As Forças de Segurança Pública de Juiz de Fora aderiram ao movimento grevista deflagrado, em Belo Horizonte, na segunda-feira (21), e cobram que haja compromisso do Governo estadual pela recomposição inflacionária dos salários dos servidores. Na manhã desta terça (22), durante reunião realizada na sede do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil de Minas Gerais (Sindpol/MG), contando com a participação de representantes dos policiais penais, dos policiais militares e do Corpo de Bombeiros, além dos policiais civis, ficou definido o trabalho em escala mínima. De acordo com o vice-presidente do Sindpol, o delegado Marcelo Armstrong, a Polícia Civil irá manter o funcionamento da Delegacia de Plantão, em Santa Terezinha, para o atendimento apenas de flagrantes, com redução a 30% do quadro. Ainda segundo ele, a Delegacia de Trânsito também irá manter atendimento com percentual reduzido de servidores. Os bombeiros vão atuar da mesma forma que a PM, atendendo os chamados de casos graves, que exigem intervenção imediata.
No que se refere aos policiais penais, Armstrong afirmou que ficou definido que, por falta de pessoal, a categoria irá suspender o banho de sol dos prisioneiros e a visitação enquanto durar a paralisação. Sobre a Polícia Militar, a definição é de que corporação vai manter a operação padrão, não realizando operações de iniciativa, ou seja, só vão agir em caso de convocação. “Todos estamos indignados e procurando nossa forma de participar dessa greve, com todos trabalhando em escala mínima, até que o Governo cumpra seu acordo”, ressaltou o sindicalista.
O presidente da Associação do Sistema Socioeducativo e Prisional de Juiz de Fora (Assprijuf), Wanderson Pires, confirmou, na manhã desta terça, que o órgão estava articulado com o Sindpol, para adesão ao movimento. De acordo com o presidente, a tendência é que a categoria aprove a paralisação, o que resultaria na manutenção apenas dos serviços de alimentação dos detentos e os atendimentos de saúde emergenciais na Penitenciária Professor Ariovaldo Campos Pires, com todos os demais procedimentos sendo interrompidos.
Movimento começou em BH
As manifestações contra o Governo estadual começaram na manhã de segunda-feira, quando cerca de 30 mil pessoas se reuniram no entorno da Assembleia Legislativa de Minas (ALMG), em Belo Horizonte. O ato cobrou, principalmente, a recomposição salarial de 24% que foi proposta por Romeu Zema no fim de 2019, mas vetada por ele próprio após ter sido aprovada no Legislativo. A manifestação, além de policiais militares da ativa, reuniu policiais civis e agentes penitenciários.
Os servidores da Segurança chegaram a entregar ao presidente da ALMG, deputado estadual Agostinho Patrus (PV), um manifesto contra o Regime de Recuperação Fiscal (RRF), que possibilitaria, segundo os representantes das categorias, a estagnação salarial dos trabalhadores. No documento, os servidores também exigem o cumprimento do acordo assinado com o Governo em 2019, que previa a recomposição salarial em três parcelas. O Estado pagou apenas uma. Conforme o manifesto, a perda salarial calculada pela inflação do período de 2015 a 2021 chega a 50,75%, medida pelo Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA).
Em nota divulgada na manhã de segunda-feira, o Governo de Romeu Zema disse que sabe da necessidade da recomposição salarial para o funcionalismo público, mas alegou que isso será possível a partir do ingresso no Regime de Recuperação Fiscal. Quanto à crítica dos manifestantes sobre a falta de abertura para diálogo, o Governo diz que mantém as conversas. “A atual gestão reconhece a importância dos profissionais das Forças da Segurança para o Estado. Por isso, eles receberam reajuste de 13% em 2020.”
A Tribuna enviou questionamentos ao Governo de Minas sobre os possíveis prejuízos aos serviços de segurança em todo o estado, além de questionar sobre o estágio das negociações e as possibilidades enxergadas pelo Executivo estadual para chegar a um acordo com os servidores. Entretanto não houve resposta do Estado até o fechamento desta edição.
Zema exonera onze servidores lotados em cargos comissionados da Polícia Civil
Em meio a uma série de protestos dos servidores de Segurança, o governador Romeu Zema (Novo) publicou, no Diário Oficial, nesta terça-feira (22), a exoneração de onze profissionais que estavam lotados em cargos comissionados da Polícia Civil. Para parte da categoria, o movimento foi entendido como uma retaliação do Governo. Os sindicatos, no entanto, pedem cautela e afirmam que a ação de Zema está dentro da normalidade.
Os onze policiais exonerados agora retornam para o cargo original em que estavam lotados na instituição. De acordo com o Sindicato dos Servidores da Polícia Civil de Minas Gerais (Sindpol/MG), dentre eles está o delegado-geral Gustavo Adelio Lara Ferreira, que, na última semana, deixou o 4º Departamento de Polícia Civil de Juiz de Fora após completar 35 anos de efetivo exercício exclusivamente policial e em cargo de comissão ou função pública, conforme a atual lei complementar da Polícia Civil. Assim com esta, boa parte das exonerações ocorreram devido ao cumprimento da lei orgânica da instituição, que determina que as chefias intermediárias, sejam elas chefes de departamentos, delegados regionais, chefes de institutos, inspetores, chefes de cartórios e outras chefias, cumpram apenas cinco anos de exercício naquela unidade.
Com isso, para o Sindpol, fica claro que as exonerações não tiveram relação com a manifestação de greve por parte da Polícia Civil, porém não deixaram de causar agitação entre os membros da categoria. Em entrevista ao jornal O Tempo, o assessor do sindicato, Wemerson Oliveira, afirmou que a publicação no Diário Oficial, um dia após o protesto que reuniu milhares de polícias nas ruas de Belo Horizonte, teve o “timing” errado e aumenta o principal desafio dos últimos dias, que tem sido acalmar os ânimos das tropas. Ele acredita que a questão entre a categoria e o Governo será resolvida por vias legais. “Estamos com uma perda inflacionária de 37,5% no salário, então não temos muito mais a perder. Se houver algum tipo de retaliação dele (Zema), isso só vai inflamar mais a categoria, pois nós não vamos recuar”, diz.