atualizada às 13h28
Não sabemos os nomes de cada conjunto de estrelas ou todos os fenômenos que se mostram diariamente, no entanto, eles causam em todos nós um fascínio e uma sensação de pertencimento a um lugar que nos traz conforto, curiosidade e ao mesmo tempo sensação de insignificância diante da vastidão do mundo. O que você sente quando olha para o céu? O que muda em você internamente? Essas e outras reflexões farão parte da palestra “Vivendo com as Estrelas” que astrofísica Duilia de Mello fará nesta terça-feira (23), no anfiteatro da Faculdade de Engenharia da UFJF, às 15h. A preleção será uma mescla de conteúdos motivacionais com histórias sobre suas descobertas mais marcantes como pesquisadora da Nasa.
Conteúdos espontâneos na internet sobre as teorias do universo, bem como as séries e a produção cinematográfica de forma geral estão muito atentos a apresentar temas cosmológicos com uma linguagem mais descolada e atrativa. Afinal, é interesse inerente a nós saber mais sobre si, nossa existência enquanto seres humanos e o surgimento de toda natureza que nos cerca. Relaciona-se a isso o porquê de, desde sempre, as religiões serem um caminho que traz conforto e resposta para muitos.
As descobertas científicas sempre ficaram um pouco encobertas e mais divulgadas na academia, a não ser aquelas que se sobressaíam de forma estrondosa chamando a atenção da mídia, no entanto, a internet quebrou qualquer limite e barreira. Talvez daqui a alguns bons anos – enquanto o mundo existir como nós o conhecemos – seja tão fascinante estudar o surgimento e desdobramentos da internet, quanto se estudar o surgimento do mundo, afinal de contas, foi-se criado um mundo virtual em paralelo, capaz de modificar todas as relações e formatações preexistentes. Isso é somente um palpite. Mas de fato, o mundo da astronomia e física e a divulgação científica estão nas redes, e possibilitar o acesso a esses dados de forma democrática é um impulso para que a ciência seja menos velada e mais palpável, mais possível de ser consumida e de causar interesse nas novas gerações para o estudo.
A vida de uma cientista astrofísica exige muitíssima dedicação, pesquisa e esforço. Estão envolvidas em congressos e carreira acadêmica, elaborando livros, pesquisando, participando de enormes projetos que contribuem para a descoberta do universo, em suma, estão quase o tempo todo imersas em laboratórios. No entanto, como falou Duilia durante entrevista à Tribuna, é preciso que esses renomados físicos, astrônomos, matemáticos “saiam do armário”, no sentido de se dedicarem um pouco à fazer que se quebre esse distanciamento da sociedade em geral com as descobertas científicas.
Duilia de Mello está ativa nas redes sociais, como Twitter e Facebook, posta e responde ela mesma as mensagens e comentários, está conectada e é bastante acessível. E olha que ela, além de astrofísica colaboradora de projetos da Nasa, é vice-reitora da Universidade Católica de Washington D.C, e também reconhecida por ter feito importantes descobertas que contribuem para desvendar mais uma parte da história do universo, entre elas, a supernova SN1997D e as estrelas conhecidas como bolhas azuis. Atualmente Duilia tem a página no Facebook “Mulheres das Estrelas” com mais de dez mil seguidores e criou a plataforma A.M.E (Associação Mulheres das Estrelas), um projeto de responsabilidade social, envolvendo o incentivo ao estudo do campo científico aos estudantes, principalmente às mulheres e minorias, como uma carreira possível, sem barreiras de gênero e classe social.
Duilia sabe que as mulheres ainda são minoria na astronomia, apesar de nomes bastante influentes que quebraram qualquer preconceito. Casos famosos, por exemplo, foram contados recentemente no filme “Estrelas Além do Tempo”, sobre três mulheres negras da Nasa que foram de suma importância para calcular manualmente as equações necessárias para a chegada do ser humano à lua, foram elas: Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson. “O que mais me preocupa é quantas soluções, quantas coisas que já poderiam ter sido feitas e que não foram feitas porque 50% da população está sendo excluída. Uma menina da África poderia ter sido uma grande cientista, o novo Einstein ou uma nova Marie Curie, e ela não fez aquilo porque não foi estimulada”, lamenta Duilia sobre a majoritária participação masculina nas ciências exatas.
A astrofísica tem o universo na palma de suas mãos e em uma de suas palestras no TED Talks ela fala sobre a enorme explosão estelar que deu origem a cada átomo do nosso corpo. Para Duilia, se somos oriundos de uma reciclagem cósmica, não podemos esquecer que o brilho no olho de um(a) estudante que sonha em enveredar no campo da astronomia é o mesmo brilho das estrelas e que todos podem escolher essa carreira. Esse é seu grande papel, olhar para cada um como um universo capaz de descobrir em si seu próprio talento e, principalmente, ser estimulado para que siga adiante, sem qualquer sentimento de inferioridade ou desestimulo.
Parentes em JF
Nascida em Jundiaí (SP) e morando atualmente nos Estados Unidos, a astrofísica tem familiares em Juiz de Fora, incluindo sua mãe que aqui reside atualmente. Duilia era uma estudante de escola pública do Rio de Janeiro quando se encantou pelas sondas espaciais da Nasa. Naquela época decidiu que queria descobrir, literalmente, mais sobre o mundo. Entrou para a Faculdade de Astronomia da UFRJ e se aprofundou ainda mais no mestrado e doutorado que sucederam seus estudos, sempre recorrendo às bolsas de estudo e produção científica durante toda sua longa trajetória de sucesso.
Palestra Vivendo com as Estrelas
Anfiteatro 2 do Prédio Itamar Franco
(Fac. de Engenharia UFJF)
15h