Cerca de cem moradores do Bairro Industrial, Zona Norte, precisaram deixar suas casas às pressas na manhã deste sábado (20). Desta vez, felizmente não era a água suja do córrego Humaitá que ameaçava invadir as residências. A saída dos imóveis foi apenas uma das etapas do simulado de inundação promovido pela Defesa Civil, a fim de preparar a população e os diversos órgãos envolvidos para o período das chuvas, que se aproxima. O local escolhido, na Avenida Lúcio Bittencourt e vias adjacentes, é palco anual de enchentes, já que as autoridades ainda não conseguiram pôr fim às décadas de sofrimento dos moradores que vivem em uma área abaixo da cota do Rio Paraibuna.
De acordo com o subsecretário e coordenador da Defesa Civil, Márcio Deotti, a Prefeitura busca recursos junto ao Ministério da Integração para uma solução definitiva do problema, mas, enquanto se espera, a preocupação é “ter o mínimo de transtorno e de perdas humanas e materiais”, durante os alagamentos, já que a previsão para os próximos meses é de chuvas pontuais de grande intensidade, alternadas com períodos de seca.
Por volta das 9h, bombeiros, equipes do Samu, militares do Exército, policiais e integrantes da Defesa Civil e de outros setores da Prefeitura que fazem parte do Plano de Contingência ocuparam as ruas do Bairro Industrial no entorno do Córrego Humaitá. Várias vias ficaram fechadas ao trânsito como se, de fato, estivessem alagadas. Após o anúncio em um megafone alertar os cerca de cem voluntários para desocuparem suas casas sob o risco iminente de enchentes, as pessoas foram encaminhadas a um ponto de triagem na parte mais alta da avenida, no lado oposto ao rio. Na ficção, duas vítimas não conseguiram sair de suas residências e precisaram ser resgatadas pelos bombeiros com auxílio de barco.
“Moro há mais de 50 anos aqui e nunca vi uma simulação dessa, é a primeira vez. A Defesa Civil sempre vem quando precisamos, mas parece que a mentalidade deles está mudando, estão mais preocupados”, disse o aposentado Celso Schmitz, 60. Morador da Rua Mário Nogueira, perpendicular à Lúcio Bittencourt, ele disse que enchente “todo ano tem” e afirmou esperar há décadas por uma solução definitiva, já que as paredes de sua casa estão sempre estufadas em decorrência dos alagamentos. “Precisamos mesmo é de um projeto. Poderiam ampliar a margem do Paraibuna para o lado da Mata do Krambeck”, sugeriu.
Questões ambientais à parte, o subsecretário Márcio Deotti disse que as “bacias de contenção” seriam uma alternativa, mas ponderou que qualquer projeto, além de custoso, precisa ser analisado com cautela, para que o problema da inundação não seja apenas transferido de uma área para outra. “Enquanto isso, não podemos deixar as pessoas à mercê da chuva. Os objetivos do simulado são avaliar como está funcionando o Plano de Contingência, para se ter uma resposta ideal, e treinar a comunidade para que na hora da evacuação as pessoas estejam direcionadas.” Segundo ele, o alerta será emitido com base na previsão do tempo e análise da estação hidrológica instalada na ponte de Santa Terezinha, que mede o nível do Rio Paraibuna. “O monitoramento é feito pela internet, e temos condições de avaliar quando o nível do rio vai subir. Também estamos tentando conseguir sirenes de alerta para o Industrial, Benfica e Igrejinha.”
Presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Bairro Industrial, Nélio José de Oliveira disse que acompanha a situação desde 1982, quando mudou-se para o bairro. “Esperamos que, de alguma forma, esta simulação venha atenuar o sofrimento dos moradores e ajudar na obtenção de recursos para solucionar essa coisa emblemática que a gente enfrenta.”