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Alunos protestam por inclusão na UFJF

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Protesto foi organizado pelo DA da Faefid que, junto com outros grupos, questiona a dificuldade de acesso do calouro à acessibilidade (Foto: Leonardo Costa)
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Um cartaz se destacava entre o grupo de 80 estudantes da UFJF, que realizou protesto na manhã dessa segunda-feira (20), no campus da instituição. A peça mencionava o tema da última redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2017, que tratava dos “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”. O ato foi motivado pela situação enfrentada pelo estudante Hiago Thales Furtado da Silva, da Faculdade de Educação Física e Desportos (Faefid), mas também contou com a presença da aluna Ana Lua Oliveira, do curso de Arquitetura e Urbanismo, que vive a mesma dificuldade. Embora surdos, eles não teriam acesso a um intérprete para Língua Brasileira de Sinais (Libras), o que compromete o desempenho acadêmico de ambos.

Na Câmara Federal, um projeto de lei, em tramitação desde 2015, torna obrigatória a presença de tradutor e intérprete de Libras em salas de aulas, dos ensinos médio e superior (Foto: Leonardo Costa)

O movimento foi organizado pelo Diretório Acadêmico (DA) Carlos Campos Sobrinho da Faefid que, junto com a direção da unidade, a Atlética e a Empresa Júnior da Faculdade, questiona a dificuldade de acesso do calouro à acessibilidade. Na Câmara Federal, um projeto de lei, em tramitação desde 2015, torna obrigatória a presença de tradutor e intérprete de Libras em salas de aulas, dos ensinos médio e superior. Atualmente, o projeto aguarda parecer do relator na Comissão de Finanças e Tributação. Eles percorreram o anel viário, pararam na Faculdade de Educação, onde também fizeram um alerta sobre a situação, seguiram em direção à Faculdade de Letras, onde repetiram o gesto e, em seguida, foram recebidos no Anfiteatro da Reitoria, pelos pró-reitores de Graduação, Assistência Estudantil, Gestão de Pessoas e pelo diretor de Ações Afirmativas, que ouviram e responderam as demandas dos estudantes.

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O problema, no entendimento dos manifestantes, seria maior do que os casos específicos de Hiago e Ana Lua. Eles apontam que a graduação de Letras/Libras também sofre com a falta de intérpretes e instrutores, que auxiliam os estudos.

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“Todas as 16 licenciaturas precisam fazer a disciplina de Libras, e ela não é acessível. Temos três turmas, e é impossível conseguir vagas para todos. Então fica mais grave, porque a própria formação em Libras demanda profissionais”, reforça Raquel.

Embora demonstre felicidade por ter sido aprovado para o curso, Hiago se preocupa com a dificuldade em acompanhar os conteúdos transmitidos pelos professores.

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“Como vou aprender, como vou evoluir sem um intérprete? A Universidade sabia que precisaria desses profissionais quando abriu vagas para estudantes surdos. Sinto uma verdadeira barreira para continuar meus estudos. Tento interagir, assistir às aulas, tenho um esforço dos ouvintes, que me ajudam, mas ainda é difícil, muito diferente de ter um intérprete que estuda para isso.”

O estudante ficou surpreso com a mobilização dos colegas. “Eles não precisavam fazer isso, mas eles escolheram me ajudar. Somos uma família, e isso me deixa muito feliz. Espero que a gente consiga fazer com que a UFJF melhore na inclusão”, afirmou o calouro de Educação Física.

“Essa é uma realidade de toda a UFJF. São inúmeros os casos de condições que atrapalham pessoas com deficiência a permanecer na UFJF, não é uma exclusividade dos surdos. Sem sair da própria Faefid, os elevadores estão sem funcionar. Quem tem uma dificuldade de locomoção e precisa acessar os pisos superiores não consegue. Há um avanço que é a contratação de um intérprete que está em andamento e foi uma solicitação do Diretório ao Conselho Superior da UFJF. É muito pouco diante da demanda, mas é um avanço”, avaliou Victor Victor, presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE).

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Jovem Hiago Thales Furtado da Silva se disse surpreso com o apoio dos colegas (Foto: Leonardo Costa)

‘Estamos limitados por questões governamentais’

De acordo com o pró-reitor de Assistência Estudantil e Educação Inclusiva, Marcos Souza Freitas, é prioritária a capacitação dos técnicos administrativos em Educação e dos docentes, embora ele mesmo tenha pontuado que essa formação não é rápida. Os pró-reitores admitiram a falta de docentes e de intérpretes no curso de Letras/Libras e eles lembram que o curso forma professores e não intérpretes, o que gera uma demanda reprimida grande. Eles definiram uma nova agenda com uma comissão formada após a conversa com os estudantes, para continuar discutindo o assunto e levantando proposições. “Lutamos contra um padrão hegemônico de exclusão. As demandas são muitas e muito diferentes, por isso, enfrentamos muitas dificuldades. É óbvio que eles têm direito, mas, quando chegam nas unidades, os professores realmente não sabem lidar. Nunca quisemos enganar ninguém, mas estamos limitados por questões governamentais.”

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