Com o coronavírus, muitas pessoas se perguntam como agir com os animais de estimação que vivem junto aos humanos. A resposta dos veterinários é que dentro ou fora da quarentena, os bichos precisam receber cuidados especiais para que não transportem o vírus entre pessoas através do toque. Transportar, porém, não quer dizer transmitir, já que, segundo especialistas, esse vírus não é contraído por cães ou gatos. Esses animais possuem seu próprio coronavírus, o alphacoronavírus, que teve incidência no Brasil na década de 1980, quando passaram a ser produzidas vacinas de prevenção para cães.
Entre as recomendações de cuidados com os bichos durante a pandemia, estão as restrições de passeio e interação. Em Juiz de Fora, as clínicas veterinárias continuam autorizadas a funcionar, sendo uma das exceções do decreto municipal publicado na última sexta-feira (18). Mas as idas ao veterinário devem ser feitas com precaução pelos tutores e planejamento pela equipe médica. Os pet shops, porém, assim como outros setores comerciais que não são citados na lista de exceções, devem ficar fechados.
Para entender melhor sobre os cuidados que devem ser tomados pelos tutores, a Tribuna conversou com o médico veterinário Paulo Henrique Mendes Barra.
Tribuna – Os animais podem contrair ou transmitir a Covid-19?
Paulo Henrique Barra – Não. Os cães e gatos têm seu próprio coronavírus, o alphacoronavírus, que causa sintomas gastroentéricos, como diarreia e vômito em cães. Já nos gatos, o vírus transmite a kryptonite infecciosa felina. Inclusive os cães são prevenidos com as vacinas V8 ou V10. Esse vírus nada tem a ver com a Covid-19 (betacoronavírus), que ataca as vias respiratórias de seres humanos. Humanos não passam o betacoronavírus para animais, e animais não passam o alphacoronavírus para humanos.
– O vírus pode ficar nos pelos dos animais após o toque de uma pessoa com diagnóstico positivo e, assim, transmitir a outra pessoa saudável que toque o bicho depois?
– Sim, assim como em qualquer superfície de contato (objeto), como celular e cadeira, isso também acontece com o animal. Por isso, o Conselho Federal de Medicina Veterinária recomenda que tutores que estão infectados pelo Covid-19 façam uma quarentena de convivência com seus pets por prevenção, apesar de não haver transmissão.
– Se um animal lamber uma pessoa infectada e depois lamber alguém saudável, é possível transmitir a Covid-19?
– Não há nenhuma pesquisa que comprove isto, até porque a saliva tem um componente ácido.
– Como deve ser o cuidado com os animais durante a quarentena?
– As pessoas que têm animais devem evitar sair para passear com eles na rua, pois o vírus pode alojar na pele do animal. Se o cachorro só faz a higiene na rua, sai, vai até o poste próximo, volta e passa álcool em gel nas patas do cão. Pode ser feita essa prevenção com o animal até umas duas vezes por dia, e não pode passar nos pelos, pois resseca. É preciso segurar o animal e distraí-lo enquanto o álcool seca, pois se lamber ou só de sentir o cheiro, incomoda. Além disso, antes de colocar água e comida para o animal, o tutor deve higienizar as mãos para não contaminar as tigelas.
– Ao suspender os passeios, o que podemos fazer para não afetar o bem-estar do animal?
– Devemos interagir com os animais da mesma forma que fazemos com a família. As pessoas que não estão infectadas podem conviver normalmente. Podem utilizar brinquedos inteligentes, que têm orifícios onde coloca-se rações e biscoitos, e o animal corre, brinca e interage. Se a pessoa estiver infectada, mas o animal não sair na rua (e não tiver contato com outras pessoas), pode brincar com ele.
– O que fazer quando os animais são acostumados a compartilhar camas e sofás?
– Se isso é um hábito e esse animal fica dentro de casa e não tem acesso à rua, é vermifugado e vacinado, eu não vejo problema em ficar em cima das camas. Mas se tem contato com a rua e com os outros animais e pessoas, pode transportar o vírus para casa. Se uma pessoa que está com Covid-19 tosse e espirra em cima desse animal, ele vai levar o vírus para casa. E, na casa, quanto mais o animal for para um lado e outro, mais distribui o vírus.
– É possível tirar o vírus da pelagem do animal com um banho?
– Sim, porque esse vírus é sensível a produtos químicos. O shampoo usado vai matar o vírus. Mas não pode dar banho no animal todos os dias, porque a pelagem deles é sensível. Se o animal está dentro de casa e todos estão de quarentena, vamos dar banho uma vez por semana com o shampoo que é próprio para ele.
– Como proceder com gatos, que costumam sair de casa sozinhos e não gostam de banho?
– Os gatos são andarilhos mais escondidos, andam em muros, telhados e terrenos vazios, não têm muito contato com as pessoas na rua. Isso diminui a possibilidade de alguém espirrar ou tossir sobre eles. Um procedimento que pode ser feito é utilizar banho a seco, com spray veterinário, que pode ser usado umas duas vezes por semana. Além do álcool em gel nas patas quando voltar para casa, se for possível. E em ambientes expostos ao sol, o vírus não resiste muito tempo a ponto de passar para as patas dos gatos e transmitir para alguém. Já o cão tem contato mais próximo, anda em coleira e guia, tem um convívio social mais intenso nas ruas.
– Pessoas que tenham pássaros em casa também precisam tomar algum cuidado?
– Não há muita preocupação com os pássaros, a menos que a pessoa que esteja com o vírus tussa ou espirre no pássaro ou na gaiola e alguém toque ao tratar desse pássaro. Mas isso aconteceria da mesma forma que se tocar em uma maçaneta, por exemplo.
– Como proceder quando precisar levar o animal ao veterinário?
– Chegue para ser atendido no horário marcado para não ficar na sala de espera junto com outros animais ou pessoas. O veterinário deve limpar o ambiente onde os animais são atendidos, passando álcool em gel, hipoclorito ou composto quaternário de amônia, que são produtos (de limpeza) indicados para combater vírus. Até o momento, em Juiz de Fora, não há uma medida para que as clínicas e hospitais veterinários fechem.
– Como os animais podem ajudar as pessoas que têm que ficar em casa?
– Ter um animal em casa é uma maneira de interagir e tirar um pouco a pessoa desse estado de morbidade, negatividade, medo e pânico. Pode fazer um carinho, propor um convívio social, que é a função primordial do animal de estimação. Principalmente para idosos que estão dentro de casa, sem passear com o cachorro.
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