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Falsas notícias comprometem diagnóstico do câncer de mama

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Assim como tem ocorrido na política, a área da saúde também tem sido alvo de disseminação de mitos e falsas informações sobre doenças e tratamentos — as chamadas fake news. Além de conteúdos inverídicos, o uso inadequado da internet — principalmente por meio de aplicativos de mensagens — também potencializa que assuntos assimilados de maneira incorreta e imprecisa gerem angústias desnecessárias em milhares de mulheres quando a temática é câncer de mama. Na sexta reportagem da série ‘Outubro Rosa’, a médica mastologista Carolina Teixeira Lopes alerta sobre as falsas informações frequentemente disseminadas sobre a doença, e orienta as mulheres sobre como proceder nestes casos.

De acordo com a especialista, o mito de que o uso diário de desodorantes possa causar câncer de mama é um dos que frequentemente circulam na rede e acaba gerando muita dúvida nos consultórios médicos. Contudo, não existe nenhuma comprovação desta relação. “Neste quesito é importante lembrar que o câncer é originado a partir de uma mutação no nosso DNA celular, a partir de uma herança genética ou, então, de uma mutação adquirida por fatores ambientais. Não existe nenhum tipo de desodorante com potencial para causar dano ou modificar DNA da célula. Isso nunca foi comprovado por nenhum estudo”.

A crença de que o uso contínuo de sutiãs, com bojo ou sem, pode causar neoplasia mamária também é inverídica. Segundo a médica, assim como os desodorantes, as peças íntimas também não têm capacidade para alterar ou modificar o DNA celular. “Independente de dormir ou passar muitas horas diárias com o sutiã, independente do tempo que se passa com ele, sutiã não causa câncer, e isso inclusive já foi demonstrado em estudos”.

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Ao contrário do que se pensa e é falsamente propagado, a doença não afeta somente mulheres que já tiveram casos de câncer de mama na família, pois a doença não se desenvolve apenas por fatores genético-hereditários. “Qualquer mulher pode desenvolver o câncer, independente da idade. A doença é mais comum na população de idade mais avançada, a partir dos 40, 50 anos. No entanto, as mulheres com casos familiares têm mais chances de desenvolver a neoplasia do que uma mulher que não tem histórico familiar”. Conforme a mastologista, ocorrências genético-hereditárias representam de 5 a 10% do casos de câncer de mama. Os demais são chamados de “esporádicos”, podendo afetar qualquer pessoa.

Interpretações equivocadas também geram mitos

Algumas informações têm sofrido muitas distorções, que também ganharam espaço na rede. Segundo Carolina, muitas pessoas têm afirmado que o câncer “gosta de açúcar”. Contudo, a médica diz que a premissa é falsa. O que acontece, na verdade, é que todas as células humanas necessitam de açúcar para seu funcionamento. “(O açúcar) é um meio de gerar energia para a célula, para o metabolismo funcionar adequadamente. Isso acontece não só com a célula cancerígena, mas com todas as células do corpo. No caso da cancerígena, o consumo é mais acelerado que na saudável”.

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No entanto, a médica chama atenção para o consumo excessivo de açúçar. O hábito contribui para que as pessoas tenham maiores chances de desenvolver a obesidade. Neste caso, portanto, há um fator de risco para o câncer de mama. “A obesidade aumenta o risco da pessoas ter a doença em mais ou menos 20%. Então a recomendação é para que a pessoa evite a obesidade, o sedentarismo, e pratique atividade física aliada a uma dieta equilibrada”.

A mastalgia (dor mamária) é um fator que, muitas vezes, também é interpretado de maneira equivocada e, geralmente, é a principal causa de consultas com mastologistas, afirma a especialista. No entanto, o desconforto não tem associação direta com o câncer de mama. “A mastalgia é muito comum em paciente mais jovens, mas tende a melhorar após a menopausa. A dor mamária é um fator fisiológico, e está relacionada a condições benignas”.

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A maioria dos nódulos mamários, portanto, são benignos, de acordo com a médica. “Em torno de 70% a 75% das vezes em que a paciente chega com queixa de nódulos, ele são benignos, sejam eles apresentados de forma cística ou sólida. É uma manifestação muito comum. Nem todo nódulo é um câncer de mama ou motivo de desespero”. No entanto, toda mulher com sintomas relacionados à doença deve procurar um profissional especialista da área para fazer os esclarecimentos necessários, exames clínicos e, caso seja necessário, exames de imagem.

Orientação

Em agosto deste ano, o Ministério da Saúde lançou o projeto “Saúde Sem Fake News”, um canal de comunicação para que a população possa verificar com os profissionais de saúde nas áreas técnicas da pasta se um texto ou imagem que circula nas redes sociais é verdadeiro ou falso. Segundo o Ministério, o canal é exclusivo e oficial para desmascarar as notícias falsas e certificar as verdadeiras.

Qualquer pessoa pode adicionar no celular o Whatsapp do Ministério da Saúde, pelo número (61) 99289-4640, e encaminhar o texto ou imagem. A pasta ressalta, entretanto, que o canal é exclusivo para o recebimento de Fake News e não deve ser utilizado como serviço de atendimento ao cidadão.

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A mastologista Carolina Teixeira Lopes também orienta as mulheres a buscarem informações em fontes oficiais. “Antes de compartilharmos essas informações é válido procurar saber fontes confiáveis, se de fato aquela informação procede, e pesquisar com o médico antes para que as dúvidas não gerem angústias desnecessárias e não atrapalhem a paciente em um possível atraso diagnóstico, ou no tratamento do câncer de mama, por exemplo”, reitera a mastologista.

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