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Autuações crescem 48% em um ano

avanco de semaforo foi uma das infracoes que cresceu na cidade

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Avanço de semáforo foi uma das  infrações que cresceu na cidade
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Avanço de semáforo foi uma das infrações que cresceu na cidade

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Veículos desrespeitam estacionamento de táxis na Itamar Franco

O juiz-forano está mais mal-educado e imprudente no trânsito. O número de autuações registradas na cidade ultrapassa a casa dos 140 mil no somatório dos dois últimos anos. E estes dados só vêm crescendo. De 2013 para 2014, houve um aumento de 48% nos registros de multas, que saltaram de 56.700 para 84.100, segundo a Settra. Para piorar a situação, o número de infrações por excesso de velocidade dobrou, passando de 16.969 para 34.346 (ver quadro). Dados da Polícia Militar confirmam o quadro. Na comparação com o mesmo período, o crescimento, segundo a corporação, foi de cerca de mil infrações registradas, conforme levantamento feito pela Tribuna.

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Parte desta realidade se deve ao crescimento no número de radares instalados na cidade no último ano e de blitze realizadas pela polícia. Porém, ao mesmo tempo, os equipamentos de fiscalização acabam escancarando ainda mais a falta de respeito às leis de trânsito e o consequente risco vivido diariamente por condutores e pedestres.

Não é preciso se basear em números, basta circular pelas principais ruas da cidade, e inúmeras cenas de imprudência e falta de respeito, acompanhadas de buzinas e xingamentos, são presenciadas. O resultado são acidentes frequentes e, muitas vezes, com vidas perdidas. Minas Gerais é o segundo estado brasileiro com maior número de mortes no trânsito e, em Juiz de Fora, esta violência não é diferente. Somente neste ano, sete pessoas já morreram atropeladas nas ruas da cidade.

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Conforme o chefe do Departamento de Fiscalização da Settra, Paulo Peron, este aumento no número de infrações não significa que as ocorrências estão acontecendo em maior quantidade, mas sim que agora elas estão sendo flagradas. “Antes o motorista cometia o ato, mas não era autuado. O equipamento eletrônico serve para fiscalizar 24 horas por dia, algo impossível para agentes da Settra ou policiais militares.” Em 2014, foram instalados novos radares nas avenidas Rio Branco, Brasil e Doutor Paulo Japiassu Coelho. “A tendência é que o número de multas diminua naqueles locais onde os sistemas foram instalados”, garante. Ainda de acordo com Peron, existem planejamentos a respeito da ampliação de fiscalização eletrônica na cidade.

 

Motociclistas

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Outras práticas irregulares que estão entre as mais praticadas pelos motoristas juiz-foranos são: estacionamento proibido, avanço de semáforo, uso de celular ao volante e deixar de usar o cinto de segurança, conforme a Settra. Já o comandante do Pelotão de Policiamento de Trânsito (PPTran) da PM, tenente Rodrigo Oliveira, informa que a maior parte das infrações registradas pela polícia é decorrente de fiscalizações de rotina. “Aumentamos a quantidade de blitze na cidade. Aliado a isto, houve um crescimento considerável na frota de veículos. Ou seja, as pessoas estão praticando as infrações e sendo identificadas.” De acordo com o tenente, uma das principais infrações refere-se a inabilitados guiando motocicletas. “Damos ênfase nas fiscalizações em motociclistas, principalmente pelo uso deste tipo de veículo para fuga após furtos e roubos”, explica.

Vale ressaltar que alguns dos números divulgados pela Settra e pela Polícia Militar coincidem, pois existem infrações de competência mista, como uso de celular ao volante ou a falta do cinto de segurança.

