Na lista dos 77 candidatos que tiraram a nota mil na redação do Enem em todo o Brasil, está a juiz-forana Nathália Couri Vieira Marques, 18 anos. Moradora do Bairro Bom Pastor, na Zona Sul, ela é filha única e deseja cursar Medicina. Entre as opções do Sisu, revelou que irá se inscrever na UFJF e na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Nathália é estudante do Colégio Santa Catarina desde 2005 e optou por aprofundar os estudos da produção textual no curso Oficina das Letras, onde recebeu a equipe da Tribuna para uma conversa.
Diante do tema “Intolerância religiosa” proposto aos candidatos do Enem 2016, a estudante afirma que o assunto inicialmente parecia fácil, mas que exigiu esforço durante a amarração das ideias e a escrita. “Na minha argumentação, busquei o menos óbvio. Vieram ideias novas na hora, tratei da educação no Brasil, de globalização, coloquei alguns conceitos de filosofia, sociologia, para tentar abranger outras áreas de conhecimento. Apresentei a situação e expliquei que a educação conservadora agrava o problema. Fui do geral ao particular, desde a questão do Estado Islâmico até o Brasil”, conta.
Dentre as exigências da própria prova, ela sugeriu uma proposta para minimizar os conflitos oriundos da intolerância religiosa. “Defendi que, como não tinha liberdade religiosa no Brasil, não existia uma democracia plena.” Como proposta de intervenção, a estudante indicou que todas as religiões sejam representadas politicamente e garantam a sua expressão.
A ideia de refletir o problema durante a produção do texto e, ao mesmo tempo, propor soluções para tal foi muito abordada pelos professores durante as aulas, gerando uma base de reflexão para que os candidatos demonstrassem conhecimento na hora do exame. “É importante a discussão sobre a realidade brasileira, com temas políticos, sociais e econômicos. E a redação do Enem oferece uma proposta perfeita, que leva o aluno a fazer uma reflexão sobre esses temas, forçando uma postura propositiva: de não apenas interpretar a realidade, mas propor formas de mudá-la”, explica o professor de redação de Nathália, Adriano Kassawara.
O acompanhamento criterioso de Nathália e dos colegas foi destacado pela professora de Língua Portuguesa, Alice Frascaroli. “A correção é feita parágrafo a parágrafo, o professor se senta com o aluno, corrige e conserta o que está errado, oferecendo alternativas para que haja uma evolução no processo de aprendizagem”, explica. A docente ressalta que o bom desempenho de Nathália também foi proveniente do próprio interesse da aluna que, além da boa base escolar, sempre demonstrou a vontade de ir além. “É uma aluna acima da média”, classificou.
Após ter a oportunidade de conferir as notas, Nathália, como todos os outros candidatos, foi convocada a responder à consulta pública feita pelo MEC que visa a propor formas de redução de custos da aplicação da prova do Enem, sendo uma delas a própria exclusão da redação. A estudante afirma ser contra. “Eu acho que a redação é necessária porque estimula o estudante a estar bem informado. Acaba conscientizando a pessoa que está estudando. Se tirar a redação, a pessoa vai passar apenas a estudar matérias que não mudam. A pessoa não vai se conscientizar sobre o que está ao seu redor, ficará sem entender o que está acontecendo em seu país”, argumenta. As notas do Enem foram divulgadas na última quarta-feira no site do Inep.