“Graças a Deus vocês apareceram. A gente não aguentava mais.” A frase dita por uma menina de 11 anos, abusada pelo pai há pelo menos dois, ao sargento da Polícia Militar Bento Filho, segundo ele, o motivou a dar início a uma campanha para tentar melhorar as condições de vida da criança e de seus outros sete irmãos. O caso envolvendo a garota e sua irmã de 9 anos chocou a cidade esta semana. As duas eram mantidas em cárcere privado pelo pai, 33, que abusava sexualmente de ambas. Conforme a PM, durante os estupros, o homem, que está preso no Ceresp, ainda usaria pomadas anestésicas para aliviar a dor física das filhas e daria a elas remédios para que dormissem após as agressões, ocorridas frequentemente.
Sargento Bento foi um dos policiais que atendeu à ocorrência, registrada na última segunda-feira (19), e que veio à tona após a denúncia da avó das meninas. Segundo ele, as condições do imóvel assustaram os militares. Além do homem preso e da mãe das meninas, vivem no local outras filhas do casal, de 3 meses, 3 e 4 anos, e três meninos, de 5, 7 e 13 anos. “Eles vivem em condições insalubres. Não têm o básico. No dia da prisão, eu já havia ficado chocado com a situação em que eles estavam. É absurdo, muita sujeira, animais soltos. Voltei ao imóvel no dia seguinte. Assim que uma das meninas me viu de novo, me abraçou e agradeceu por ter livrado ela e a irmã dos abusos. Aquilo me tocou muito, então pensei que aquelas crianças já iriam crescer abaladas com tudo que passaram, como cresceriam em um contexto social daquele, uma pobreza extrema. E nós podemos ajudar nisso”, acredita.
O policial postou um vídeo nas redes sociais pedindo ajuda, e, segundo ele, falta tudo: comida, roupas, fraldas, móveis, eletrodomésticos. “Fiz contato com o meu comandante, capitão Marcelo Alves, que autorizou que a base de segurança que fica na Praça de Benfica fosse um ponto de coleta das doações. Eles precisam de tudo. Fizemos contato com o Canil Municipal para retirar os animais de lá, e também com o Demlurb, que vai disponibilizar um caminhão para que seja recolhido o lixo que iremos tirar da casa, vamos fazer um mutirão de limpeza. O Centro de Referência de Assistência Social da Prefeitura também foi procurado”, disse. O policial pede também que médicos, psicólogos e assistentes sociais voluntários ajudem a família. Na tarde desta quarta (21), o canil esteve no endereço e recolheu os cães que dividiam o espaço com a família. Também à tarde, enquanto a reportagem estava na residência da família, doações de alimentos, como leite e pão, além de fraldas, chegaram ao local.
Estão sendo arrecadadas roupas, fraldas descartáveis, alimentos, materiais de higiene pessoal e de limpeza , móveis usados e brinquedos. Para fazer o transporte, principalmente dos móveis, o militar precisa do trabalho voluntário de alguém que faça carretos. Quem puder ajudar deve procurar a Base de Segurança Comunitária da Polícia Militar que fica na Praça Jeremias Garcia, no Bairro Benfica, Zona Norte de Juiz de Fora, a partir de 14h. Há dois pontos de coleta no Centro: na Rua Marechal Deodoro 162, loja 6, os interessados podem ir ao local de segunda a sexta-feira, de 9h a 17h; outro endereço para doação é na Avenida Presidente Itamar franco 795. O funcionamento é de segunda a sexta-feira, de 9h a 18h30.