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Vias ficam alagadas em várias regiões de Juiz de Fora

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(Foto: Fernando Priamo)

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(Foto: Fernando Priamo)
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Basta uma chuva e as ruas ficam alagadas. O que ficou evidente no último período de instabilidade, entre novembro de 2016 e janeiro deste ano, voltou a ser realidade logo na primeira grande chuva desta temporada. Entre a última sexta-feira (17) e o início da noite desta segunda (20), o acumulado de precipitações em Juiz de Fora, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), chegou a 84 milímetros, índice que corresponde a 42% do esperado para todo o mês. Tão logo as chuvas contínuas se manifestaram, corredores de tráfego do município apareceram alagados. Os primeiros registros, ainda no fim de semana e ao longo do dia desta segunda-feira (20), foram observados nas avenidas JK, Zona Norte, e Presidente Costa e Silva, na Cidade Alta, além de ruas diversas de bairros como Benfica, também na região Norte, Eldorado e Bandeirantes, na Nordeste, Granbery e outras vias da região central. O crescimento vertical e a impermeabilização do solo em praticamente todo o perímetro urbano agravam o problema dos alagamentos, que encontraria nas obras de infraestrutura a solução mais rápida e eficiente. No entanto, não existem recursos disponíveis para promover estas intervenções.

No Bairro Nova Era, na Zona Norte, o cruzamento da Rua General Almerindo da Silva Gomes com a Avenida JK ficou totalmente alagado, assim como na região próxima à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Norte, fato que prejudicou o trânsito de veículos e de pessoas no entorno. A situação foi a mesma encontrada na Rua Paracatu, no Bairro Bandeirantes, onde parte da via ficou submersa, fazendo com que os veículos transitassem com velocidade reduzida em meio à água. No Bairro São Pedro, na Cidade Alta, uma das faixas da Avenida Presidente Costa e Silva, na altura do número 1.627, ficou totalmente alagada, prejudicando o trânsito na região e os passageiros que aguardavam o transporte público urbano no ponto. Outros pontos de alagamento foram registrados na Rua Padre Gabriel, em Benfica, e no Largo do Riachuelo, no Centro.

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(Foto: Fernando Priamo)

Faltam obras 

De acordo com o secretário de Obras, Amaury Couri, obras de infraestrutura são necessárias para resolver os problemas de inundação, embora ele avalie a rede de drenagem construída ainda como eficiente. “Noventa por cento dos alagamentos da cidade não duram nem 40 minutos, então as redes funcionam. Antigamente, as moradias eram feitas com solo permeável e por isso não tínhamos grandes problemas de inundação, mesmo sem galerias. Agora qualquer lugar da cidade está asfaltado, impedindo o escoamento adequado. O problema está na velocidade que a água chega nas bocas de lobo por causa da impermeabilização. A cidade tem uma rede de drenagem muito boa, mas ela está ficando velha e algumas começam a ficar insuficientes”, ponderou.  No entanto, faltam recursos para resolver a questão, conforme o próprio secretário. Segundo ele, a construção de novas galerias e redes de drenagem é cara e os recursos municipais não são suficientes para arcar com estas obras. Ao mesmo tempo, nos últimos quatro anos o Governo federal não disponibilizou dinheiro para este tipo de intervenção. “Temos acesso muito bom no Ministério das Cidades, mas nenhum município consegue dinheiro para esta finalidade.”

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Despoluição 

Mesmo assim, o secretário avalia como soluções obras como a de despoluição do Rio Paraibuna, que tem como consequência a separação das águas da chuva das de rede de esgoto nos córregos, o que pode contribuir para a diminuição do volume e, ao mesmo tempo, na redução dos riscos de enchentes pontuais. Sobre os alagamentos na Cidade Alta, o secretário considera que quando da retomada das obras da BR-440, ainda não anunciadas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), o problema será minimizado no córrego São Pedro.

