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Transtornos mentais provocam afastamento de trabalhadores da educação

sala vazia
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A violência que adoece e afasta da sala de aula os professores da rede pública também está presente na rede particular, só que de forma mais velada. Desrespeitados por alunos da educação básica e das faculdades, muitos docentes desistem de denunciar as violações das quais são vítimas por medo de retaliação ou da perda do emprego. O problema não é ignorado pelo Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino da Região Sudeste de MG (Sinepe/Sudeste), mas falta mais apoio e eficácia nas medidas de combate aos atos de intimidação que afetam a categoria. No caso da rede particular, o risco do cancelamento da matrícula do aluno em caso de responsabilização por atos ilegais ou agressivos pressiona os professores a manterem o silêncio que alimenta a impunidade.

A Tribuna conseguiu obter, com exclusividade, dados referentes ao número de auxílios-doenças concedidos em Juiz de Fora, no ano passado, aos segurados que, no momento do afastamento, trabalhavam no setor da educação. Apesar de os números incluírem todas as atividades exercidas dentro das escolas, e não somente a docência, os registros obtidos a partir da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) ajudam a compreender a dimensão do problema. A estatística é tímida quando são analisados os auxílios doenças referentes a tumores, por exemplo, apenas 15 casos em doze meses, mas explodem quando o foco são os transtornos mentais ou comportamentais. De janeiro a dezembro de 2017, foram concedidos pelo INSS 55 afastamentos de trabalhadores da educação por transtornos ansiosos e depressão, recordista de eventos. Significa que, por mês, mais de 4,5 pessoas ligadas a área deixaram a escola por incapacidades provocadas por doenças mentais.

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Recentemente, uma professora da área de humanas teve 13 minutos da sua aula filmada sem que soubesse. Ela diz que como são adultos, o uso de celular e tablet é um instrumento de consulta importante na sala de aula, no entanto, a filmagem necessita do consentimento de quem é filmado, já que não havia nenhum conteúdo oculto ou comprometedor. “Eu comentava um fato cotidiano ocorrido no Rio Grande do Sul que tinha a ver com a aula que estava dando. O aluno não só filmou a aula como colocou no stories do Instagram. Fui alertada sobre isso por alunos de outra turma que assistiram a filmagem. Não havia nada que precisasse ficar restrito à sala de aula, mas ele me filmou escondido e sem minha autorização. Uma postura que não condiz com a vivência democrática”, comentou a professora que prefere não ser identificada.

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‘Jovens de hoje não estão acostumados a ser contrariados’

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Em outro caso, um professor do curso da área de saúde foi questionado pela nota baixa que deu a um estudante. Inconformado com a pontuação, o universitário gritou com ele e disse que era quem “pagava seu salário de fome”. “Foi muito humilhante ser tratado dessa maneira simplesmente por ter feito o necessário. Os jovens de hoje não estão acostumados a ser contrariados e, como mandam em casa, estendem seu comportamento agressivo para o ambiente escolar. Apesar de ter me queixado com a coordenação do curso, fui orientado a deixar para lá. O que estamos ensinando a um aluno, quando permitimos que ele nos desrespeite? É como se disséssemos: isso mesmo, use a força, não respeite nenhum tipo de autoridade! Me senti muito mal”, desabafou.

O presidente do Sinepe/Sudeste, Flávio Dani Franco, admite que a violência não se restringe ao setor da educação, mas permeia toda a sociedade. “O número de afastamentos da sala de aula preocupa o Sinepe, mas a escola tem o seu regimento interno e o seu projeto pedagógico, portanto, ela tem que se posicionar. Não se consegue uma boa qualidade de ensino sem disciplina no ambiente escolar. O objetivo do professor é preparar as pessoas para o conhecimento, a formação profissional, não cabendo nenhum tipo de violência nesse ambiente. O momento que a gente passa é de extremos e de falta de limite. E essas também são questões que precisam ser trabalhadas pelas escolas. O que o Sinepe tem feito é trabalhar a nível pedagógico, porque só através da educação é que vamos reverter esse quadro”, analisa.

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Especialista em psicologia social fala sobre a perda do lugar do professor

Ionara é autora do livro “Fadiga por Compaixão – os custos do cuidado”

A maior perda na relação aluno/docente é a perda do lugar do professor. Essa é a análise de Ionara Coelho Araújo, mestre em Psicologia Social com ênfase em Cognição, Organizações e Trabalho. Docente de ensino superior em cursos de pós-graduação e graduação na cidade, ela desenvolve diversas pesquisas na área de adoecimento do trabalho. A mais recente delas está no livro “Fadiga por Compaixão – os custos do cuidado”, obra que ela lança este mês, pela Editora CRV, em parceria com a Doutora em Psicologia pela UNB, Ione Vasques-Menezes.

Ionara explica que a fadiga por compaixão é uma síndrome que atinge profissionais que trabalham com prestação de ajuda e socorro a uma população vítima de trauma, um tipo de adoecimento causado pelo trabalho com a dor do outro. O problema, que acomete principalmente profissionais de saúde, também pode afetar alguns professores mais vulneráveis a organizações de trabalho precárias ou que se sintam ameaçados diante das relações de poder, problema recorrente nas escolas da rede privada.

No caso do professor, ele fica muito vulnerável a uma outra síndrome: o Burnout, uma síndrome psicológica crônica causada pelos estressores relacionados diretamente ao trabalho, caracterizada pela exaustão emocional, o esgotamento físico e psicológico. De fato, é difícil encontrar estratégias para preservar a saúde mental. A ausência de reconhecimento, a baixa realização, a baixa estima e a insatisfação levam ao adoecimento.

Ionara Coelho Araújo, mestre em psicologia social

Para Ionara, a busca de estratégias para a preservação da saúde mental é necessária, principalmente por categorias mais suscetíveis a situações de adoecimento, como os professores. “Christophe Dejours, pai da psicodinâmica do trabalho, sugere a criação de um coletivo de trabalho onde as pessoas possam falar sobre esse sofrimento e sobre essa dor. São espaços coletivos, onde se possa ressignificar essa dor, dando um novo sentido para o trabalho. É o que ele chama de mobilização subjetiva. Compartilhar com colegas de trabalho que vivem o mesmo transtorno, o mesmo tipo de adoecimento, é uma forma de buscar um novo sentido. Aqui em Juiz de Fora estou propondo a criação desses espaços para diversas categorias. Quero levar essa ideia ao Sinpro.”

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