Com o avanço da vacinação contra a Covid-19 em Juiz de Fora, a cidade ultrapassou a marca de 70% da população imunizada. Com mais de 950 mil doses aplicadas até a última sexta-feira (10), a cidade entrou em uma nova fase do Plano JF Viva, que habilitou estabelecimentos a aumentarem a capacidade de público e a ocorrência de eventos, possibilitando que diversas atividades sociais e econômicas sejam retomadas. Nesse momento, em que a pandemia está prestes a completar um ano e nove meses desde o seu anúncio, algumas pessoas começam a planejar encontros e confraternizações de fim de ano, mesmo com a apreensão a respeito dos casos da variante Ômicron.
Por meio de reuniões em ambiente on-line, a família da aposentada Madalena Conceição de Oliveira está organizando o esperado Natal de 2021, retomando a tradição que não acontecia desde 2019. No início, eles combinavam de fazer a festa na casa de um dos nove irmãos. Com a chegada dos sobrinhos e dos sobrinhos-netos ficou mais difícil acomodar todos e eles passaram a alugar uma granja, para ter um conforto maior.
Será a primeira vez que os irmãos todos se encontrarão durante a pandemia e, apesar da ansiedade para viver esse momento, eles já estão se preocupando com medidas para diminuir riscos. Os encontros que chegavam a durar até seis dias foram reduzidos para, no máximo, três. Todos farão testes de Covid-19, afinal, segundo Madalena, além dos familiares, o espaço receberá trabalhadores, como cozinheiros. O contrato inclui que os trabalhadores também apresentem o teste.
“A maioria dos participantes vai ter tomado a dose de reforço até o Natal, isso também dá uma sensação de segurança maior. O ideal é que todos usassem máscaras o tempo todo, mas já sabemos que isso não será possível, porque as pessoas vão se alimentar. Mas vamos ter álcool em gel por todo o espaço e também estamos combinando de todos passarem o dia na granja e voltarem para suas casas, para não dividirem o ambiente fechado”, explica Madalena.
Ela conta que está ansiosa, embora todos estejam preocupados com a situação da nova variante. “Estou com muita vontade, tem sobrinhos que não vejo há dois anos, nos falamos apenas por telefone, por Whatsapp. Família é tudo, então a vontade é muito grande. Mas vamos acompanhar tudo muito de perto.”
Para o pneumologista e professor da UFJF Júlio Abreu, a principal orientação é vacinar todas as pessoas que, no momento, podem receber o imunizante contra a Covid-19, ou seja, indivíduos com 12 anos ou mais. “O foco mais importante é a vacinação. Precisamos chegar às festas de fim de ano com o maior número possível de pessoas vacinadas. Todo mundo que tiver que receber a dose de reforço, deve estar com ela em dia.”
Segundo Júlio, ainda é cedo para afirmar que uma nova onda da doença, como tem ocorrido na Europa, possa impactar o Brasil da mesma forma. Ele destaca que países que têm um maior percentual de pessoas imunizadas tendem a ter uma taxa de letalidade menor. Mas, ainda assim, é preciso manter a atenção. O profissional destaca que o momento é de manter a vacinação e a oferta de serviços de saúde, para que as pessoas estejam protegidas enquanto vivemos esse intervalo de redução no número de casos.
O pneumologista aponta para a necessidade de ter equilíbrio na decisão sobre as confraternizações de fim de ano. “Toda medida sofre uma fadiga em algum momento. Temos a fadiga social. As pessoas perguntam sobre como será o Natal deste ano, acredito que será melhor do que o do ano passado. Pode ser que tenhamos mais casos depois das festas, mas teremos menos casos graves.”
Nesse cenário, segundo o professor, é preciso calcular bem os riscos e fazer adequações. “Se vai receber pessoas que estão mais expostas aos riscos, como idosos e pessoas com comorbidades, é preciso ver se se elas podem passar mais tempo de máscara, se podem se manter afastadas por mais tempo. Pessoas com mais riscos precisam se precaver mais, mas sem extremismos.”
Orientações adicionais
Mesmo com o esquema vacinal completo, é possível contrair a infecção. As pessoas que apresentarem sintomas da doença precisam passar por um diagnóstico médico, conforme orienta a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O órgão regulador recomenda que, mesmo que se apresentem de maneira leve, sintomas, como febre, cansaço, tosse, perda de paladar ou olfato e dor de cabeça podem indicar que o indivíduo contraiu o novo coronavírus e, somente com o exame, o médico pode confirmar ou descartar a doença com segurança, interrompendo a transmissão do vírus para outras pessoas.
