Vanessa, atualmente, trabalha como professora regente para alunos do 1º ano do ensino fundamental na Escola Municipal Professora Edith Merhey e na Escola Uirandê, nesta última, ela também auxilia na coordenação. Quando conversou com a Tribuna, há duas semanas, seus alunos retornavam às atividades presenciais, e a alegria e a apreensão pelo novo eram inevitáveis. “Os alunos ficaram super ansiosos, desde o momento em que foi avisado sobre o retorno. Todos queriam voltar. Quando chegaram na escola, disseram que estavam com saudade, não só dos professores, mas dos funcionários também, do ambiente, de ver como a escola estava. Chegaram animados, cheios de casos para contar. Foi um momento muito agradável e prazeroso, apesar da apreensão que a gente vive”, descreve a professora. Segundo ela, alguns pais relataram que o retorno os lembrava da primeira vez em que deixaram seus filhos na escola. “De certa forma, foi sim uma primeira vez. Uma primeira vez dentro dessa nova realidade.”
A realidade agora é bem diferente do que era antes da pandemia, e o cenário é incerto. Apesar do avanço da vacinação em Juiz de Fora e da melhora dos índices epidemiológicos, ainda há a circulação do coronavírus, e todo o cuidado é necessário para que haja a segurança dos alunos e dos trabalhadores das instituições de ensino. E para quem trabalha com crianças, o desafio pode ser maior, já que os pequenos tendem a ser mais inquietos. Além do domínio de sala, agora, com o modelo de ensino híbrido, que mescla o remoto com o presencial, os desafios da docência tendem a aumentar.
“A gente precisa ressignificar de novo. De certa forma, você vai desconstruir aquela questão da dependência do computador, da ferramenta digital e trazer de novo para a criança o gosto pelo chão da sala de aula. É um processo de construir e reconstruir. As crianças estavam com saudades, mas, em contrapartida, são muitos protocolos a serem seguidos. É preciso entender o significado de estar em sala agora e, ao mesmo tempo, dar aula para aqueles que estão em casa. É preciso fazer as crianças compreenderem esse momento.”
E não é de agora que Vanessa tenta entender como será o processo de retomada. Como auxiliar da coordenação na Escola Uirandê, ela faz parte da equipe que ajudou a organizar os procedimentos e protocolos na instituição. “A gente precisa acolher tanto as famílias, quanto os professores. É preciso planejar, pensar nos detalhes e na saúde dos colegas e alunos”, afirma.
Adaptação aos novos modelos de ensino
Na avaliação dela, apesar de ter havido suporte das instituições de ensino durante o trabalho remoto, coube ao professor a incumbência de fazer o processo acontecer. Embora considere positiva o uso de plataformas digitais no aprendizado, reconhece as dificuldades de ensinar a distância e, principalmente, as defasagens educacionais acentuadas pela pandemia, especialmente na educação pública.
“Aprender a lidar com ferramentas digitais foi um grande ganho para a educação, apesar de a gente saber que não atingiu 100% dos alunos e que muita coisa ficou sem ser feita., principalmente na rede municipal, onde as crianças têm a dificuldade do acesso. Eu vejo que a educação caminhou de formas distintas e criou-se uma grande lacuna entre a rede privada e a rede pública.”
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Para tentar minimizar as perdas educacionais no período, os professores tiveram que se reinventar e também aprender. “Foi muito desafiador no início, porque estávamos lidando com algo muito novo e inesperado. Tivemos que fazer muitos cursos e adquirir ferramentas para trabalhar. A tentativa era de não perder a atenção das crianças, então, fazíamos atividades por meio de ferramentas pedagógicas acrescidas sempre de muita coisa lúdica”, conta.
Ela acredita, entretanto, que a experiência do ensino remoto será positiva para o modelo híbrido. “Eu acho que essas ferramentas foram um grande ganho para a educação no sentido de complementar o ensino presencial, tanto para o aluno quanto para o professor. Contribuiu para que trabalhássemos a habilidade para fazer uso do computador. Eu penso que essa experiência vai ser positiva para a educação”, opina.
“O papel do professor é fundamental”
Vanessa faz questão de frisar a importância do papel no professor na formação de um indivíduo. Na opinião dela, o cenário pandêmico reforçou a relevância desse profissional. “A função do professor sempre foi muito questionada. Já se falaram até em fazer educação domiciliar, em alguns tempos. Agora, a pandemia serviu para consolidar que o papel do professor é fundamental na vida das crianças. Não só como uma pessoa que vai ajudar as crianças na caminhada escolar, mas, principalmente, é a pessoa que acolhe e que ajuda na sua socialização. Na educação infantil, onde as crianças não dependem de tantos componentes curriculares, ainda sim a figura do professor foi sentida de forma significativa”, afirma.
Para ela, o reconhecimento da dedicação e da função do professor vêm de diferentes formas, seja pelo protagonismo no processo de aprendizagem ou por acontecimentos diários e conquistas de seus alunos. “Cada vez que você consegue atingir uma família com o seu trabalho, quando você consegue ajudar uma criança a não evadir da escola, você pensa que vale a pena ser professora. Quando você vê uma criança reconhecer uma letra, juntar uma sílaba, conseguir fazer uma conta, mesmo diante de tantas dificuldades que elas apresentam, é muito gratificante. Você percebe que está fazendo a diferença!”