Desrespeito às normas

O chefe do Departamento de Fiscalização da Settra, Paulo Peron, ressalta que trabalhos de educação para o trânsito e fiscalizações são realizados de forma constante, passo fundamental para coibir a prática infracional. “As pessoas têm dificuldade em respeitar as normas de trânsito. Obviamente nosso trabalho não consegue abranger todas as imprudências e em algum momento o condutor vai acabar sendo pego. A realidade é que é muito difícil mudar o comportamento das pessoas, e este mau posicionamento no trânsito é uma realidade brasileira. O corre-corre do dia a dia, as cobranças, a vontade de tirar o maior proveito possível se reflete no trânsito e acaba prejudicando ainda mais a qualidade de vida. É necessária uma mudança cultural”, sugere.

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Para o professor em psicologia social da UFJF Lélio Lourenço, vários fatores influenciam na violência e problemas no trânsito, como a estrutura física da cidade, aumento no número de veículos e a grande quantidade de motoristas jovens. “Pesquisas apontam uma tendência nacional para aumento de acidentes, principalmente envolvendo motos, nos últimos 15 anos. E a maioria dessas vítimas é de jovens, mais dispostos ao descumprimento de regras devido a um reforço social neste sentido.”

Ele explica que as pessoas têm a tendência a acreditar que estas pequenas infrações não interferem no cotidiano e são de menor importância. “O indivíduo critica o político corrupto, mas faz o que bem entende no trânsito, achando que aquilo é natural. Parar o carro em local proibido é visto como algo pequeno, sem perigo. Uma coisa rápida que não é vista sob a perspectiva errônea.”

Além disso, ele cita que a questão da agressividade é um reflexo também da falta de planejamento das cidades. “Um dos maiores problemas de Juiz de Fora hoje é o trânsito. Os engarrafamentos são desproporcionais ao tamanho da cidade, e isso acaba causando uma certa violência. Vemos pessoas que estão com a razão perder o controle. Precisamos reforçar a educação para o trânsito, tanto em termos de palestras e campanhas, quanto em sinalizações para deixar a cidade mais bem estruturada.”

Minas é 2º estado com mais mortes

Minas Gerais é o segundo estado em número de óbitos no trânsito – ficando atrás apenas de São Paulo. Belo Horizonte é a terceira capital que mais mata. Os dados são do Retrato da Segurança Viária no Brasil e foram divulgados no último mês pelo Observatório Nacional de Segurança Viária. A pesquisa baseia sua análise em estatísticas de 2001 a 2012 sendo que, neste último ano, foram 4.623 mortes no estado. “A gente trabalha com este tipo de dado para analisar o perfil do público que se envolve nestes acidentes, e a conclusão é que a maioria dos motoristas tem entre 18 e 45 anos. Juiz de Fora está dentro deste contexto, e o alto número de infrações registradas é um reflexo disso”, opina um dos criadores do Movimento “Não foi acidente”, Ava Gambel.

O movimento, um dos símbolos na luta pela paz no trânsito, foi criado após a morte da mãe e da irmã de um amigo de Ava, provocada por um motorista alcoolizado em São Paulo. O objetivo do projeto é melhorar as leis de trânsito brasileiras nesta área.

Para Ava, a crença na impunidade por parte dos motoristas é um dos principais problemas para a falta de respeito. “As leis brasileiras são muito brandas. Se a pessoa mata no trânsito, ela não será julgada pelo crime e sim pelo acidente. Como os motoristas sabem da falta de fiscalização e punição, eles fazem o que querem. Basta observar as ruas de Juiz de Fora, principalmente nos fins de semana, por volta das 5h da manhã, quando não existem agentes ou policiais nas vias públicas. Os carros trafegam em altíssima velocidade. Não adianta somente pregar o aumento de multas, a pessoa paga e fica livre. As leis precisam ser pesadas, em todos os sentidos.”

Reeducação

Para ele, seria importante criar um centro de reeducação de condutores. “Quem comete uma infração deveria ser encaminhado para assistir pelo menos uma palestra. Não existe acidente, existe infração. Um acidente vai substituindo o outro e caindo no esquecimento. No final das contas, quem sofre são os familiares das vítimas.”

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