Atualizado às 18h11
Cerca de 200 policiais federais cumpriram 27 mandados de prisão preventiva e 42 de busca e apreensão na operação Tiphon, deflagrada nesta terça-feira (21) para desarticular associação criminosa destinada ao tráfico internacional de cocaína, com núcleo estabelecido em Juiz de Fora. Vinte e uma pessoas eram alvo da manobra só na região, que inclui Barbacena, São João Nepomuceno, Rio Novo, Piraúba, Guarani e Guiricema. Destas, 17 foram detidas. Do total de alvos, pelo menos metade reside em diversas áreas do município, conforme o delegado chefe da PF na cidade, Ronaldo Guilherme Campos. Segundo ele, o grupo movimentaria uma tonelada de cocaína por mês, avaliada em R$ 6 milhões. Alguns integrantes do bando atuavam no ramo de compra e venda de veículos, os quais também eram utilizados como pagamento para a aquisição dos entorpecentes. As idades e identidades dos envolvidos não foram divulgadas.
A droga comercializada pela organização criminosa era trazida diretamente da Bolívia, pela fronteira com o Estado de Mato Grosso (MT), onde estão estabelecidos os importadores do grupo. Segundo a Polícia Federal, eles providenciavam a internalização do entorpecente no território brasileiro, assim como seu armazenamento na região fronteiriça. Outro foco identificado em Campinas (SP) ajudava na intermediação da compra e auxiliava na remessa da cocaína para Juiz de Fora. Já os integrantes da quadrilha no município providenciavam a distribuição da droga por vários bairros e também nas cidades da Zona da Mata já citadas. Daqui ainda partiam carregamentos para o Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Conexões
De acordo com o chefe da PF local, os alvos da operação foram identificados no decorrer dos oito meses de investigação. “A maioria absoluta dos presos já tem mandados de outros processos em aberto, e boa parte deles possui homicídios já com condenação transitada em julgado.” No entanto, eles seriam novos na atividade do tráfico internacional de drogas, disfarçada em meio ao comércio de veículos. “Eles mantêm um negócio na ilegalidade, mas é um empreendimento. É uma empresa irregular, que funciona à revelia do Estado, para promover o tráfico de drogas. Os alvos que estão relacionados ao financiamento, ao fomento da atividade de tráfico têm lojas de veículos, que também são utilizados como moeda de troca.”
Conforme o delegado, a distribuição da droga em solo brasileiro era feita por meio de transporte rodoviário. “Não identificamos a remessa por meio de aeronaves, por exemplo.” O delegado não descartou ligação da organização com facções criminosas, como PCC e Comando Vermelho. “Não temos uma organização única. Temos núcleos voltados ao tráfico de drogas, com objetivo de abastecer determinadas regiões e estados. Eles estabeleciam uma parceria, um consórcio, para adquirir esse produto ilícito no exterior.”
Ônibus é usado para transporte de presos na região de JF
Durante coletiva de imprensa pela manhã, o delegado Regional de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal em Minas, Marcílio Miranda Zocrato, informou que 14 pessoas já haviam sido detidas. “Outras prisões estão em via de serem cumpridas.” Até o final da tarde, na cidade e região, dos 21 mandados, 17 haviam sido cumpridos. A operação culminou também na apreensão de drogas, armas, dinheiro em espécie e veículos. Um ônibus foi utilizado no transporte dos detidos na região. Após prestarem declarações na sede da PF no Manoel Honório, Zona Leste, eles foram levados para o Ceresp, onde ficaram à disposição da Justiça.
As investigações foram iniciadas há oito meses, e os mandados cumpridos em Minas, Rio, São Paulo, Mato Grosso e Espírito Santo foram expedidos pela 3ª Vara Federal de Juiz de Fora, onde tramita a investigação. “Fato que chamou a atenção foi a utilização de veículos como meio de pagamento de grandes compras de drogas, com o objetivo de evitar o transporte de elevadas quantias de dinheiro vivo, bem como conferir aspecto de legalidade às atividades daqueles que se envolviam com o narcotráfico”, analisou a PF.
Durante as apurações, as polícias Civil e Militar de Minas auxiliaram seis apreensões de drogas, incluindo cocaína, maconha e crack. As ações resultaram na prisão em flagrante de sete adultos e na apreensão de uma adolescente. “Esses flagrantes materializaram a atividade do tráfico”, observou o delegado chefe da PF na cidade, Ronaldo Guilherme Campos.
Para desmontar o poder econômico da associação criminosa, a PF também solicitou outras medidas judiciais, como o sequestro de todos os bens imóveis, veículos e ativos financeiros em nome de 36 pessoas físicas e seis pessoas jurídicas, que teriam sido obtidos a partir do comércio ilícito. A operação foi batizada de Tiphon com base na mitologia grega. “O mito de Tiphon (uma mistura de Deus e monstro) está relacionado a tudo que interfere em nossa consciência (as drogas) e nos torna incapazes de qualquer reação física para que possamos nos proteger.”
Grandes apreensões de drogas este mês
Dois dias antes, a Delegacia Especializada Antidrogas recolheu 23kg de pasta base de cocaína, avaliados em R$ 1,5 milhão, em uma casa entre os bairros Alto dos Passos e Mundo Novo, na Zona Sul. Na ocasião, dois jovens cearenses de 22 anos foram presos quando chegavam à residência alugada na Rua Onofre Mendes em um Fiat Palio. Outro homem, 29, apontado como um dos possíveis proprietários da pasta base acabou capturado pela PM na Zona Norte e flagrado com mais de R$ 22 mil. Conforme as investigações, a droga teria entrado no Brasil pela fronteira da Bolívia com o Mato Grosso e teria chegado a Juiz de Fora no fundo falso de um caminhão de transporte de cestas básicas.
Drogas sintéticas
Já no dia 8, a mesma equipe fez a maior apreensão de drogas sintéticas da história de Juiz de Fora na operação Bomboniere, que culminou na apreensão de mais de 22 mil pontos de LSD, 3.450 comprimidos de ecstasy e 1,6kg do princípio ativo desta droga conhecido como MD em um apartamento na Avenida dos Andradas, no Morro da Glória, na região central. Um jovem, 22, de Rio Novo, que comercializaria os entorpecentes por meio de redes sociais, como Facebook e WhatsApp, acabou preso em flagrante. Com as duas ações, a Polícia Civil acredita ter dado um prejuízo de R$ 3 milhões ao tráfico.
A PF ainda não informou se algumas dessas investidas estão ligadas ao grupo investigado na operação Tiphon. “A investigação está em curso. Tivemos uma fase velada, que durou oito meses, agora iniciamos uma fase ostensiva. Vamos fazer a análise de todos os dados coletados, mais os que ainda estão sendo obtidos pelos meios de inteligência deferidos pela Justiça. A partir daí, vamos verificar se esses casos específicos têm relação. Ainda é prematuro dizer que tem. A droga chega e é pulverizada para os traficantes que realizam seis comércios em bairros e localidades menores. O objetivo nosso é reprimir a organização criminosa voltada para o tráfico internacional de drogas”, concluiu o delegado chefe da PF em Juiz de Fora, Ronaldo Guilherme Campos.