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“Quem Ensina”: Apreensão e alegria em rever o espaço escolar novamente ocupado

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“É gostoso ouvir de novo aquelas gargalhadas. Em um primeiro momento, a gente fica bem insegura, com medo de não dar conta. Insegura por conta da doença, medo de exposição (ao coronavírus). Mas também a gente fica doida para ver as crianças, saber como elas estão. É bom ter uma rotina de novo, sair de casa, ir até o trabalho, voltar, sentir as crianças na sala de aula. Isso é gostoso”, resume a professora Vanessa da Silva Canfidelis, 40 anos, sobre os sentimentos em estar de volta à sala de aula ocupada por seus alunos. Vanessa é uma das profissionais que integra a série “Quem ensina”, uma homenagem que a Tribuna faz aos professores e demais trabalhadores da educação pelo Dia do Professor, comemorado no último dia 15.

Vanessa, atualmente, trabalha como professora regente para alunos do 1º ano do ensino fundamental na Escola Municipal Professora Edith Merhey e na Escola Uirandê, nesta última, ela também auxilia na coordenação. Quando conversou com a Tribuna, há duas semanas, seus alunos retornavam às atividades presenciais, e a alegria e a apreensão pelo novo eram inevitáveis. “Os alunos ficaram super ansiosos, desde o momento em que foi avisado sobre o retorno. Todos queriam voltar. Quando chegaram na escola, disseram que estavam com saudade, não só dos professores, mas dos funcionários também, do ambiente, de ver como a escola estava. Chegaram animados, cheios de casos para contar. Foi um momento muito agradável e prazeroso, apesar da apreensão que a gente vive”, descreve a professora. Segundo ela, alguns pais relataram que o retorno os lembrava da primeira vez em que deixaram seus filhos na escola. “De certa forma, foi sim uma primeira vez. Uma primeira vez dentro dessa nova realidade.”

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Quando você vê uma criança reconhecer uma letra, juntar uma sílaba, conseguir fazer uma conta, mesmo diante de tantas dificuldades que elas apresentam, é muito gratificante Foto: Fernando Priamo

A realidade agora é bem diferente do que era antes da pandemia, e o cenário é incerto. Apesar do avanço da vacinação em Juiz de Fora e da melhora dos índices epidemiológicos, ainda há a circulação do coronavírus, e todo o cuidado é necessário para que haja a segurança dos alunos e dos trabalhadores das instituições de ensino. E para quem trabalha com crianças, o desafio pode ser maior, já que os pequenos tendem a ser mais inquietos. Além do domínio de sala, agora, com o modelo de ensino híbrido, que mescla o remoto com o presencial, os desafios da docência tendem a aumentar.

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“A gente precisa ressignificar de novo. De certa forma, você vai desconstruir aquela questão da dependência do computador, da ferramenta digital e trazer de novo para a criança o gosto pelo chão da sala de aula. É um processo de construir e reconstruir. As crianças estavam com saudades, mas, em contrapartida, são muitos protocolos a serem seguidos. É preciso entender o significado de estar em sala agora e, ao mesmo tempo, dar aula para aqueles que estão em casa. É preciso fazer as crianças compreenderem esse momento.”

E não é de agora que Vanessa tenta entender como será o processo de retomada. Como auxiliar da coordenação na Escola Uirandê, ela faz parte da equipe que ajudou a organizar os procedimentos e protocolos na instituição. “A gente precisa acolher tanto as famílias, quanto os professores. É preciso planejar, pensar nos detalhes e na saúde dos colegas e alunos”, afirma.

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Adaptação aos novos modelos de ensino

Na avaliação dela, apesar de ter havido suporte das instituições de ensino durante o trabalho remoto, coube ao professor a incumbência de fazer o processo acontecer. Embora considere positiva o uso de plataformas digitais no aprendizado, reconhece as dificuldades de ensinar a distância e, principalmente, as defasagens educacionais acentuadas pela pandemia, especialmente na educação pública.

“Aprender a lidar com ferramentas digitais foi um grande ganho para a educação, apesar de a gente saber que não atingiu 100% dos alunos e que muita coisa ficou sem ser feita., principalmente na rede municipal, onde as crianças têm a dificuldade do acesso. Eu vejo que a educação caminhou de formas distintas e criou-se uma grande lacuna entre a rede privada e a rede pública.”

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Para tentar minimizar as perdas educacionais no período, os professores tiveram que se reinventar e também aprender. “Foi muito desafiador no início, porque estávamos lidando com algo muito novo e inesperado. Tivemos que fazer muitos cursos e adquirir ferramentas para trabalhar. A tentativa era de não perder a atenção das crianças, então, fazíamos atividades por meio de ferramentas pedagógicas acrescidas sempre de muita coisa lúdica”, conta.

Ela acredita, entretanto, que a experiência do ensino remoto será positiva para o modelo híbrido. “Eu acho que essas ferramentas foram um grande ganho para a educação no sentido de complementar o ensino presencial, tanto para o aluno quanto para o professor. Contribuiu para que trabalhássemos a habilidade para fazer uso do computador. Eu penso que essa experiência vai ser positiva para a educação”, opina.

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“O papel do professor é fundamental”

Vanessa faz questão de frisar a importância do papel no professor na formação de um indivíduo. Na opinião dela, o cenário pandêmico reforçou a relevância desse profissional. “A função do professor sempre foi muito questionada. Já se falaram até em fazer educação domiciliar, em alguns tempos. Agora, a pandemia serviu para consolidar que o papel do professor é fundamental na vida das crianças. Não só como uma pessoa que vai ajudar as crianças na caminhada escolar, mas, principalmente, é a pessoa que acolhe e que ajuda na sua socialização. Na educação infantil, onde as crianças não dependem de tantos componentes curriculares, ainda sim a figura do professor foi sentida de forma significativa”, afirma.

Para ela, o reconhecimento da dedicação e da função do professor vêm de diferentes formas, seja pelo protagonismo no processo de aprendizagem ou por acontecimentos diários e conquistas de seus alunos. “Cada vez que você consegue atingir uma família com o seu trabalho, quando você consegue ajudar uma criança a não evadir da escola, você pensa que vale a pena ser professora. Quando você vê uma criança reconhecer uma letra, juntar uma sílaba, conseguir fazer uma conta, mesmo diante de tantas dificuldades que elas apresentam, é muito gratificante. Você percebe que está fazendo a diferença!”

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