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Primeiro homicídio com motivação homofóbica tramita na Vara do Júri

Fórum Benjamin Colucci, da Comarca de Juiz de Fora do TJMG

Comarca de Juiz de Fora do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (Foto: Fernando Priamo)

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Um jovem de 18 anos foi preso preventivamente no último domingo (18), acusado de envolvimento em um homicídio ligado à homofobia. Segundo a denúncia do Ministério Público (MP), Ari Lopes da Silva, 59 anos, foi brutalmente espancado, no dia 28 de março deste ano, por supostamente tentar uma relação sexual com o rapaz. O crime aconteceu em um quarto alugado pelo suspeito no Bairro Esplanada, Zona Norte. Diante da investida, o acusado teria batido a cabeça de Ari várias vezes contra o chão e ainda desferido golpes com objeto perfurocortante. Ele fugiu na moto da vítima, que teria sido deixada desfalecida e trancada no imóvel. De acordo com a Promotoria, esse é o primeiro processo de crime contra a vida com motivação homofóbica a tramitar na Vara do Tribunal do Júri de Juiz de Fora.

Depois de recobrar a consciência e pular a janela para pedir socorro, Ari foi levado para o HPS, onde ficou internado por mais de uma semana. Nesse período, o paciente, que teria sofrido vários cortes e muitas lesões pelo corpo, foi submetido a cirurgia. No entanto, ele não resistiu e faleceu no dia 6 de abril, em virtude de choque séptico em consequência do politraumatismo.

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Conforme a denúncia do MP, os dois haviam se encontrado durante o dia, em um domingo, tomado cerveja e se dirigido ao imóvel. Foi quando Ari teria proposto uma relação com o jovem, que reagiu de forma violenta. O veículo usado na fuga foi abandonado e apreendido posteriormente no Bairro Vitorino Braga.

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O caso foi apurado pela Polícia Civil e seguiu para o Fórum Benjamin Colucci como latrocínio, mas não foi confirmado o entendimento inicial de roubo seguido de morte. O processo seguiu para a Vara do Júri como crime contra a vida, sendo oferecida a denúncia no dia 9 de julho por homicídio duplamente qualificado por motivo torpe (homofobia) e meio cruel.

Diante da gravidade do crime, o promotor da Vara do Júri, Hélvio Simões, solicitou a prisão preventiva do denunciado. O mandado foi expedido pelo juiz Paulo Tristão no dia 15 e cumprido pela Polícia Militar no último domingo, quando o acusado foi localizado no Bairro Santa Rita, Zona Leste. Segundo a assessoria da Secretaria de Estado e Segurança Pública (Sejusp), o jovem está no presídio de Matias Barbosa, que é porta de entrada para o sistema prisional da região durante a pandemia.

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Homofobia como motivo torpe

Homem trans e advogado voluntário do Centro de Referência LGBTQIA+ da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Júlio Mota de Oliveira observa ser “assustador” que apenas recentemente o Estado tenha reconhecido a homofobia como um motivo torpe. Em meados de 2019, durante julgamento de uma ação, o Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou as condutas homofóbicas aos crimes de racismo e também colocou a homofobia como motivo torpe para qualificar homicídios dolosos.

Para advogado, crueldade no crime, como vários cortes e muitas lesões pelo corpo que levaram a vítima a óbito, é o que mais chama a atenção (Foto: Arquivo Pessoal)

“O reconhecimento desse agravante pelo Estado aponta um avanço no entendimento das forças policiais, do Ministério Público e também do Poder Judiciário. É muito importante que acompanhemos de perto o desenrolar desse julgamento para sabermos qual será o entendimento dos jurados, que são representantes da sociedade nos julgamentos de crimes contra a vida.”

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Júlio observa, entretanto, que na maior parte dos Registros de Eventos de Defesa Social (Reds) – os antigos boletins de ocorrência – a identidade de gênero e a orientação sexual das vítimas são ignoradas, bem como a possível motivação para o cometimento do crime.

“Infelizmente essa é uma realidade no Brasil. A maior parte dos registros de crimes contra a comunidade LGBTQIA+ ignora o nome social, a orientação sexual e a identidade de gênero das vítimas, o que faz com que sejam registrados como crimes comuns, sem a característica de crimes de ódio. Neste sentido, criamos uma cifra oculta dos crimes relacionados à homotransfobia, o que dificulta não só a obtenção de estatísticas relacionadas às violações de cunho homotransfóbicas, mas também a construção de políticas públicas que visem ao combate a esse tipo de violência.”

Segundo ele, o que mais chama atenção nesse caso de Juiz de Fora é exatamente a crueldade dos atos imputados ao réu, como vários cortes e muitas lesões pelo corpo que levaram a vítima a óbito. “Os crimes de ódio, neste caso relacionado à orientação sexual da vítima, contam majoritariamente com requintes de crueldade.”

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Ele acrescenta que os casos mais comuns de violência contra a população LGBTQIA+ estão relacionados às microviolências que são reiteradas no cotidiano e passam a se tornar invisíveis para a sociedade, dificultando inclusive a denúncia e a responsabilização dos culpados. “As microviolências podem também se expressar a partir de violências psicológicas, como ‘piadas’ com conteúdos preconceituosos, humilhações, grosserias, diminuição da importância dessas pessoas, dentre outras atitudes que visam à manutenção do desprezo em relação a elas. Embora tenham um potencial extremamente nocivo, essas microagressões são dificilmente comprovadas.”

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