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Intensificação das consequências  Com o grande volume de água em curto espaço, as inundações se tornam inevitáveis. Para o professor da UFJF Pedro Machado, especialista em recursos hídricos, o problema é causado pela impermeabilização da superfície associada ao processo de ocupação da cidade. “Temos hoje muitas áreas novas associadas aos problemas de alagamentos, e outras que sofrem com a situação há mais tempo onde tem se observado uma intensificação das consequências. Nós não criamos a inundação, que é mais antiga que a humanidade, mas intensificados os seus efeitos. A preocupação está quando as inundações passam a acontecer em áreas ocupadas, porque traz graves problemas sociais e econômicos”, disse, afirmando que Juiz de Fora só resolverá a questão enquanto as políticas urbanas forem planejadas incluindo o curso d`água existente.

Demanda no córrego Independência quadruplicou

No último período chuvoso, encerrado em março desse ano, a cidade observou alagamentos onde até então não havia este histórico. Entre eles, destaca-se ruas do Bairro São Mateus, Zona Sul, que despeja as águas no Córrego Independência, que fica sob a Avenida Itamar Franco. Embora o escoamento tenha funcionado nestes primeiros dias, existe a preocupação de novos transtornos com chuvas permanentes, constantes e por vezes fortes.

Quando inaugurada, no início da década de 70, a galeria do Córrego Independência recebia uma contribuição quatro vezes menor que a atual. Bairros como Cascatinha, Estrela Sul e Dom Orione sequer existiam, e o São Mateus era formado por moradias unifamiliares. Agora, o crescimento dos bairros contribui para a impermeabilização das vias, aumentando o volume neste córrego, que recebe ainda as contribuições de vários outros bairros da região Sul, como o Alto dos Passos, Bom Pastor e o entorno.

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(Foto: Fernando Priamo)

“Ele recebe contribuição de ambos os lados. O mais interessante é que foi construído pelo método antigo, mais demorado, mas dimensionado com uma margem grande. Costumo dizer que os engenheiros antigos eram mais inteligentes que nós, pois não poderiam imaginar a velocidade do crescimento daquela região, mas fizeram um bom dimensionamento do que poderia ocorrer”, disse o secretário de Obras Amaury Couri, que citou ainda a necessidade de construir novas redes. “É impossível ampliar o Independência, e aquela região ainda cresce muito. Então precisamos construir novas galerias e redes para aliviar sua demanda.”

Limpeza  Com relação aos demais córregos da cidade, sobretudo aqueles com problemas de alagamentos, Amaury defende a limpeza rotineira nos cursos d’água. Segundo ele, a legislação ambiental impede a dragagem, como era feita, e por isso o trabalho agora deve ser feito manualmente. Além disso, em alguns pontos não é possível mais fazer obras para abertura destes corredores. “O córrego do São Pedro, no Mariano Procópio, está com a galeria confinada com construções de ambos os lados. Então a separação das redes (obra de despoluição do Rio Paraibuna) vai facilitar na limpeza e capina, embora seja necessário redimensionar a rede para outro lugar. Só que isso é caríssimo e, como disse, não há recursos disponíveis no Ministério das Cidades.”

Previsão de mais chuva

Juiz de Fora registra um ano atípico com relação às chuvas e, até o fim de outubro, o acumulado em dez meses representava apenas 58% do esperado para o período. Novembro, até a última quinta-feira (17), tinha registrado 10% das chuvas, fato que mudou com a chegada da instabilidade atmosférica. Apenas nesta segunda, entre 7h e 16h, a Defesa Civil registrou 31 ocorrências na cidade, entre ameaças de escorregamento de talude, escorregamentos, ameaças de queda de muro e alagamentos. Não houve ocorrências consideradas de destaque.

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Estas precipitações, que tendem a permanecer até a próxima quinta (23), são resultado de dois fenômenos climatológicos em atuação: a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), um sistema comum nesta época que transporta umidade da região da Amazônia para o Centro e Sudeste do país, além de uma frente fria em atuação no litoral do Estado do Rio de Janeiro. Pelo menos mais 75 milímetros de chuvas podem cair na cidade até o fim desta semana, conforme os modelos de previsão do próprio Inmet e do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec).

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