Ícone do site Tribuna de Minas

Escolas usam educação e arte como resistência a ameaças

Professora Jane Braga arquivo pessoal 3
PUBLICIDADE

A comunidade escolar decidiu não sucumbir às ameaças propagadas sobre supostos massacres em escolas de Minas Gerais nesta quinta-feira (20). Frente às intimidações, parte das instituições de Juiz de Fora escolheu aliar educação à cultura como sinônimo de resistência. Ações positivas e lúdicas se estendem também para todo o estado, afirma a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG).

Após uma sequência de discussões sobre o modo de enfrentamento à onda de violência nas escolas brasileiras, houve uma consonância da estratégia adotada pela maioria dos centros de ensino. Rede municipal, estadual e particular promovem atividades que procuram mostrar o papel da escola nesse cenário de medo.

PUBLICIDADE

Professora da Escola Municipal Oswaldo Velloso, Jane Braga lembra que na última semana mensagens falsas circularam pelas redes sociais anunciando uma invasão ao colégio. Desse modo, a ação programada nesta quinta tem um valor fundamental para rebater o panorama de insegurança que vem se alastrando.

PUBLICIDADE

“Escola não é lugar de polícia, é lugar de aprender e conviver”, explica Jane. A professora de português e matemática leciona no terceiro ano do ensino fundamental, com alunos de 7 a 8 anos de idade. Para esta quinta, ela planejou dar continuidade a uma atividade que vem sendo construída em processo: as crianças construírem seus próprios livros.

A proposta é que, inspirado no livro “Duas dúzias de coisinhas à toa que deixam a gente feliz”, de Otavio Roth, um material chamado “Uma dezena de coisinhas à toa que deixam a gente feliz” será montado pelos pequenos alunos. Simbólico, o dia 20 foi destinado ao início de uma nova página na trajetória de ressignificação do medo e em uma nova folha do livro das crianças. Os alunos expressaram os sentimentos que sentem de modo textual e imagético e destacaram, sobretudo, o que os faz felizes.

PUBLICIDADE

Literatura como aliada

A literatura é também uma aliada para exercer a consciência crítica, conforme apontado pela professora. Ela menciona que as várias perspectivas sobre um mesmo ângulo ajudam os alunos a terem outro olhar sobre julgamento e alteridade. Na escola onde Jane Braga é coordenadora, no período da manhã, a proposta foi diferente. Convidados a irem de branco, todos os alunos da Escola Municipal Doutor Dilermando Martins, que compreende da educação infantil até o quinto ano do ensino fundamental, customizaram seus próprios balões brancos. A cultura da paz é a inspiração para o projeto, que quer mostrar aos alunos que ali, na escola, elas estão seguras.

PUBLICIDADE

A metodologia do afeto

Indo na direção de combate aos discursos de ódio por meio da afeição, a Unidade do Colégio Conexão Jardim Glória, que atende a educação infantil, pediu que todos os alunos levassem corações de papel para casa. A intenção é que a figura seja preenchida com mensagens e levada de volta para a escola nesta quinta. Ao final do dia letivo, todos os trabalhos ficarão expostos.

A atividade foi realizada em toda a unidade, que abrange do maternal ao segundo período. Por ter esse público ainda tão jovem, o intuito é que, desde cedo, a escola seja assimilada como um lugar seguro e aconchegante. A promoção de integração entre família e docentes também acontece como um princípio a ser repassado.

Em toda a rede Conexão o dia foi nomeado “Dia do amor”, conectando sentimentos positivos. Em cada faixa etária, atividades diferentes serão programadas. Os alunos da unidade centro, dedicada ao ensino médio, têm planejado um lanche compartilhado e bilhetes trocados, além de rodas de conversa. Já no fundamental, localizado nas regiões Norte e Sul, as decorações tomarão conta, visando sempre que as emoções dos alunos sejam repassadas por meio do trabalho feito por eles.

PUBLICIDADE

Na mesma direção, o colégio Municipal Caic Núbia Pereira de Magalhães Gomes, no Bairro Santa Cruz, convidou os responsáveis para participar do dia de seus filhos. Na quadra do local, professores, funcionários, secretárias, pais e alunos compartilharão momentos de reflexão.

Arte como ferramenta

A música ditará o ritmo do dia para os estudantes do colégio Cave. Na entrada da escola, uma banda da própria instituição tocará para recepcionar os estudantes na entrada. O diretor, Lawrence Gomes, explica que as atrações continuam no intervalo, que será estendido. Um microfone ficará à disposição dos alunos que quiserem se apresentar, fazer stand up, esquetes e apresentações de teatro.

Os estudantes do terceiro ano administrarão o evento, que procura mobilizar toda a instituição. Com isso, a escola busca proporcionar um ambiente de inserção a ser construído, conta o diretor. “Estamos transparecendo para a sociedade que a escola tem valores que não podem se dobrar ao medo”, ressalta Gomes, que demonstra preocupação com a saúde mental dos alunos e demais colaboradores diante da situação atual.

PUBLICIDADE

Já na Escola Municipal Presidente Tancredo Neves, o diretor Carlos Henrique Duque Estrada solicitou que todos os professores desenvolvessem trabalhos com a temática de paz. As atividades ficam expostas no muro da escola, o que fará com o que os alunos se tornem também expositores do que sentem.

A instituição de ensino tem aproximadamente 700 alunos, que vão do primeiro ao nono ano, período que abarca todo o ensino fundamental. Além disso, na modalidade do Ensino de Jovens e Adultos (EJA), a reflexão sobre a paz nas escolas também será abordada, esclarece o diretor.

O filme “Extraordinário”, do diretor Stephen Chbosky, lançado em 2017, será exibido aos estudantes da EJA para que, posteriormente, a diferença e respeito guiem o debate. Para o diretor, as atividades lúdicas precisam ser feitas para que o dia não fique estigmatizado.

Rodas de conversa

Após pedir tranquilidade no ambiente escolar, a Secretaria de Estado de Educação informou que as escolas promoverão atividades com foco nas habilidades socioemocionais dos estudantes. Estão previstas “rodas de conversa, atividades de integração e promoção de um ambiente acolhedor e feliz, oficinas, palestras e atividades pautadas no Currículo Referência de Minas Gerais (CRMG)”, afirmou a SEE em nota.

Sair da versão mobile