No casaco de uma a estampa “A+”. No vestido da outra, “O+”. Em cada roupa, um tipo sanguíneo inscrito a chamar atenção para uma causa coletiva e, principalmente, urgente. Realizado por estudantes do curso de moda da Faculdade Estácio de Sá de Juiz de Fora, o desfile que tomou a Rua Mister Moore na manhã deste sábado (19), pouco antes do meio-dia, não apenas apresentava a produção de uma nova geração de estilistas, que daqui alguns anos chega ao mercado local e nacional. Cada criação norteava-se no sangue como convite à solidariedade. De acordo com a responsável pela captação e cadastro de doadores do Hemocentro que atende a cidade e a região, Lidiane Moura, o evento, antes de servir como espaço de cooptação, ajuda a sensibilizar as pessoas para a causa. “Apesar de estarmos aqui em Juiz de Fora há mais de 25 anos, muita gente desconhece nossa existência. Precisamos de doadores”, pontua.
Atualmente, o local vive uma queda de 32% de doação para grupos sanguíneos negativos e um percentual menor, mas ainda deficitário, para grupos positivos. “Em toda a rede há essa queda, que esperamos reverter com a Semana do Doador, que se inicia na próxima segunda, 21, e termina no dia 26 deste mês. Nossa expectativa é que consigamos ampliar o estoque, e eventos assim nos ajudam a ‘plantar uma semente’ na consciência das pessoas”, comenta Lidiane, destacando que, para a Organização Mundial da Saúde, se apenas 5% da população doassem sangue, não faltaria a substância. Na cidade e região, porém, o índice é de meros 2,4% dos habitantes.
Para Paula Campos, coordenadora do Curso de Moda da Estácio de Sá, a parceria, que chega ao seu quinto ano, retrata, também, o papel social de uma disciplina que não se encerra no glamour e no descarte. “Há um papel da moda junto das ações sociais. Ela pode e deve trabalhar com a autoestima do ser humano e da sociedade. E um desfile pode atuar num outro tipo de mobilização, conferindo outra visibilidade”, afirma, diante de trabalhos supervisionados por professores e resultantes de aprendizados em bordados, pedrarias, estamparia e costura.
Além de garantir espaço para conhecimentos como o de que um doador pode salvar até quatro vidas, o desfile, conforme Paula, também se abre para um acerto de contas com a própria narrativa da cidade. “Juiz de Fora tinha muita tradição na área do vestuário. Daí a alcunha de Manchester Mineira, por suas fábricas de tecidos. Apresentar publicamente a produção do curso de moda local ajuda a revigorar essa história”, defende, certa de que revigora, principalmente, a oportunidade de se construir um cenário de responsabilidade mais concretas com o outro.