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Incidente com avião de Alok é a 13ª ocorrência no Serrinha na última década

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(Foto: Olavo Prazeres)

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Dois oficiais e um técnico iniciaram levantamentos no local da ocorrência nesta segunda-feira (Foto: Olavo Prazeres)
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Uma equipe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) saiu do Rio de Janeiro e chegou ao Aeroporto Francisco Álvares de Assis (Serrinha), em Juiz de Fora, no final da manhã desta segunda-feira (21), para levantar as causas do incidente ocorrido às 16h30 de domingo com o avião que levava o DJ Alok, que se apresentou na madrugada de domingo na cidade durante a Festa Country. Dois oficiais e um técnico do órgão fizeram fotos e diversas medições na área, inclusive da pista, para avaliação das distâncias percorridas.

Um vídeo obtido com exclusividade pela Tribuna mostrou o instante em que o Cessna modelo 560XL inicia os procedimentos para a decolagem, passa em alta velocidade, mas acaba abortando o voo e freando, indo parar na área de escape. O trem de pouso da frente do avião chegou a descer o barranco, e muita fumaça pôde ser vista no local, porém não houve incêndio, apenas pequenas labaredas em função do acionamento do freio. Apesar do grande susto, ninguém ficou ferido. Nos últimos dez anos, o Cenipa contabilizou 13 ocorrências no Serrinha, sendo sete referentes à saída de pista. A maioria dos eventos, porém, é relacionada aos voos de instrução do aeroclube.

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O assessor da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de Juiz de Fora (Sedettur), Marcos Henrique Souza Miranda, disse que episódios de excursão de pista – quando uma aeronave sai da superfície da pista do aeródromo durante uma operação de pouso ou de decolagem -, são os incidentes mais comuns na aviação civil, podendo ser ocasionados por diversos motivos, como vento de cauda, um furo de pneu, derrapagem e condições meteorológicas adversas. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), entretanto, diz que o problema também pode ser caracterizado por condições impróprias de aderência da pista.

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O gerente do Serrinha, Luiz Fernando Rosa, descarta qualquer problema relacionado ao aeroporto que, segundo ele, estaria “funcionando muito bem”. Desde 25 de janeiro, a AMD Estações de Telecomunicações e de Tráfego Aéreo Ltda, prestadora de serviços especializados, vem operando o aeroporto. Em um comunicado oficial, a empresa informou que todos os procedimentos de resposta à emergência foram prestados dentro do tempo previsto, bem como o acionamento de ambulâncias e bombeiros militares para o atendimento emergencial.

Aeronave só deverá ser removida nesta terça-feira (Foto: Rodrigo Firjam)

A AMD diz, ainda, que desde que assumiu a administração aeroportuária do Serrinha, tem se empenhado em revitalizar e realizar a manutenção preventiva e corretiva de todos os Equipamentos e Sistemas do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (Sisceab) instalados no Aeroporto, tais como o Sistema de Energia Secundária, Auxílios à Navegação, Auxílios Visuais Luminosos, Sistema VHF e, principalmente, a implantação da nova Estação Meteorológica de Superfície Eletrônica Classe 3.

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Sobre as condições do avião e possíveis motivos do incidente, Marcos Henrique, da Sedettur, afirmou que qualquer alegação em relação ao episódio é prematura. “Qualquer coisa que eu falar seria leviano. Essas especulações surgem da necessidade de as pessoas quererem explicar alguma coisa que elas não conhecem”, afirmou, quando questionado sobre possíveis defeitos ou problemas no avião.

O piloto e o co-piloto que comandavam o avião durante o incidente também acompanharam o trabalho realizado pelo Cenipa no Serrinha. A aeronave deverá ser removida da pista nesta terça-feira, mas ficará em um hangar em Juiz de Fora. De acordo com o assessor da Sedettur, ela ainda passará por inspeções da Anac e só depois disso será liberada. Aparentemente, o Cessna não possui avarias, no entanto, só após o avião ser levantado e ter sido feito o acionamento dos motores e a inspeção das turbinas é que se saberá o real estado da aeronave. Esses procedimentos não têm data para ocorrer. O Aeroporto da Serrinha está parcialmente interditado, sendo que pousos e decolagens na direção oposta à do incidente, ocorrido na cabeceira 03, estão liberados.

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Artista mandou mensagem de dentro do avião minutos antes

Eram 16h15 de domingo, quando o DJ Alok mandou por mensagem de celular uma foto de dentro do avião para agradecer o presente que havia recebido da família do juiz-forano Dudu Mazzei, de quem o artista ficou amigo. Em 2015, o DJ conheceu Eduardo Mazzei, na época com 20 anos, filho de Dudu. Surdo de nascença, Eduardo tornou-se DJ na adolescência, e o trabalho do garoto sensibilizou Alok, que o apadrinhou, chegando a pagar um curso para o jovem na Academia Internacional de Música Eletrônica, em Campinas (SP), há três anos. Além do curso, Alok comprou um equipamento de som para Eduardo.

No último dia 20, por volta de meio-dia, o rapaz, o irmão dele e seus pais foram até o Hotel Premier se despedir de Alok, que já tinha agendado um show em Belém (PA). Muito cansado, o artista perdeu a hora e só atendeu a família de Eduardo por volta de 15h. Quando chegou ao Aeroporto da Serrinha, pouco antes das 16h, Alok foi reconhecido por fãs que pediam para tirar uma foto com ele.

