Após seis meses de aulas suspensas, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) retomará, nesta segunda-feira (21), o primeiro semestre letivo de 2020 dos cursos de graduação por meio da modalidade de ensino remoto emergencial. Apreciado pelo Conselho Superior (Consu) após proposta da Administração Superior, o ensino remoto emergencial “sob caráter excepcional” será válido durante o período restante do primeiro semestre – até 27 de novembro -, e, ainda, possivelmente, ao longo do segundo semestre do ano letivo de 2020, cujo fim está previsto para 22 de março de 2021.
De acordo com a UFJF, cerca de 60% das disciplinas oferecidas presencialmente continuarão disponíveis por meio do ensino remoto. Contudo, como o período de ajuste de matrículas estende-se até 30 de setembro, a universidade ainda não tem dados sobre a adesão dos graduandos às aulas virtuais, ou seja, se há indícios de eventual evasão diante da implementação do modelo.
Em entrevista à Tribuna, a pró-reitora de Graduação, Maria Carmen Simões, detalha como a instituição planeja-se, às vésperas do reinício das aulas, para iniciar a implementação do ensino remoto emergencial. Ela explica que apenas as disciplinas práticas ficaram fora da oferta do ambiente virtual, embora uma exceção seja aplicada a alunos concluintes que já fazem estágio, como os das áreas de saúde e comunicação. “Todos os cursos de graduação da UFJF estão oferecendo disciplinas da modalidade de ensino remoto emergencial – logicamente, aquelas que podem acontecer por meio remoto, como as teóricas e outras atividades de mesmo teor. As atividades práticas, não só para os cursos da área de saúde, mas também para cursos de química e física, dentre outros, estão suspensas. Apenas parte de disciplinas práticas que pode ser oferecida por meio remoto, em vídeo, está disponível. Um ou outro tipo de atividade. Em relação aos estágios de alunos concluintes, ainda estamos em meio ao processo.”
De acordo com Maria Carmen, a orientação repassada pela UFJF aos departamentos de disciplinas e aos docentes é pela preferência por disciplinas assíncronas, ou seja, aquelas gravadas e não realizadas em tempo real. “Assim, o estudante vai poder acessar (a aula), assim como o professor, no momento mais conveniente, ou seja, o aprendizado vai acontecer em um processo dinâmico. As atividades síncronas (em tempo real) serão oferecidas sob a condição de que todas sejam gravadas, porque o estudante que tiver dificuldades naquele momento em que foi agendada a atividade pode então acessá-la em outro momento. Vamos supor que o professor faça uma conferência ou dê uma aula expositiva. O estudante pode acessar aquilo posteriormente para não perder o conteúdo.” A pró-reitora acrescenta que as atividades serão obrigatoriamente ofertadas no turno e no horário para o qual o aluno inicialmente se matriculou.
Há vagas para auxílios temporário e de inclusão digital
Antes de regulamentar a implementação do ensino remoto emergencial, o Consu da UFJF estabeleceu normas para o desenvolvimento de ações de apoio social e inclusão digital, como, por exemplo, a criação do auxílio emergencial temporário, de R$ 200, e o auxílio de inclusão digital, de R$ 120, bem como a manutenção de bolsas e auxílios já concedidos pela Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (Proae) aos graduandos com avaliação socioeconômica já realizada. Conforme a UFJF, todos os estudantes apoiados pela Proae puderam participar do primeiro edital de auxílio emergencial temporário, “inclusive acumulando-o com o auxílio de inclusão digital e os auxílios já recebidos anteriormente”, como auxílio-alimentação e auxílio-moradia.
Em nota encaminhada à Tribuna, a UFJF detalhou que, nos primeiros editais de auxílio emergencial temporário e de auxílio inclusão digital publicados, foram aprovados, respectivamente, 650 e 2.107 estudantes, dentre a graduação e a pós-graduação, inclusive. Conforme a instituição, ambos os benefícios terão ainda outros editais abertos. “No primeiro edital do auxílio emergencial temporário, foram aprovados 650 estudantes. O segundo edital estará com inscrições abertas via o Siga 3 para 740 vagas até às 20h deste domingo (20).”
Já o novo edital do auxílio digital para a graduação ainda deve ser publicado. “Todos os estudantes com renda per capita comprovada de até 1/5 do salário mínimo, que se inscreveram no primeiro edital destinado para o auxílio digital, foram deferidos. Em decorrência de não termos atingido o número disponível de auxílios, a Proae vai lançar um novo edital, no início desta semana, com o intuito de oferecer uma nova oportunidade para os estudantes com esse perfil de renda. Serão disponibilizados 1.693 auxílios.”
Estudantes e professores terão ‘período de acolhimento’
Diante da novidade que é à graduação o ensino remoto emergencial, o Consu estabeleceu, na Resolução 33/2020, que a primeira quinzena da retomada do calendário acadêmico “deverá prever período de acolhimento dos discentes e a retomada do conteúdo acerca do que foi desenvolvido em março de 2020 (…) ficando vedadas quaisquer atividades avaliativas”. De acordo com Maria Carmen, o período de acolhimento foi instituído para que tanto os estudantes quanto os professores se acostumem com o ambiente virtual de aprendizagem e a nova forma de mediação das aulas ministradas. Logo, a aplicação de atividades avaliativas, com nota, está vedada.
“A gente restringiu o uso de ações avaliativas para evitar qualquer prejuízo ao estudante que ainda está se habituando ao uso (das plataformas). As avaliações que, porventura, tenham sido feitas anteriormente, lá em março, estão valendo. Se aconteceram, estão adequadas e isso não está impedido. Só restringimos avaliações na primeira quinzena por conta de ser um novo momento, um novo hábito e uma nova relação com o docente”, explicou. “Existe toda uma estrutura institucional de suporte aos estudantes e aos docentes. Temos bolsistas – estudantes de graduação e pós-graduação – que já foram capacitados e que estão atuando nessa atividade. Eles foram preparados no período anterior à retomada para estarem prontos e aptos a participar deste suporte.”
Questionada se a Reitoria já identificou indícios de evasão dos estudantes em razão das dificuldades impostas pelo ensino remoto emergencial, a pró-reitora de Graduação afirma que, mesmo encerrado o período de confirmação das matrículas dos alunos, ainda é inviável calcular a adesão à nova modalidade de ensino. “Entre 12 e 16 de setembro, os alunos confirmaram a matrícula nas disciplinas em que estavam inscritos lá em março. Pode ser que, por (o discente) não ter condição de acesso agora, não ter interesse, ele pode não confirmá-la. Não temos estimativa ainda se houve queda (de matrículas), se não houve. Até 30 de setembro, os coordenadores continuarão fazendo o ajuste das matrículas para que saibam em quais disciplina há vagas restantes e ofertá-las. Então, só depois de 30 de setembro saberemos qual a adesão dos estudantes ao ensino remoto emergencial.”