A Quimioterapia Intraperitoneal Hipertérmica, também conhecida como HIPEC, é um tratamento inovador para alguns casos de câncer. Esse procedimento combina cirurgia e quimioterapia, e foi realizado pela primeira vez em Juiz de Fora em agosto deste ano. O método envolve a aplicação de quimioterapia aquecida diretamente na cavidade abdominal após a remoção cirúrgica de tumores, e permite que altas doses de quimioterapia sejam entregues diretamente nas células cancerígenas. Para alguns tipos de câncer, essa é a única opção curativa. O médico Alexandre Ferreira Oliveira foi responsável por comandar a operação e conta como esse procedimento pode salvar vidas.
Como explica Alexandre, coordenador do serviço de oncologia do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e médico do Hospital Monte Sinai, a indicação é feita para alguns tipos de tumores abdominais. “São para aqueles pacientes que têm carcinomatose peritoneal, e além de tudo precisam retirar a lesão”, explica. Em casos como os de pseudomixoma peritoneal, mesotelioma não sarcomatoide e adenocarcinoma de baixo grau de apêndice, trata-se do único tratamento possível para os pacientes. Mais recentemente, o método também foi indicado para alguns casos de câncer de ovário. Sendo assim, a possibilidade de acesso ao método pode ampliar as chances de remissão e/ou cura.
O HIPEC é realizado em duas etapas: a primeira é a cirurgia citorredutora, em que os cirurgiões removem o máximo possível de lesões visíveis na cavidade abdominal. Depois, é feita a quimioterapia aquecida, em que a solução quimioterápica é circulada na cavidade abdominal por cerca de 90 minutos. “Esse aquecimento favorece que a quimioterapia entre nas células”, explica o médico. Esse procedimento foi feito pela primeira vez na América Latina em 1999, no Instituto Nacional de Câncer, pelo Dr. Odilon de Souza Filho, que ainda trabalha no local. O médico Alexandre Ferreira auxiliou o profissional na ocasião. “Tive a honra de ajudá-lo nesse procedimento, junto com o Dr. Mauro Monteiro”, diz.
Desde 2012, o médico também participa como consultor de um grupo de trabalho de cirurgia oncológica. “Ano retrasado, conseguimos implementar esse procedimento na rede pública. Ele pode ser feito no SUS, mas para isso o hospital precisa se cadastrar. E na Zona da Mata, nenhum hospital é cadastrado para isso”, conta. Para ele, a principal vantagem de ter essa opção na cidade é a facilidade de acesso que gera para os pacientes, que não precisam se deslocar para receber o tratamento.
Paciente relata experiência com HIPEC
A oficial de justiça aposentada Vanda Ribeiro, de 61 anos, foi a primeira pessoa a ter o tratamento HIPEC na cidade. Ela já tinha tido um câncer na tireoide anteriormente, e recebia acompanhamento do médico, até que descobriu um tumor peritoneal. “No início, fiquei muito preocupada, porque me falaram que aqui em Juiz de Fora não tinha hospital pra dar suporte. Pensei: ‘Pronto, estou morrendo então'”, relembra. Nessa consulta, tinham informado a ela que o procedimento só era feito no Rio de Janeiro, e que ela teria que ir para lá para ser tratada. Mas quando retornou ao hospital, o médico apresentou para a sua família a possibilidade de fazer pela primeira vez o procedimento aqui, com auxílio da equipe carioca e inclusive a presença do médico Guilherme Ravanini, professor da UniRio. “O câncer foi totalmente erradicado. É um alívio enorme, ainda mais podendo fazer aqui. Como eu ia pro Rio? Fiquei apavorada”, conta. Para ela, que ainda está repousando e se recuperando do procedimento, essa é uma conquista coletiva, e que deve ser comemorada não só por ela e por sua família. “Hoje, fui eu. Amanhã pode ser outra pessoa. O câncer não escolhe, e isso é histórico pro serviço de oncologia da cidade”, destaca.