O Bairro Estrela Sul, em Juiz de Fora, está prestes a passar por uma reorganização no trânsito, na rotatória entre a Alameda Pássaros da Polônia e a Ladeira Alexandre Leonel. As obras, conduzidas por quatro empresas nas proximidades (Independência Shopping, Spazio Shopping Design, Supermercado Bretas e Estação Sul), preveem intervenções estruturais e inclusão de faixas de pedestres e semáforos. O ponto em questão é, constantemente, alvo de reclamações de quem transita pela região: enquanto os motoristas têm de lidar com as retenções, os pedestres não possuem lugar de travessia seguro. A reportagem viu o esboço do projeto na semana passada, mas não teve acesso à integra para publicação. De acordo com a Settra, o documento será tornado público quando não houver possibilidade de novas alterações.
O projeto será o primeiro de obras viárias possibilitado pelo decreto 13.735, de setembro de 2019, que dispõe sobre o recebimento de doação de serviços, sem ônus ou encargos, pela administração pública direta. De acordo com a Secretaria de Transportes e Trânsito (Settra), a Prefeitura de Juiz de Fora aguarda a entrega da documentação prevista na publicação e assinatura do termo de doação de recebimento de serviços pelos empresários interessados, para que o início das obras seja deferido. As obras estão avaliadas em R$ 300 mil, segundo a pasta.
As intervenções englobam diminuição e expansão de alguns canteiros que integram a rotatória, entre outras alterações geométricas. Além disso, cerca de sete faixas de pedestres e conjuntos semáforos devem ser implantados, conforme adiantou o engenheiro civil Rodrigo Mendonça, representante das empresas Spazio e Bretas. As características do tráfego de veículos, entretanto, não sofrerão alterações. “A missão foi integrar os empreendimentos e permitir que o pedestre participe disso, pois hoje não tem como atravessar ali”, diz. “O projeto prevê faixas e toda a consideração de pedestres, porque as cidades são para as pessoas, não para os carros”, disse.
Como a Tribuna já havia denunciado em outras ocasiões, os pedestres são os mais afetados na região, especialmente na rotatória. A faixa para travessia mais próxima fica a cerca de 200 metros, em frente ao Bretas e, nas ruas convergentes, não há outros pontos para passagem segura. O fluxo intenso de veículos em horários de pico também apresenta riscos, visto que colisões são constantes no local.
Decreto possibilitou projeto
O decreto 13.735, publicado em 23 de setembro de 2019, possibilitou que as empresas privadas da região se encarregassem das obras para melhoria no trânsito do Estrela Sul. A publicação do Executivo autoriza órgãos e entidades da administração pública municipal direta, autárquica e fundacional a receber doações de serviços, sem ônus ou encargos, de pessoas físicas ou jurídicas de direito privado. Em março de 2018, a PJF promoveu um estudo de tráfego cujo objetivo era apontar alternativas para melhorar a segurança viária no Bairro Estrela Sul. O levantamento foi desenvolvido por uma empresa de consultoria de mobilidade urbana, contratada pela iniciativa privada (Bretas, Spazio Design e Independência Shopping), com aval da Settra. O monitoramento se concentrou na rotatória entre a Ladeira Alexandre Leonel e a Alameda Pássaros da Polônia, assim como em pontos no entorno onde o trânsito apresenta retenções e riscos para condutores e pedestres. O projeto para a região partiu dos resultados apontados pelo estudo, fundamentado em uma contagem volumétrica.
De acordo com o secretário de Transporte e Trânsito, Eduardo Facio, a proposta de reorganização do trânsito no Bairro Estrela Sul motivou a elaboração do decreto. Desta forma, ele será o primeiro proposto pela iniciativa privada e propiciado pela publicação. “Isso é muito importante para a Prefeitura, não só para esse local, mas qualquer outro local que a gente tenha necessidade e que a iniciativa privada queira apoiar”, destaca o titular da pasta. Segundo a Settra, para o início das obras, a pasta aguarda a entrega da documentação solicitada pelo decreto para, então, as partes assinarem o termo de doação de recebimento de serviços. Entretanto, ainda não há previsão de quanto tempo deve durar o trâmite.
Simulação aponta necessidade de conjunto semafórico
A partir dos dados da contagem volumétrica realizada no ano passado, foi realizada uma simulação para mapear a situação atual e testar a nova proposta, de acordo com o supervisor do Departamento de Estudos e Projetos da Settra, Marcelo Valente. “No horário de pico, a rotatória se auto-trava, porque os acessos vão parando os carros e vão formando as filas”, explica. “As contagens serviram exatamente para ver a condição atual. A solução seria semaforizar, além de algumas pequenas obras físicas. Fazendo a nova simulação, você vê como não tem engarrafamento porque esses carros, na verdade, estão esperando o semáforo abrir. Na hora que abrir para um, o outro anda.”
