Braço estendido na horizontal. Dedo indicador apontado para a rua. Se essa já foi a principal forma de chamar um táxi em Juiz de Fora, o gesto já não faz mais sentido para muita gente, que está também deixando de lado o hábito de ligar para as centrais telefônicas. Os aplicativos de celular já caíram no gosto de usuários e taxistas da cidade. Mesmo que o serviço dependa da nem sempre eficiente internet 3G e 4G em Juiz de Fora, e por mais que existam exemplos de mau uso por parte de passageiros e taxistas, os aplicativos acabaram mudando a relação que muito juiz-forano tem com o transporte público. Uma das grandes vantagens dos apps é a possibilidade de passageiros e taxistas se avaliarem mutuamente. O usuário pode inclusive criar listas com aquele taxistas favoritos, que terão prioridade na hora de atender às chamadas. Já taxistas mal avaliados estão sujeitos a sanções das empresas administradoras, inclusive com a perda da licença para usar as chamadas virtuais.
Atualmente, Juiz de Fora conta com 543 permissionários e 2.229 auxiliares catalogados pela Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra). Das três empresas nacionalmente conhecidas que atuam na cidade, somente o WayTaxi, que atua aqui desde 2013, informou à Tribuna o número de auxiliares cadastrados no município: 1.023, cerca de 40% do total de motoristas. O 99Taxis não informou quantos taxistas usam o aplicativo na cidade, mas disse que, em menos de três anos, já ultrapassou os sete milhões de usuários em 350 cidades no Brasil. O Easy Taxi informou que não divulga seus números regionais, mas afirmou que, em toda Minas Gerais, aproximadamente 70% da frota está cadastrada.
O cientista social Leonardo Azevedo, 26 anos, lembra de como era depender do telefone em um passado recente. “A central nunca funcionava muito bem. E, quando estava em período de grande demanda, como em dias de chuva ou horários de pico, eu não conseguia falar.” Usuário do WayTaxi há pouco mais de um ano, ele ressalta a praticidade e rapidez do acesso ao serviço pelo aplicativo. “Praticamente todas as vezes em que usei consegui um taxista perto e que me atendeu de forma rápida. Você fala direto com o taxista, acompanha em tempo real onde ele está e tem como fazer exigências, como o tempo que você quer que ele chegue.”
“Acontecia muito de ligar para a empresa e ela não mandar o táxi ou então mandar dois juntos”, lembra a professora de educação física Fernanda Peçanha, 28, que usa os aplicativos principalmente nos finais de semana, quando sai à noite. O jornalista Lucas Peths, 26, conta que utiliza os apps WayTaxi e 99Taxis em Juiz de Fora pelo menos uma vez por semana . Ele avalia que os softwares funcionam muito bem e cumprem o que prometem. “Além da rapidez, os aplicativos já me ajudaram muito por oferecer a opção de chamar apenas taxistas que aceitam cartão de crédito/débito. Em muitos momentos nos esquecemos de passar no banco, e essa é uma boa saída. Muitos taxistas ainda não adotam o cartão como meio de pagamento, como no Rio de Janeiro, mas acredito que isso tende a mudar.”
Porém, o uso do aplicativo por taxistas e passageiros também apresenta falhas. “Já fui atendido por um motorista que aceitou uma corrida pelo WayTaxi, mas ele ainda estava com um passageiro no carro, em outra corrida. Assim, a previsão de chegada não foi cumprida, o que é um transtorno. Cancelei a chamada, denunciei o motorista ao aplicativo e recomecei o processo. Já presenciei situações parecidas enquanto era passageiro, também”, diz Lucas.
Centrais buscam se reinventar
O taxista Daniel César Viera Nicolau, 39, utiliza três aplicativos: WayTaxi, Easy Taxi e 99Taxis. Segundo ele, a prestação do serviço melhorou bem. “Hoje faço um mínimo de 12 a 13 corridas, e a maior parte delas já é através dos aplicativos.” O colega Clayton Eduardo de Veiga, 46, se adaptou tão bem ao WayTaxi que decidiu sair de um dos serviços de teletáxi, que cobrava uma mensalidade de R$ 150. “Pelo aplicativo eu não pago nada e reduziu bastante aquele problema de chegar no local da corrida e o passageiro não estar mais lá. Quando isso acontece, eu posso avaliá-lo de forma negativa”.
A evolução do serviço também força a reinvenção das centrais de telefone. Em Juiz de Fora, a Tele Táxi, que existe há 25 anos e hoje conta com 150 táxis cadastrados, criou seu próprio aplicativo de celular. Mesmo quando o passageiro liga para solicitar um táxi, o contato da central com os taxistas afiliados é feito totalmente pelo aplicativo. Com isso, já não existem mais aqueles radinhos que faziam a comunicação entre os motoristas e a central.
“Em Juiz de Fora existem dois públicos: aquele mais tradicional que vai pedir pelo telefone, porque já tem o costume, já está cadastrado e conhece o serviço; e aquele público mais novo, que já nasceu com um smartphone na mão e já não faz mais uma ligação de telefone para pedir táxi. Das mais de 30 mil chamadas que recebemos por mês, a maioria ainda é pelo telefone. Mas sabemos que daqui a pouco a chamada pelo smartphone vai dominar”, explica o proprietário da Tele Táxi, Marcelo Baresi.
As outras duas centrais afirmam não terem sentido o impacto dos aplicativos, mas reconhecem que num futuro próximo vão precisar se adaptar à nova realidade. “Os aplicativos não alteraram o número de chamadas. O único problema que trouxe para nós é que muitos clientes costumam chamar o táxi pelas firmas e também pelo aplicativo ao mesmo tempo. Quando o taxista chega ao local, o passageiro não está mais lá ou chegam vários táxis juntos”, diz a proprietária da Albatroz, Renata Reis. Segundo ela, hoje estão cadastrados 160 taxistas em Juiz de Fora. A empresa não informou o número de chamadas mensais.
A Ligue Táxi, que registra média de nove mil corridas por mês entre seus 66 taxistas cadastrados, também garante que não sofreu impactos negativos após a chegada dos apps. “Para mim, os aplicativos vieram para somar. É mais um canal para o motorista conseguir uma corrida e para o usuário encontrar um táxi. A única coisa que pode vir a prejudicar é o serviço com carros particulares, como o Uber”, diz o proprietário da Ligue Táxi, Clécio de Oliveira.
Sobre o Uber
Em Juiz de Fora, uma lei sancionada em dezembro de 2015, proíbe o uso de veículos particulares cadastrados em aplicativos para o transporte remunerado de pessoas, como ocorre com o Uber. A norma, de autoria do vereador Luiz Otávio Fernandes Coelho (Pardal, PTC), estabelece multa de R$ 1.700 para quem for pego descumprindo a determinação, além de apreensão do veículo.