Um juiz-forano de 30 anos foi o primeiro paciente da região a passar por um transplante simultâneo de órgãos, realizado pela Santa Casa de Misericórdia. O paciente recebeu um rim e o pâncreas, sendo que este último configurou como o primeiro a ser realizado pela instituição na região, somando-se aos demais procedimentos já existentes desde a década de 1980, como de rins; de córneas, desde 2008; e de fígado, que acontece desde 2017. A cirurgia foi realizada no dia 12 de junho, e os órgãos vieram de um doador de Muriaé, de 36 anos. Os detalhes sobre o procedimento foram repassados à imprensa na manhã desta quarta-feira (20).
Segundo o coordenador da Unidade de Prática Integrada de Transplante da Santa Casa, Gustavo Fernandes Ferreira, o paciente transplantado foi diagnosticado com diabetes tipo 1 quando completou um ano de idade. “Em 2013, o diabetes dele evoluiu para a falência dos rins, fazendo com que ele passasse a realizar a hemodiálise. Mas, devido à gravidade da diabetes, ele precisou entrar na fila do transplante de rim. Mas, como em 2017, a Santa Casa foi credenciada para realizar o transplante de pâncreas e rim, foi possível ofertar a este paciente o transplante simultâneo de órgãos, oferecendo maior qualidade de vida e sobrevida a este paciente”, destacou.
A duração entre a captação dos órgãos em Muriaé, realização de exames de compatibilidade entre o doador e o receptor e a implantação dos mesmos no paciente em Juiz de Fora foi de nove horas e 50 minutos. O transporte dos órgãos e da equipe médica entre as duas cidades foi realizado pelo Pégasus, helicóptero da Polícia Militar, que prestou apoio aos trabalhos. A cirurgia na Santa Casa teve duração de cinco horas e meia. O cirurgião de transplante da Santa Casa, Gláucio Souza, avaliou o tempo como hábil e adequado para o procedimento. “O tempo é decisivo. O tempo entre a retirada do órgão no doador e a implantação dele no receptor tem que durar até, no máximo, 12 horas. Se isto ocorrer em menos horas, melhor. Nós corremos contra o tempo, que é a nossa maior preocupação. Depois começam as outras, como as alterações no pós-operatório, mas, felizmente, este paciente está evoluindo bem e estamos muito felizes com o resultado”, comentou o cirurgião.
Transplante de pâncreas em três modalidades
Com a certificação da Santa Casa para a realização do transplante de pâncreas, a instituição passa a oferecer o procedimento em três modalidades. De acordo com Gustavo, a primeira e a principal delas é o simultâneo, indicado para pacientes que tiveram a falência dos rins provocada pelo diabetes tipo 1. “A segunda opção é o transplante de pâncreas após o rim, ou seja, para pacientes com diabetes que tenham sido submetidos primeiramente ao transplante de rim para controlar a doença, mas alguns pacientes não têm capacidade de manter o controle glicêmico, e a hipoglicemia que eleva o risco de morte e é a principal indicação. Inclusive, já temos um paciente aguardando na fila neste modelo. Por último, e mais restrito, é o transplante isolado do pâncreas, para pacientes que ainda têm o rim funcionando, mas que que não conseguem controlar. Estes casos são mais raros em função do avanço das terapias medicamentosas”, explicou.
O coordenador acrescentou que agora, com a Santa Casa, Minas Gerais passa a contar com dois hospitais credenciados para realizar este tipo de transplante muito específico. O outro fica em Belo Horizonte. “Fechamos um ciclo importante dentro dos transplantes de órgãos abdominais dentro da Santa Casa. Isto é fruto de um trabalho desenhado há alguns anos e feito por um grupo muito robusto. A gente não conseguiria fazer isso sem a estrutura que o hospital nos forneceu e o grupo multidisciplinar, que nos oferece segurança para realizar esse procedimento”, ressalta Gustavo.
‘Quero beber uma garrafa de água’
No quarto, em plena recuperação e cheio de expectativas, está Diogo de Souza Bernardes, 30 anos, morador do Bairro Marilândia, na Cidade Alta, e o primeiro paciente na região a receber órgãos em um transplante simultâneo. Para ele, será uma oportunidade para começar uma vida nova, já que convive desde seu primeiro ano de vida com o diabetes tipo 1, que em 2013 evoluiu para a falência renal, obrigando o ex-cobrador de ônibus a realizar sessões de hemodiálise. “Foram quatro anos e sete meses sofrendo com a insuficiência renal. Hoje eu sinto como se fosse um bebê, que vai ter que aprender a fazer tudo de novo, mais regrado e certinho”, ressalta ele, que é pai do pequeno Gabriel, 6 anos.
Diante de novas possibilidades, o maior desejo de Diogo é simples: beber uma garrafa de água, algo que não pode fazer por conta da hemodiálise. “Eu sempre soube que a minha chance de cura era o transplante, por isso, sempre tive esperanças. Agora quero aproveitar ao máximo cada instante e agradecer bastante a Deus. Sei que não poderei abusar, pois os transplantes não me deixam livre para fazer qualquer coisa. Pelo contrário, preciso ter mais cuidados para não regredir e ter complicações futuras”, comenta ele, que espera ter alta médica até o final desta semana, ir para a casa e matar a saudade do filho.