A Ladeira Alexandre Leonel liga os bairros São Mateus e Cascatinha, em um trânsito contínuo e com prioridade, atualmente. Já quem acessa a rotatória vindo do Independência Shopping ou da Alameda Pássaros da Polônia, deve realizar paradas, o que contribui para a retenção do tráfego nessas vias. Conforme o titular da Settra, Eduardo Facio, o conjunto semafórico é um ponto chave para organização do fluxo de veículos que transitam diariamente pela região. “A rotatória não tem mais o efeito que ela foi criada para ter, que é organizar o fluxo de todos os lados que chegam nela. Com o semáforo, nós organizamos, dando um pouco de tempo para cada um, sem que todos estejam dentro da rotatória”, diz. “Você organiza segurando os extremos da rotatória, deixando um entrar a cada momento.”
Segundo Valente, além da organização, os semáforos também irão propiciar mais segurança no trevo, somados às faixas de pedestres e as modificações nos canteiros. “O que vai acontecer é que esses canteiros terão um direcionamento para o pedestre poder passar, porque hoje ele fica perdido ali. Semaforizar a rotatória em diversos movimentos, dará a oportunidade de todo mundo se movimentar. Além de organizar os movimentos, você dá condições de segurança para o pedestre e para os carros também.”
Nova rotatória
As intervenções também preveem a inclusão de uma rotatória na Ladeira Alexandre Leonel, em frente ao Supermercado Bretas e ao Spazio. O ponto, entretanto, não terá semáforos. “Vamos fazer uma rotatória que vai melhorar esse movimento. Hoje, para rotacionar, os carros têm que entrar dentro do Bretas. Vai acabar esse problema. É aquela rotatória acessível, que é alta, mas não tem o meio fio, então um carro maior, como um caminhão que não faz esse giro, pode passar em cima da rotatória e entrar”, afirma o engenheiro civil Rodrigo Mendonça.
Intervenções devem durar três meses
Ao serem iniciadas, as obras na rotatória entre a Alameda Pássaros da Polônia e a Ladeira Alexandre Leonel, bem como inclusão do novo equipamento em frente ao Bretas e ao Spazio, devem durar cerca de três meses, segundo o engenheiro civil Rodrigo Mendonça. “Nosso escopo é fazer toda a parte civil: de canteiro, grama, asfalto, infraestrutura dos sinais, ou seja, os eletrodutos e canos. Nós vamos comprar todo o material semafórico e a Prefeitura vai instalá-los e fazer a sinalização horizontal e vertical, que é pintura de faixas e placas.”
Para Mendonça, as expectativas em relação às intervenções são positivas, destacando a importância da atuação da iniciativa privada no projeto. “As empresas estão consolidadas no local e entendem que precisam contribuir e melhorar a condição da cidade. Por isso, estão se propondo a doar essa obra para a Prefeitura. Essa parceria precisa existir. A Prefeitura tem suas dificuldades financeiras, e se os empresários não entenderem isso e não ajudarem de alguma forma, nós ficamos com muita dificuldade de crescimento e melhoria da cidade”, aponta.
Rotatória não suporta mais volume de tráfego, aponta especialista
A rotatória entre a Alameda Pássaros da Polônia e a Ladeira Alexandre Leonel, quando foi construída, atendia a necessidade da área, entretanto, não suporta mais o volume de tráfego, de acordo com o mestre em Engenharia de Transportes, José Luiz Britto. Isto por conta dos estabelecimentos comerciais de grande porte e do crescimento da região, que resultou no aumento do fluxo de veículos. “As rotatórias são muito importantes no contexto viário. Elas organizam os fluxos sem necessidade de semaforizar, e entra a questão da preferência daqueles que estão, exatamente, na rotatória. Ali (Estrela Sul) há vários movimentos complexos e, agora, não está atendendo mais porque o volume de tráfego aumentou muito e a tendência é aumentar mais ainda”, explica. “Então, o recurso que teria ali, na minha opinião, seria a semaforização, ou alguns movimentos teriam que ser modificados caso não houvesse essa semaforização. É questão de um bom projeto”, pontua Britto.
Além disso, a deficiência no transporte público também é um ponto que implica na preferência pela utilização de veículos particulares pela população. “O transporte público em Juiz de Fora, infelizmente, não atende a demanda que nós temos. Ninguém confia no transporte público em Juiz de Fora, a verdade é essa. Aí você parte para o transporte individual, com muito carro em circulação. Estamos na contramão do resto do mundo, que é exatamente reduzir o volume de tráfego de automóveis e substituir, ou seja, fazer a passagem para o transporte público dessas pessoas que utilizam o transporte individual.”
Para Britto, a iniciativa privada estar se prontificando para realizar as obras no Estrela Sul é um fator positivo, considerando as dificuldades financeiras que as prefeituras vêm enfrentando. “Acho isso muito bom porque todos são beneficiados.”