Em comemoração ao Dia do Gari, celebrado no dia 16 de maio, o Parque Municipal recebe neste domingo o evento “Domingou do Demlurb”, um dia de atividades com campeonato esportivo e o tradicional “Miss e Mister Gari”.
O concurso, que começou em 2002 apenas para as mulheres, passou a contemplar os servidores do sexo masculino em 2013 e, desde então, vem ganhando destaque por prestigiar e promover visibilidade a trabalhadores e trabalhadoras que atuam na limpeza da cidade.
Nos últimos dois anos, a pandemia tornou o concurso virtual, mas o desejo de construir um evento potente que marcasse o retornar às passarelas não cessou, comenta Weslla Nascimento, assessora do Demlurb. “Voltamos com muito vigor com esse concurso, porque é uma valorização do pessoal que está trabalhando com a limpeza urbana no dia a dia, contribuindo pela beleza da cidade.”
Para ela, o momento é um incentivo e um lembrete, não só para servidores e servidoras, mas também à sociedade, sobre a relevância da função desempenhada por estes profissionais. “Nada mais justo do que olhar para a beleza, que não é só estética, mas é interna de cada trabalhador. Eles brilham a cidade com a presença deles por aí.”
Para além do uniforme
Com seus trajes laranja fluorescente, o servidor e a servidora do Demlurb podem ser vistos de longe. Mas é chegando mais perto que pode-se conhecer as vivências e as histórias de cada um, para além da roupa chamativa.
Débora Ferreira, ou Débora Glamurosa, como é seu nome artístico, tem 33 anos e trabalha no setor de capina desde 2019. Ela contou à Tribuna como a rotina de gari a fez descobrir seu lado compositora. “Trabalhar no Demlurb me inspirou a fazer paródia. É o que me deu força pra ser reconhecida como Débora Glamurosa.”
Depois de ser convidada para conceder entrevista na Câmara a respeito da importância do serviço de gari para as pessoas com deficiência física, Débora descobriu o poder transformador de sua voz. “Achei muito bacana dar entrevista, participar de matérias, criar música.”
Desde então, Débora encontrou eco junto a outras trabalhadoras, que, unidas, formaram o grupo “As Glamurosas”. Com perfil no Instagram (@glamurosasjf) e mais de mil seguidores, o quinteto esbanja disposição e alegria. “Pra nos distrair e trabalhar mais feliz, começamos a fazer paródia, trocando as letras e cantando no meio da turma. Chegava no bairro, tinha que capinar, e tava chovendo? A gente fazia música porque estava chovendo.” As paródias foram ganhando força e, com isso, as letras passaram a ser homenagens em datas comemorativas, como no Dia da Mulher e também no Dia do Gari.
Preconceitos e avanços
O trabalho dos garis não é só musicalidade e alegria. O enfrentamento a situações de discriminação também ocupa a vida destes profissionais. Jorge Luís dos Santos tem 55 anos e trabalha no Demlurb há quatro. O gari conta que o serviço requer muita atenção e responsabilidade, nem sempre reconhecidas. “Às vezes somos desrespeitados nas ruas, e alguns jogam lixo no chão em nossa presença.”
Este cenário, por vezes hostil, também afeta a autoestima daqueles que estão iniciando na área. “No começo, eu fiquei com muita vergonha do meu trabalho, mas não sinto mais isso”, diz Denise Aparecida, de 56 anos, roçadeira desde 2021.
A despeito disso, esses profissionais vêm reivindicando espaço e angariando mudanças. Elisângela Aparecida é da varrição desde 2013 e conta como sua função abriu perspectivas e garantiu conquistas pessoais. “Depois que eu vim trabalhar no Demlurb, minha vida mudou muito, tive a minha independência financeira, saí do aluguel e trouxe meu esposo pra trabalhar na coleta.”
Dois anos depois, Denise Aparecida já se sente pertencente e segura em seu emprego e complementa: “Agora eu almoço na rua, até tiro cochilinho depois do almoço. É muito satisfatório ter orgulho de trabalhar capinando, varrendo e roçando.” Assim também é para Jorge Luís, que acredita estar contribuindo para um futuro melhor, “com pessoas se conscientizando sobre o nosso papel.”
Miss e Mister Gari
Nesta edição do concurso, 27 mulheres e 22 homens irão subir ao palco. Para a maioria de servidores sorteados, esta é a primeira participação.
A expectativa é alta, e as avaliações positivas, comenta Elisângela. “Não tinha participado de nenhum Miss Gari até hoje porque nunca tive coragem. Esse ano a gente teve mais incentivo e oportunidade. É muito bacana porque a gente está ensaiando e se divertindo muito.”
Para Denise, o concurso também é uma forma de apoiar a luta por maior valorização da classe. “É a primeira vez que eu concorro o Miss Gari e estou amando. Esses eventos dão mais valor para quem a gente é.”
Exclusivamente neste domingo, o Parque Municipal estará aberto apenas para convidados e convidadas do Demlurb.