
O estudo de tráfego realizado no Bairro Estrela Sul, em Juiz de Fora, está completando um ano sem que nenhum resultado tenha sido apresentado ou aplicado na prática para melhorar os frequentes “nós” no trânsito e os riscos para pedestres que ocorrem na região, principalmente nos horários de pico. Conforme a Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra), o projeto foi aprovado e, atualmente, “está em fase de análise jurídica para que seja viabilizada a sua implantação”, sem prazo para o término desta etapa.
Para verificar o comportamento de pedestres e motoristas no local, a Tribuna esteve na rotatória entre a Alameda Pássaros da Polônia e a Ladeira Alexandre Leonel, que liga os bairros São Mateus e Cascatinha, entre 18h e 18h30 da segunda-feira, dia 11, a fim de observar as dificuldades enfrentadas por quem transita pelo local. Os veículos sofrem com retenções nos vários cruzamentos da área. Entretanto, os pedestres são os mais prejudicados. Quem anda a pé pela área não conta com pontos para passagem segura. Com isso, muitos se arriscam para atravessar entre as vias que cruzam a rotatória, mesmo com dificuldade para visualizar veículos vindos de diferentes direções em determinados pontos.
Proprietário de uma padaria na Alameda Pássaros da Polônia e morador da Avenida Luz Interior, no Estrela Sul, Tom Cocovick acredita que o trânsito próximo a rotatória é desordenado, além de notar falta de sinalização. “As vias podem ser utilizadas, por exemplo, por dois veículos. Se você se mantém à direita quando está descendo a Alameda Pássaros da Polônia, deve ir em direção à Rua São Mateus; se a esquerda, você vai reto para o shopping, só que não tem sinalização nenhuma”, diz. “É mal sinalizada, inclusive, para pedestres. Se os moradores descerem a pé para ir para o shopping, eles não conseguem atravessar pela rotatória.”
‘Cidades para pessoas’
Conforme José Luiz Britto Bastos, mestre em Engenharia de Transportes, entre os problemas encontrados na área próxima à rotatória, um dos mais críticos é a ausência de preferência para pedestres. “A primeira coisa que temos que fazer ao implantar vias é pensar no pedestre. Depois, você vai pensar no resto. Cidades para pessoas”, explica. “Tem que ter faixa de pedestre exatamente para as pessoas procurarem fazer a travessia nos locais certos.” Além das proximidades da rotatória do Estrela Sul, Bastos destaca a Curva do Lacet e a rotatória próxima à Ascomcer, ponto de cruzamento entre as avenidas Presidente Itamar Franco e Doutor Paulo Japiassu Coelho, onde os pedestres também enfrentam dificuldades para realizar travessias.
A rotatória entre a Alameda Pássaros da Polônia e a Ladeira Alexandre Leonel serve de acesso para diferentes bairros da Zona Sul. Moradora do Santa Cecília, Rayza Fernandes Neves costuma se deslocar a pé na área próxima à rotatória e relata que sempre encontra dificuldades para atravessar as vias, especialmente nos horários de rush. “É bem complicado atravessar porque não tem faixa, não tem sinal, não tem nada. A maioria das pessoas não respeita e nem liga. Podemos ficar aqui meia hora tentando atravessar e ninguém se importa.”
Além disso, a área conta com locais que atraem grande número de pessoas, como shopping, mercado e instituições de ensino, contribuindo para o fluxo intenso. Cassiano Furtuoso, estudante de Biologia do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES/JF), encontra dificuldades para ir à faculdade, que fica na Avenida Luz Interior, seja de ônibus ou a pé. Quando circula no transporte coletivo, é comum enfrentar retenções no trecho. “Chego atrasado nas aulas direto por conta do trânsito. Acredito que a faixa de pedestre e a sinalização seriam o ideal, porque até de carro você fica perdido. É uma bagunça. Talvez até um guarda de trânsito, pelo menos, para melhorar o tráfego porque os motoristas não pensam que têm que dar preferência ao pedestre.”
Aumento da frota é um dos fatores
A frota de Juiz de Fora teve um crescimento de cerca de 75% nos últimos dez anos, segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Em janeiro de 2009, a frota era composta por mais de 150 mil veículos, enquanto, em janeiro de 2019, foram registrados quase 270 mil. Segundo José Luiz Britto Bastos, mestre em Engenharia de Transportes, os números representam uma dependência grande do automóvel pela população juizforana. “As pessoas utilizam o automóvel para tudo, até porque o transporte público não oferece condições para que as pessoas deixem o automóvel em casa para poder seguir para seu destino de ônibus. Bicicleta também é uma alternativa como meio de transporte, mas Juiz de Fora não tem uma infraestrutura: não temos rede cicloviária, nem ciclovias ou ciclofaixas. Temos as ciclorrotas, mas são utopia, simplesmente para indicar para outros veículos que existe naquele local bicicletas passando. Isso não aumenta a segurança para os ciclistas.”
Causa das retenções
A utilização excessiva de automóveis, juntamente com a característica estreita das vias, conforme o especialista, são umas das principais causas das retenções observada na região. Algumas medidas, segundo Bastos, poderiam ser tomadas. “O problema dessa rotatória é que chegou a ficar exaurida. Uma rotatória, quando chega no ponto que essa chegou, acredito que, muitas das vezes, é preciso semaforizar. Se você não diminuir o fluxo, ele vai aumentar cada vez mais. Vai complicar, e a probabilidade de acidente é muito maior, até porque as pessoas não respeitam muito o comportamento que se deve ter nas rotatórias”, explica.
Diminuir o fluxo de veículos é um desafio para a cidade, mas deve ser pensado a fim de resolver muitas situações complexas do trânsito em Juiz de Fora. “Nós precisamos de um planejamento viário mais acelerado, porque tem muitas providências que você pode tomar através disso. Pode modificar muita coisa para melhorar o trânsito. O que não podemos, por exemplo, é abrir ruas para isso. Quanto mais espaço público você oferecer para o automóvel, mais automóvel nós vamos ter.” Entre possíveis soluções, Bastos cita rotatividade de placas e investimento em transportes de massa. “Em cinco ou dez anos, vamos ter uma cidade completamente engessada. Quem vai andar melhor, é quem estiver a pé.”
Estudo para segurança viária
O estudo de tráfego para melhorar a segurança viária foi realizado em março de 2018 pela Settra, com a análise concentrada na rotatória de acesso ao Estrela Sul, entre a Ladeira Alexandre Leonel e a Alameda Pássaros da Polônia, além de outras áreas de grande movimento na região. A pesquisa, custeada por três empresas instaladas nas proximidades, se constituiu na contagem volumétrica de veículos, com o objetivo de traçar o perfil dos condutores da região. A partir desse levantamento, simulações iriam definir os melhores meios para solucionar o problema de trânsito na região.
Em nota, a Settra informou que as solicitações da população serão resolvidas com a execução do projeto oriundo do estudo de tráfego. A pasta comunicou, ainda, que “atualmente, está em fase de elaboração do termo de convênio entre a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) e os empresários do entorno para concretização da parceria”.