Apesar da estiagem prolongada, que chegou a 29 dias nesta terça-feira (19), e o volume acumulado de chuvas em 2017 menor que os anos da crise hídrica, a população tem gastado água tanto quanto no verão. De acordo com dados da Cesama, o consumo médio do juiz-forano é de aproximadamente 1.500 litros de água por segundo, mas em alguns momentos do dia, a demanda tem atingido picos de 1.800 litros. A falta de conscientização é um problema, que se intensifica com a ausência de campanhas sobre o uso racional da água. A situação é reflexo de um paradoxo, pois o município não corre risco no curto e médio prazos de desabastecimento, em razão do uso pleno do manancial Chapéu D’Uvas, possível após obras estruturais inauguradas este ano. Para se ter ideia, o volume presente nesta represa, hoje, corresponde a quase sete mananciais João Penido completamente cheios. Este, aliás, tem sido poupado para se manter em bom nível de acumulação, e hoje está 50,7% preenchido. Na mesma época em 2014, no auge da crise hídrica, o nível era inferior a 20%.
Enquanto os juiz-foranos usam água sem preocupação, municípios da região não contam com a mesma sorte. A situação se torna emblemática se levar em consideração que Chapéu D’Uvas, grande responsável pela segurança operacional do abastecimento, não pertence a Juiz de Fora. Na verdade, suas terras estão divididas em territórios que pertencem a Ewbank da Câmara, Santos Dumont e Antônio Carlos, cidades que não captam água do manancial.
Ewbank da Câmara, inclusive, está com problemas de abastecimento. Em uma rede social, a Prefeitura informou que as nascentes de água estão secas, comprometendo a distribuição de água para as casas. “A prefeitura está trabalhando para solucionar o problema o mais rápido possível, com a perfuração de poços artesianos”, informou no comunicado.
Santos Dumont tem o serviço de distribuição de água terceirizado, feito pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), assim como Antônio Carlos. Em ambos os casos, a estatal garante que o abastecimento está normalizado, assim como em Rio Pomba e Rio Novo, também na região. Já em Ubá, Visconde do Rio Branco e Astolfo Dutra, todas da Copasa, além de Viçosa, a população sofre com rodízio de distribuição de água. Em todos estes casos, os serviços de abastecimento pedem colaboração para evitar o desperdício.
Campanha
Mesmo com cidades tão próximas a Juiz de Fora passando dificuldades com falta de água, a Cesama não tem promovido campanhas de conscientização para o uso racional. No entanto, o diretor de Desenvolvimento e Expansão da Cesama, Marcelo Mello do Amaral, afirma que este trabalho é feito dentro das atividades da companhia. “Estamos sempre em ações nos bairros e em eventos onde somos convidados para falar da necessidade do consumo sem desperdício. Desde a crise hídrica, independente de estar ou não no rodízio, mantivemos este discurso”, disse, avaliando que atualmente não existe a necessidade de campanha intensificada, como foi nos anos de 2014 e 2015, por outro lado, os trabalhos, segundo ele, estão concentrados dentro das ações sociais da companhia.
Ano tem 55% das chuvas previstas
Entre janeiro e setembro, o acumulado de chuvas em Juiz de Fora foi de 540,7 milímetros, índice que corresponde a 55,6% do volume previsto no período, muito em razão da estiagem prolongada de 29 dias e a falta de chuvas significativas superior a 2 milímetros desde 14 de junho, ou seja mais de três meses. A fim de comparação, em todo o inverno, só choveu durante cinco dias, com soma de 21 milímetros. Ano passado foram oito dias de chuvas neste intervalo e, em 2015, 17 dias, segundo levantamento do jornal a partir de dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
O acumulado de precipitações em 2017 é menor que dos anos da crise hídrica, em 2014 e 2015, com 69,3% e 59,2% das chuvas, respectivamente. A diferença daqueles anos para agora está no volume dos mananciais que, por causa de Chapéu D’Uvas, tem se mantido em níveis satisfatórios. Como não há percepção da escassez das precipitações, o consumo de água tem apresentado picos de consumo semelhantes ao do verão, sobretudo nos fins de semana.
Mesmo assim, de acordo com o diretor de Desenvolvimento e Expansão da Cesama, Marcelo Mello do Amaral, o gasto ainda é proporcionalmente menor que antes da crise hídrica. “Em 2013 a gente já tinha este perfil do consumo. Diminuiu bastante com os rodízios de 2014 e 2015 e depois, gradativamente, voltou a subir. Se a gente considerar que deste período para agora temos 15% mais ligações que em 2013, e a demanda de produção é praticamente a mesma. Podemos dizer que o juiz-forano aprendeu a economizar.”
“Estamos sempre em ações nos bairros e em eventos onde somos convidados para falar da necessidade do consumo sem desperdício. Desde a crise hídrica, independente de estar ou não no rodízio, mantivemos este discurso”
Marcelo Mello do Amaral, diretor de Desenvolvimento e Expansão da Cesama
O desperdício de água, observado nas ruas, no entanto, é algo que deve ser evitado, na avaliação de Marcelo. Ele afirma que o fato de o sistema hoje estar seguro, não significa que o município está imune a desabastecimentos futuros. “Por mais que a gente tenha um sistema robusto, a água é um bem finito. Não estamos livres das influências climáticas, como anos de escassez. A gente vai sempre recomendar o uso racional e necessário, sem exageros.”
Situação afeta Paraibuna, onde mau cheiro é evidente
ETE
A Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do Bairro Granjas Bethel está em fase final de obras. A expectativa, segundo Marcelo, é de inaugurar a unidade já em outubro, inicialmente tratando o esgoto da região da Vila Ideal e boa parte do Bairro Poço Rico. “Seriam cerca de 200 litros de esgoto a menos no rio, cerca de 20% do total previsto. Gradativamente vamos ampliando este índice.”