Desde 1992, o dia 22 de março é a data para lembrar a comunidade internacional sobre o principal recurso da natureza: a água. A celebração foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) de forma a levantar pautas essenciais envolvendo os recursos hídricos. Em busca de conscientizar sobre os cuidados com a água desde cedo e sobre como o recurso está interligado a diferentes âmbitos da sociedade, escolas em Juiz de Fora têm realizado projetos que vão além do Dia Mundial da Água, celebrado nesta sexta-feira.
Entre as diferentes temáticas sobre o Dia da Água que serão abordadas na Escola Estadual Fernando Lobo, a instituição escolheu a relação com a dengue como o “carro-chefe” das atividades com os alunos. A proposta é incentivar o cuidado para que a água não vire foco de insetos como o Aedes aegypti. De acordo com o professor de Ciências Anderson Marques de Souza, todos os anos a escola promove ações na semana comemorativa e, para 2024, o tema da dengue foi pensado por conta do cenário epidemiológico da doença em Minas Gerais e em Juiz de Fora.
“Nós ainda continuamos sendo negligentes em relação ao acúmulo de água em reservatórios que são facilmente, digamos assim, organizados pela população. Falta orientação e falta a procura dos agentes de saúde pública para orientar as escolas e as famílias”, explica. “Nós não podemos esquecer que a falta de comunicação e a falta de orientação correta fazem com que essa água não tratada ou tratada de maneira negligente contribua para o quadro evoluído da dengue verificado hoje.”
Na Fernando Lobo, o professor irá promover atividades relacionadas à temática com alunos do sexto e sétimo anos do Ensino Fundamental, como criação de slogans para campanha contra a dengue, desenvolvimento de checklist para orientar as famílias sobre o cuidado com possíveis focos de criadouros de pernilongos e uma simulação do serviço especializado de agentes sanitários. Neste caso, os alunos buscam possíveis locais de acúmulo de água que possam se tornar criadouros do Aedes aegypti.
“O trabalho começa na escola como orientação, mas nunca é conhecimento se essas crianças não levarem para casa”, diz.
Conscientização desde os primeiros anos
Contação de histórias, confecção de cartazes e rodas de conversas sobre a preservação e a economia de água estão entre as atividades promovidas pelo Colégio Academia para os alunos da educação infantil. A conscientização começa desde cedo, com crianças de um a cinco anos e, apesar do assunto ganhar mais destaque no Dia da Água, a instituição sempre procura abordá-lo com os estudantes em outros momentos, de acordo com a coordenadora da Educação Infantil do colégio, Rosely de Souza Pinheiro.
“Nós damos ênfase nesta semana por eles estarem ouvindo nos telejornais, as famílias estarem fazendo comentários, mas nós trabalhamos isso o tempo todo, desde o momento de escovar os dentes com a torneira fechada, de lavar as mãos usando pouca água e na hora de tomar banho para ser mais rápido, com a intenção de formar cidadãos que se percebam responsáveis pela preservação da água no planeta.”
Conforme Rosely, a conscientização sobre o tema e outros assuntos envolvendo o meio ambiente devem se iniciar desde cedo, sendo que a escola possui upapel fundamental neste processo, considerando que as crianças passam grande parte do tempo e, até mesmo, de sua vida ativa, nas salas de aula. Além disso, elas replicam o conhecimento adquirido em suas próprias casas.
“Já ouvi pais de crianças pequenas falarem que, na hora de lavar o carro, a criança pede para fechar a mangueira, para não ficar gastando água à toa.”
Ações educativas em Monte Verde
Associar a educação à conscientização sobre a importância da água teve efeitos práticos na Escola Municipal Padre Caetano, localizada no Distrito de Monte Verde. A região não possui água tratada, mas, por meio de verba do Governo federal e de uma parceria com o Instituto Albert Sabin e o movimento Global Wash, a instituição conseguiu implementar um filtro na escola que tem melhorado a qualidade da água.
O Programa Água Viva teve início em 2021, com diagnóstico da situação da comunidade escolar e, em 2022, passou a levar ações de sensibilização e mobilização aos alunos. A escola recebeu recursos federais em 2023, o que possibilitou a construção de um filtro que remove as impurezas da água. A construção do equipamento foi feita pela equipe da Global Wash , e, desde agosto do ano passado, quando começou a operar, já tem apresentado resultados.
De acordo com Fernanda Deister Moreira, líder da iniciativa, os professores da escola relatavam que, por conta da falta de tratamento de água, as crianças frequentemente faltavam às aulas por conta de problemas gastrointestinais. Porém, com o filtro instalado no local, essas reclamações teriam diminuído. Como ressaltado por Fernanda, que também é engenheira ambiental, pesquisadores da UFJF vêm monitorando a qualidade da água na escola e um estudo demonstrou resultados positivos sobre o funcionamento do equipamento.
Além da construção do filtro, o Água Viva leva atividades educativas para a Escola Municipal Padre Caetano, atuando diretamente com as crianças sobre a conscientização da água para além da data de celebração. “Todo sábado letivo, nós tínhamos atividade com as crianças e, nesses dias, levávamos temas relacionados ao direito à água, direito ao saneamento, os caminhos da água e ainda fazíamos atividades com eles”, explica Fernanda. “No início, vimos um pouco de resistência porque algumas crianças achavam que o sábado letivo era para jogar queimada. Depois, os próprios diretores falavam que elas perguntavam quando seria o próximo sábado que nós iríamos até a escola.”
O resultado positivo da iniciativa levou a escola a manifestar interesse em colocar o programa como planejamento pedagógico. Para o Dia da Água, especificamente, o Água Viva irá promover uma manhã de atividades para a comunidade de Monte Verde, na praça do distrito. A partir das 9h deste sábado (23), haverá apresentação teatral dos alunos, dinâmicas, gincanas e outras brincadeiras temáticas, além da entrega de materiais informativos.
Paralelamente às ações na escola, as instituições envolvidas no projeto também criaram um comitê de governança, cuja proposta é reunir representantes do setor público e da comunidade para debater a questão do tratamento da água no distrito.