos fazer um trânsito positivo e amigo. O objetivo não é multar mais gente, o objetivo é diminuir as infrações.” Horácio Figueira, especialista em Segurança do Trânsito (Foto: Olavo Prazeres)

Nos cruzamentos examinados, nos quais passaram 647 veículos no total, as estimativas apontam mais de 232 milhões de infrações por ano, enquanto a de multas aplicadas para 2018 é de 76 mil. Desta forma, de acordo com o levantamento, seriam mais de três mil transgressões para cada multa realmente aplicada. Em outras palavras, “as infrações cometidas em até duas horas em toda a cidade equivalem ao que é multado durante um ano”, como constatou Figueira. Essa realidade é a mesma observada em todo o país. “Mostra nossa imprudência, algo que não é culpa de órgão de trânsito, mas de nós brasileiros. E aí nós colhemos mortos e mutilados no trânsito, em um dos países que mais matam no trânsito.”

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Casos mais comuns

Quanto aos tipos de infrações entre os veículos que realizaram conversões, a falta de uso da seta foi a mais significativa, sendo observados 170 descumprimentos (ver quadro). Logo em seguida, está a não utilização de cinto de segurança, tanto no banco traseiro como no dianteiro, com 70 infrações constatadas. Esta é a principal em cruzamentos nos quais os veículos seguiram em frente, sem realizar conversões, com 15 delitos.

Na operação de escolta dos dez automóveis, foram contabilizadas 39 infrações. Esse valor corresponderia a uma média de 3,9 violações por veículo. Apenas dois não cometeram nenhuma falta, enquanto o restante infringiu as regras de trânsito duas ou mais vezes. Considerando que o tempo total utilizado pela equipe foi pouco mais de 73 minutos, são cerca de 0,53 infrações por minuto. Assim, em média, o condutor atingiria, em 15 minutos, 20 pontos e perderia a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), segundo Figueira.

Educação para trânsito e fiscalização devem ser intensificadas

As infrações observadas em Juiz de Fora estão entre as principais causas de acidentes apontadas por Horácio Figueira, como uso de celular durante a condução de veículos, não utilização da seta e desrespeito ao sinal vermelho, entre outras, como dirigir sob efeito do álcool e em alta velocidade. Em média, mais de 40 mil pessoas são vítimas fatais de acidentes de trânsito no Brasil, além de mais de 250 mil se lesionarem pelo mesmo motivo. Neste ano, 15 pessoas morreram em Juiz de Fora e 1.388 foram feridas, segundo dados da Settra apresentados durante a palestra.

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Para Figueira, reverter o quadro de acidentes no país requer um trabalho conjunto e intensificado de educação e fiscalização. “Vou deixar em Juiz de Fora cem frases positivas, sem uso da palavra não – que aprendi com a neurolinguística – convidando as pessoas a mudar o comportamento no trânsito. ‘Seta. Use sem moderação’, por exemplo. Colocando placa na rua, no jornal, você faz um trabalho de reeducação. Teoricamente, as pessoas foram habilitadas, mas nem todo mundo tem a mesma consciência do que aprendeu na autoescola. Tem que ser como a psicologia nos ensina, repetir isso todo dia, toda hora”, explica. A questão da repetição se relaciona com outras campanhas, como de vacinação, que são constantes para que não hajam mais riscos. Segundo o especialista, isso também vale para o trânsito.

Mudança na fiscalização

Já sobre a fiscalização, Figueira defende ações inovadoras, como uma que tem sido realizada no Canadá. Policiais e agentes de trânsito utilizam transportes coletivos para conseguirem enxergar o interior de automóveis e constatar condutores que utilizam celular na direção, por exemplo. “A fiscalização tem que ser a mais inteligente, mais eficiente e mais criativa possível. Hoje, a fiscalização no Brasil, inclusive em Juiz de Fora, não é 24 horas e não abrange os sete dias da semana de forma totalmente completa. Estamos trazendo o conceito aqui de que ela seja aleatória e abranja toda a cidade.” Em São Paulo, 40% dos acidentes fatais ocorrem nos finais de semana, enquanto o órgão fiscalizador permanece de plantão na base. “Chamo isso de ‘fiscalização urubu’, porque ficam esperando acontecer o acidente, aí mandam o resgate, mas não adianta mais nada. O que quero trabalhar é o antes, a prevenção para que não ocorra o acidente.”

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‘Carro parado não mata’

No município, uma alternativa proposta pelo especialista seria mudar o foco de fiscalização. “Estacionamento, para mim, tem que ser a última prioridade de multa. Tem que cuidar do sinal vermelho, do ‘pare’, celular, cinto, seta. Em São Paulo é pior: 58% são ligadas à fluidez de estacionamento. Aqui está 41%, mas eu diminuiria e pegaria toda a energia humana para fiscalizar infrações que colocam em risco a vida dos pedestres e condutores. Carro parado não mata.”

A palestra foi direcionada para os servidores da Settra, Polícia Militar e Guarda Municipal, que, além de aprenderem mais sobre conscientização no trânsito, passaram por um treinamento oferecido pelo especialista. De acordo com o secretário de Transporte e Trânsito, Rodrigo Tortoriello, o trabalho do engenheiro irá contribuir na organização de serviços da pasta. “Essa pesquisa nos aponta uma série de informações que vai servir para o nosso planejamento e reestruturação da nossa operação de fiscalização. No treinamento para os agentes de trânsito, pode ser que, através das sugestões dele, nós possamos chegar a medidas mais eficientes para ajudar a reduzir o número de acidentes na cidade.”

Apesar da realidade das infrações, de acordo com Figueira, o índice de acidentes no município é relativamente baixo comparado ao país. “Acho que Juiz de Fora dá para ser um grande exemplo de como podemos fazer um trânsito positivo e amigo. O objetivo não é multar mais gente, o objetivo é diminuir as infrações.”

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Prática muito comum no trânsito, dirigir com o braço para fora não é permitido, sendo infração média (Foto: Marcelo Ribeiro)

Campanha alerta para condução sob efeito do álcool

Ao longo do mês, o Observatório Nacional de Segurança Viária está promovendo a campanha “Beber e Dirigir Machuca”. Entre as ações, em parceria com o Instituto Mobih, a entidade lançou, na Semana Nacional de Trânsito, um vídeo de conscientização sobre os perigos de consumir bebida alcoólica e dirigir.

No filme, a equipe do Instituto visitou um bar em São Paulo para convidar pessoas alcoolizadas a dirigir um simulador de direção. Por meio de realidade virtual, os jovens que aceitaram o desafio cometeram infrações e colisões, o que exemplifica o quanto a condução após ingestão de bebidas alcoólicas pode causar sérias consequências. Em outra ocasião, já sóbrias, as mesmas pessoas foram convidadas para conhecer Caio Branco, jovem de 24 anos que sofreu acidente por dirigir sob efeito do álcool e teve sua fala e mobilidade comprometidas devido a um traumatismo cranioencefálico (TCE). O material se encerra com a mensagem: “Na realidade virtual, é permitido errar. A vida real não te dá outra chance.”

Durante a palestra, Horácio Figueira apresentou os principais efeitos do álcool na direção veicular, de acordo com informações da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). São eles: redução de percepção da velocidade e obstáculos, comprometimento dos reflexos e visão periférica, diminuição da habilidade de controle do veículo, como manter a trajetória e fazer curvas, e prejuízo da capacidade de dividir a atenção.

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Veja o vídeo:

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