O trecho da BR-440, que fica às margens da Represa de São Pedro, não tem futuro definido. No projeto inicial, o percurso ligaria a rodovia à BR-040, mas as obras estão interrompidas há mais de 20 anos. A via passou recentemente por processo de municipalização, deixando de ser responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit e passando, pelos próximos 30 anos, para as mãos da Prefeitura (PJF). Na sexta-feira (19), a prefeita Margarida Salomão anunciou a finalização do processo de concessão.
No edital fica claro que a municipalização contempla o trecho entre o trevo de acesso ao Bairro Jardim Casablanca e o final do asfalto da referida BR, que termina a cerca de 500 metros da Rua Vereador Doutor Hélio Zanini, situada no entroncamento da rotatória de acesso a Bosque do Imperador e Spinaville. A Tribuna questionou o Executivo acerca da responsabilidade pelo trecho restante, localizado após a rotatória de acesso ao referidos bairros. No entanto, não houve retorno até o fechamento da edição. O Dnit, em nota, respondeu que não está responsável pelo intervalo em questão.
Sem destino nem custódia definidos, a região foi adotada por juiz-foranos para lazer e prática de exercícios. Por não ter tráfego de carros, as pistas às margens da Represa do São Pedro se tornaram cenário para ciclistas, corredores e famílias que levam crianças e animais de estimação para passear. Nos fins de semana, o fluxo é ainda maior. Em março, o local recebeu mais de 2,5 mil pessoas na abertura do Ranking de Corridas de Rua da PJF, com a corrida do Bahamas.
Abandono
No entanto, o aspecto de abandono é notório, sem iluminação pública, capina ou segurança. Ainda assim, o lugar é visto pelos usuários como uma das únicas opções para prática de atividades físicas da cidade, e, por isso, muito frequentado. “Se tivesse outro lugar, a gente iria. Mas não tem. Pra quem gosta de correr com segurança, aqui é um dos poucos lugares da cidade”, afirma a psicanalista Agna Farias, que pratica treinos de corrida na pista regularmente.
“A gente não pode usar a pista de corrida da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), por exemplo. No anel viário da Federal, temos muitos aclives e declives, e a pista que fizeram em volta é para ciclistas, então fica complicado passar ali correndo com gente de bicicleta. Ou seja, dentro da cidade não tem um lugar seguro, bem iluminado e plano para a gente correr. O pedacinho que temos é isso aqui.”
Para ela, o Poder Público parece “fechar os olhos” para um espaço que possui grande demanda espontânea para prática de exercício, o que demonstraria, sobretudo, um abandono do esporte. “Tem gente que sai da Zona Norte para vir para cá. Se não for aqui, a gente vai para a BR-040, mas ficamos sujeitas a sofrer um acidente. Nós mulheres, principalmente, podemos ser vítimas de assédio, sequestro. É uma pena mesmo que não tenha uma prioridade da Prefeitura em relação a essa demanda por espaços esportivos na cidade.”
Invasão de motociclistas
Alguns metros da rotatória que dá acesso ao Bairro Bosque do Imperador, manilhas de concreto impedem a passagem de carros e outros veículos para dentro da área às margens da represa. É naquela região que o fluxo de visitantes é mais intenso. Nos fins de semana, a pista fica lotada, inclusive com a presença de comerciantes de água de coco. A função das manilhas é impedir, principalmente, que motos entrem na pista. Por ser um asfalto liso, com poucas curvas, a via se tornou um atrativo para os motociclistas e já foi palco dos chamados “rolezinhos de moto”.
Conforme conta o professor de bike, Toninho Toledo, os motociclistas invadem a região, principalmente no fim da tarde, para ficar acelerando e empinando as motos. “É um absurdo. Eles ficam correndo aqui, além do barulho, é perigoso. Pelas manilhas eles não conseguem passar, até a bicicleta a gente precisa levantar para passar ali. Mas eles descobriram um acesso pelo outro lado, no final da via. Então é preciso colocar manilhas do lado de lá também.”
A Tribuna entrou em contato com o 27º Batalhão de Polícia Militar (BPM) para saber se, de fato, a polícia recebeu ocorrências de motociclistas na região. A mais recente, conforme os militares, foi registrada em janeiro deste ano. A viatura se deslocou para o local após denúncia de motociclistas empinando motos na estrada. Com a aproximação da PM, no entanto, os autores fugiram pulando as manilhas que bloqueiam a via, o que dificultou a perseguição dos suspeitos. Conforme a PM, foram feitas notificações pela placa anotada. Em nota, o Batalhão afirmou que “são realizadas diversas operações no local, justamente para coibir práticas delituosas”.
Potencial econômico
Guilherme Tinti levou a filha, Maria Luísa, de 4 anos, para aprender a andar de bicicleta na pista às margens da represa. De acordo com ele, a região tem um enorme potencial econômico e, devido ao alto fluxo de visitantes, o Poder Público poderia investir em licitações para abertura de quiosques na via. “Poderiam investir em uma melhor arborização também, para aliviar o calor em dias de muito sol. É um lugar muito bonito, que só precisa de investimento.”
A pista da represa também é destino de lazer para os aposentados Celso e Aparecida Lima, que trazem o netinho quase todos os dias para caminhar. Eles moram no Bairro Marilândia, Zona Oeste da cidade, e afirmam que ficariam muito satisfeitos com uma possível reforma do espaço. “É perigoso aqui. Para aparecer cobra não custa. Mas a gente vai usando. O lugar aqui é gostoso, por não ter movimento de carro, dá para virmos aqui.”
Obras de R$ 2,7 milhões
O processo de municipalização prevê o valor de R$ 2.735.503,57 destinado à construção de ciclofaixa, calçada, traffic calming, floreiras e canteiros na via. A primeira fase da obra será executada pela empresa Montreal Construções Ltda, vencedora da licitação. A proposta apresentada foi de R$ 2.366.210,59, abaixo do custo inicialmente previsto. De acordo com o edital do processo, a partir da assinatura, o prazo de vigência é de seis meses, mas o período de execução da intervenção é de três meses, contados a partir da ordem do serviço.
Parque da Represa de São Pedro
Além do destino incerto do trecho da BR-440, outro ponto levantado pela reportagem em contato com a Prefeitura foi a criação do Parque Municipal da Represa do São Pedro, anunciado no ano passado em comemoração aos 172 anos da cidade.
Conforme o projeto de lei, sancionado pela prefeita, a área do entorno da represa da qual a PJF toma posse compreende 736.191,30 m² e está localizada à margem esquerda da antiga estrada Juiz de Fora-Torreões. No que diz respeito às partes cedidas, as quatro áreas estão entre a Avenida Prefeito Mello Reis, a Rua Diva Garcia e o loteamento Estrela Alta. Demandada sobre a possibilidade de o trecho da BR-440 ser incorporado ao parque, a PJF também não se manifestou sobre o assunto.