No dia 20 de novembro, o país celebra o Dia Nacional da Consciência Negra, data escolhida por marcar a morte de Zumbi dos Palmares, um dos maiores símbolos de resistência e luta contra a escravidão. Em Juiz de Fora, diversas atividades serão realizadas neste dia para marcar e propagar a cultura negra. As ações, que tiveram início no dia 1º de novembro, com a abertura da programação dos “20 dias de ativismo contra o racismo” e da instalação “Vidas negras importam”, no Centro, serão encerradas com uma passeata pelas ruas e audiências organizadas pela Câmara Municipal e pela OAB Juiz de Fora.
Às 9h, será realizada a III Caminhada da Promoção da Igualdade Racial. A concentração acontece na Escola Estadual Fernando Lobo, no Bairro São Mateus, de onde os manifestantes partirão em direção ao Parque Halfeld, no Centro, em frente à Câmara Municipal. Organizada pelo movimento Convergência Negra, em parceria com a Superintendência Regional de Ensino (SRE) de Juiz de Fora, a passeata contará com a participação da secretária de Estado de Educação, Macaé Maria Evaristo dos Santos. De acordo com organizador, Martvs das Chagas, o ponto de início da manifestação é simbólico para o movimento. Em setembro, frase com conteúdo racista foi pichada nos muros da instituição, no Bairro São Mateus. “A escola está sendo vítima de incitação racista, então é uma forma de desagravo aos alunos daquela escola, para dizer que estamos atentos a essas manifestações e que elas não passarão impunes”, afirma.
Na parte da tarde, às 17h30, diversas lideranças de movimentos sociais participarão da Tribuna Livre da Câmara Municipal. O objetivo é fazer um diagnóstico sobre as atividades desenvolvidas este mês, apontando saídas para a atual situação da população negra da cidade. Um estudo publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) – órgão vinculado à ONU -, em parceria com a Fundação João Pinheiro e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostrou que Juiz de Fora é a terceira cidade do Brasil em desigualdade entre brancos e negros. A pesquisa, publicada em junho deste ano, leva em conta o Índice de Desenvolvimento Humano (IDHM) da população negra. O município aparece depois de Porto Alegre (RS) e Niterói (RJ).
No dia seguinte (21), a OAB Juiz de Fora recebe palestrantes para promover uma discussão jurídica e histórica sobre a desigualdade racial e a situação da população negra desde os tempos da escravidão. O evento acontece às 17h30, na sede da OAB Juiz de Fora, e contará com a participação da angolana Amélia Carlos Cazalma. Doutora em Educação e Turismo, ela relatará a experiência de ser negra em Angola, um dos principais países fornecedores de escravos para o Brasil nos séculos passados. A programação especial terá encerramento no dia 30, com uma audiência pública organizada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) que debaterá a mortalidade de jovens negros e a disparidade social na cidade. O evento também acontece no prédio da OAB Juiz de Fora, localizado na Avenida dos Andradas 696, Bairro Jardim Glória.
Conscientização
Durante todo o mês, escolas da cidade tiveram a possibilidade de desenvolver atividades relacionadas à temática da consciência negra. Uma dessas instituições foi Escola Municipal Murilo Mendes, no Grajaú. A ideia de elaborar atividades com alunos surgiu há cerca dois meses, fruto de uma conversa entre a coordenadora Anna Luiza Horta Raymundo e a professora Juliana Ferreira. “Apresentamos um vídeo sobre a consciência negra e optamos pelo livro ‘As Doze Princesas Dançarinas’, dos Irmãos Grimm, pois foi o que mais chamou atenção deles, por causa das vestimentas dos personagens e o fato das rainhas negras encontrarem um rei”, explicou Anna Luiza. A partir disso, cerca de 70 alunos, entre 8 e 10 anos, se organizaram em grupos para criar as personagens do livro, bonecas negras e seus respectivos pares, com objetivo de recriar o baile que se passa na história. Assim, os alunos conheceram mais sobre os costumes e a cultura negra, como vestimentas, festas típicas e a beleza negra em ter cabelo anelado ou cacheado, por exemplo.
Na avaliação da coordenadora, a atividade permitiu aos alunos valorizar e enxergar a beleza que todos têm, independentemente da cor ou raça. “Está sendo muito proveitoso o trabalho. Eles fizeram muitos comentários sobre a atividade, passaram a valorizar outros aspectos, como estilo de vida e roupas utilizadas. Eles enfeitaram os bonecos da maneira como se veem ou como gostariam que os outros os vissem. Exploramos bastante o livro e a cultura afro, como penteados, vestimentas coloridas, músicas e estampas, começando a trabalhar alimentos e suas origens. Agora estamos trabalhando as receitas e suas origens.”