Juiz-forano Dudu Mazzei, pai do também DJ Eduardo Mazzei, esteve com o cantor na tarde de domingo (Foto: Arquivo Pessoal)

Simpático, ele atendeu aos pedidos e se dirigiu ao portão que dá acesso à pista do Serrinha, posando para selfies. De lá, ele seguiu para o Cessna, para que os procedimentos do embarque fossem iniciados. Quinze minutos depois, o avião com o DJ e outras cinco pessoas entrou na pista acelerando para a decolagem. No entanto, a aeronave não saiu do solo, passando pela pista em alta velocidade. Por causa do som de freada, várias pessoas que acompanhavam o embarque do artista começaram a gritar. O avião ultrapassou a área de escape e, por pouco, não despencou do barranco. A administração do Aeroporto acionou o carro de emergência dos bombeiros, em função do risco de incêndio e explosão.

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Leonardo José, agente prisional de 39 anos que acompanhava a filha de 14 anos, fã do artista, também correu em direção ao avião para prestar socorro. Foi a esposa dele quem alertou que o avião onde o DJ estava não havia decolado. Quando chegou próximo à aeronave, os passageiros e os tripulantes já estavam deixando o Cessna. Segundo o agente prisional, Alok estava muito abalado. “Fui ver o que tinha acontecido e corri até a asa do avião. O Alok estava visivelmente abalado. Ele não falou muita coisa, só me agradeceu. Foi uma cena na qual pude perceber a grandiosidade de Deus”, disse, emocionado.

O DJ chegou a gravar um vídeo, logo após o incidente, no qual aparece ofegante, relatando o ocorrido. Ainda nas redes sociais, ele disse que não acreditava que ele e sua equipe sobreviveram ao evento. No Instagram, nova postagem: “Só consigo agradecer. Obrigada, Deus. Nascemos de novo”, escreveu. Ainda no Aeroporto da Serrinha, o produtor do artista, Felipe Barreto, foi procurado pela Tribuna, mas não quis dar declarações. A assessoria de imprensa do DJ Alok informou que o artista também não irá se manifestar, uma vez que ainda estaria abalado com o incidente.
Para o show do DJ em Juiz de Fora, o jato dele havia descido no Aeroporto Regional da Zona da Mata, no sábado, aterrissando domingo, no Serrinha, para buscar a equipe do artista.

Em dez anos, sete ocorrências de saída de pista

Levantamento da Tribuna aponta que, nos últimos dez anos, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) foi comunicado de 12 ocorrências no Aeroporto da Serrinha, em Juiz de Fora. Desse total, quatro foram registrados em 2009, dois em 2013 e 2018 e um nos anos de 2008, 2012, 2016 e 2017. Dos 12 registros, seis estão relacionados à “saída de pista”, como ocorreu no último domingo (20) na aeronave onde estava o Dj Alok, e que ainda não engrossa esta estatística. Se levar em consideração todo o espaço aéreo juiz-forano, o Cenipa contabilizou, em igual período, 20 ocorrências, sendo algumas relacionadas a panes em aviões durante voos.

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Em outubro do ano passado, em procedimento de pouso no Serrinha, ocorreu um incidente considerado grave, semelhante ao registrado no último domingo. De acordo com histórico apresentado pelo Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Sipaer), a aeronave Embraer EMB-500, com um tripulante e um passageiro, saiu do Santos Dumont, no Rio de Janeiro, com destino a Juiz de Fora, quando o piloto, no pouso, percorreu toda a extensão da pista sem conseguir parar, chegando a ultrapassar 200 metros após a cabeceira, no limite de uma ribanceira. Ambos saíram ilesos. Mais recentemente, em janeiro deste ano, um voo de instrução terminou com a aeronave saindo da pista pela lateral esquerda e capotando em seguida.

Das 12 ocorrências registradas, aliás, nove estão relacionadas a voos de instrução, dada a característica do Serrinha de servir como formação de novos pilotos. Entre as comunicações feitas ao Cenipa, estão casos como de 2016, quando o piloto, durante corrida de decolagem, perdeu o controle da aeronave, tocando a hélice no solo. E, em 2013, quando um avião vindo de Itaperuna (RJ) tocou na pista além do limite da pavimentação, causando instabilidade e parando apenas sobre uma área de vegetação. Em todas estas ocorrências, de instrução de pilotos, os ocupantes saíram ilesos.

Tragédia em 2012

Foi em um voo privado, porém, que ocorreu a maior tragédia da história do Serrinha. Em 28 de julho de 2012, um King Air, modelo B200, da industria Vilma Alimentos, caiu a 245 metros da pista, deixando oito pessoas mortas, entre elas o presidente da empresa e seu filho adolescente, além de o vice-presidente. Conforme relatório de investigação feito pelo Cenipa, a tripulação foi comunicada, via rádio, que as condições meteorológicas estavam abaixo do mínimo para um pouso por instrumento, por causa de névoa úmida, mas mesmo assim o piloto assumiu o risco e tentou o procedimento. Sem visibilidade, ele atingiu algumas árvores até cair em uma área de mata no terreno de uma pousada, quando houve a explosão.

Sem voos regulares

Em abril de 2014, o Serrinha deixou de receber voos regulares, após a Azul Linhas Aéreas desistir da operação alegando riscos. Na época, durante audiência no Ministério Público, representantes da empresa informaram que o Serrinha é adequado para voos executivos e de instrução, mas arriscado para voos regulares, por causa da inclinação da pista, a altitude, o relevo e a falta de uma área de escape considerada adequada.

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