A Anvisa também reforça que as vacinas autorizadas para uso no Brasil não interferem em resultados de exame de diagnóstico da doença. A tecnologia usada tanto nos testes RT-PCR ou exame rápido de antígenos virais verifica a circulação do vírus no organismo no momento em que o teste é feito.
O que dizem os números?
O professor do Departamento de Estatística e coordenador da Plataforma JF Salvando Todos, Marcel de Toledo Vieira, destaca que o monitoramento das últimas semanas confirma a tendência de redução, ainda que lenta, do número de casos de Covid-19 e do número de leitos de Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) ocupados. O número de óbitos flutua, mas o cenário é mais favorável do que nos meses anteriores.
“Avançamos muito com a vacinação. Tivemos uma redução da gravidade dos casos e esperamos que o número de mortes apresente uma redução nas próximas semanas”, considera o professor Marcel. Para ele, é importante que as pessoas voltem a ter o convívio, mantendo a maioria dos cuidados. O uso de máscaras, por exemplo, quando é uma medida tomada de maneira precoce, é fundamental para evitar a transmissão.
“Estamos percebendo que a cobertura vacinal elevada, com as duas doses e agora com a dose de reforço, é essencial, e é a base para a solução desse problema, mas não é a única solução, infelizmente.” Para guiar a decisão em relação às festas de fim de ano, ele ressalta que é possível pensar em quatro pilares, que são: a manutenção do uso das máscaras nesses encontros. Máscaras bem ajustadas ao rosto, máscaras de boa qualidade; Marcar encontros essencialmente em locais abertos, quando possível. E se for em locais fechados, que tenham uma ventilação muito boa; dar prioridade para o encontro com pessoas que estejam vacinadas também e, por fim, manter distância de um metro a um metro e meio.
A expectativa, de acordo com Marcel, é otimista. “A pandemia traz muitos desafios, não devemos deixar de estar atentos. Precisamos continuar a acompanhar os movimentos dos outros países e não esquecer que estamos em uma pandemia ainda. Enfrentá-la, sem negar que ela existe. Essa é a principal mensagem. Que é positiva, mas ainda é cautelosa.”
Importância do contato social
Depois de tanto tempo convivendo com medidas de restrição de contato, as pessoas reagem de formas diferentes à retomada de atividades sociais, segundo o professor da Faculdade de Psicologia da Estácio Juiz de Fora e psicólogo clínico, Ernani Gomes. Segundo ele, há muitos cenários. Casos de pessoas que demoraram a se acostumar com as atividades adaptadas para o ambiente on-line e que, no momento, estão tão confortáveis, que não querem voltar para os espaços sociais, por exemplo. Há pessoas que tiveram o home office decretado para além da pandemia ou o sistema híbrido. E, ainda, quem já tenha abandonado o distanciamento há muito tempo.
Especificamente sobre as pessoas que trabalham em casa e, por isso, acabam saindo menos, segundo Ernani, há muitos relatos de susto e de não se sentir bem, enquanto, para outras, parece que a pandemia acabou, com a presença frequente em eventos, viagens e estádios, enfim, vida normal. “Há pessoas que ainda estão com muito medo. Psicologicamente, criaram muitas barreiras em relação à convivência social. Há outras para as quais, em um primeiro momento, o isolamento fez muito mal, mas agora dizem que desaprenderam a viver em sociedade. Há, ainda, aqueles que ficaram isolados nos primeiros momentos, mas depois voltaram a conviver.”
O convívio, segundo Ernani, faz muito bem para a saúde mental das pessoas. “Voltar a ter esse contato é muito importante. Mas é fundamental ter cuidado, lembrar de usar a máscara e álcool 70%. Caso a pessoa decida ir a alguma confraternização, que prefira pequenos grupos, que tenha consciência do quanto isso é essencial.”
Para Ernani, é preciso avaliar se vale a pena participar. “Colocar na balança vai ser legal. Será que a confraternização com a empresa, com duzentas pessoas, é necessário? Com um grupo menor de cinco, seis pessoas, não é mais seguro? Ir devagar, ter responsabilidade é a palavra de ordem ainda.”
Existem ressalvas, mas o professor reitera que retomar o contato, aos poucos, é imprescindível. “Somos seres sociais, vai fazer muito bem retomar o contato com cuidado, devagar e com precaução. Se for possível planejar, não deve-se ficar em ambientes fechados. Fora isso, aproveitar. Ficar atento às informações sobre os casos da nova cepa, para avaliar melhor o que fazer, sabendo que o vírus não escolhe data.”