Uma troca de tiros ocorrida por volta das 16h30, dentro do estacionamento do Centro Médico Hospital Monte Sinai, na Avenida Itamar Franco, na altura do Bairro Cascatinha, resultou na morte do policial civil Rodrigo Francisco, de 37 anos, e deixou dois supostos policiais civis de São Paulo feridos, um deles com gravidade. O confronto levou pânico a funcionários da unidade, motoristas e pedestres que passavam pelo local. O policial morto estava há cerca de 15 anos na corporação e, recentemente, atuava como examinador no 4º Departamento de Polícia Civil de Juiz de Fora.
Apesar das sucessivas tentativas de reanimação da vítima, feita pelos médicos do hospital ainda na garagem, o policial não resistiu, deixando esposa e uma filha de 5 anos. A morte dele causou consternação nos colegas de trabalho. Durante toda a tarde, agentes chegavam ao local para saber sobre o ocorrido e dar apoio nas buscas. Quatro policiais civis de São Paulo foram detidos logo após a morte de Rodrigo Francisco, conhecido como Chicão. Havia muita tensão entre os dois grupos. Os agentes foram encaminhados para a delegacia, em Santa Terezinha. Outros quatro agentes civis, considerados foragidos, foram encontrados no início da noite e também conduzidos para a delegacia onde estavam sendo ouvidos até o fechamento desta edição, por volta das 22h. Dois continuaram internados no Monte Sinai, sendo que um deles, em estado grave, passou por cirurgia após sofrer múltiplas perfurações no intestino, sendo encaminhado, posteriormente, para o CTI.
As informações sobre a presença desses supostos policiais paulistas na cidade ainda são muito controversas. O que se sabe até agora é que a vinda deles à cidade não foi oficialmente comunicada à chefia da Policia Civil de Juiz de Fora, o que provocou estranhamento. Segundo informações da instituição de Juiz de Fora, dois agentes, entre eles Rodrigo, foram cumprir um expediente no Centro Médico, quando se depararam, no estacionamento do local, com homens armados. A delegada Regional de Juiz de Fora, Patrícia Ribeiro, explicou que os policiais juiz-foranos foram abordá-los, quando houve “um desacerto”, resultando na troca de tiros. Chicão morreu na hora.
Passava das 18h, quando Carine, esposa de Chicão, chegou sozinha ao estacionamento perguntando pelo marido. “Cadê o Rodrigo?”, ela insistia. Os colegas do policial não conseguiram dizer nada. Apenas abraçaram Carine, que parecia estar em estado de choque. Chorando muito, ela foi levada para ver o corpo do marido, que ainda estava nos fundos da garagem. Abalados, muitos policiais também choravam. Chicão buscaria a filha de 5 anos no colégio no final da tarde, mas, como não apareceu, a criança ficou esperando pelo pai. Amigos disseram que a menina era muito ligada a ele. A esposa do policial deixou o estacionamento do Centro Médico amparada por parentes.
Emocionado, o delegado Carlos Roberto da Silveira, chefe do 4º Departamento da Polícia Civil, lamentou a perda do policial. “É muito triste perder qualquer ser humano numa circunstância dessas, ainda mais sendo um colega de trabalho”, afirmou.
A delegada regional, Patrícia Ribeiro, também estava muito abalada e, ao ser perguntada sobre o impacto da morte do policial para a instituição e a família dele, ela sequer conseguiu falar.
Polícia de São Paulo não havia comunicado presença de equipe em JF
As informações desencontradas sobre o episódio levantam muitas dúvidas a respeito do caso. Um motoboy, que preferiu não se identificar, contou que, por volta das 16h30, estava no estacionamento do centro médico para fazer uma entrega, quando avistou o corpo do policial no chão. Ele disse que faz entregas diárias no hospital e teria sido impedido de continuar o trajeto por policiais, embora não soubesse dizer se eles eram do grupo de Juiz de Fora ou de São Paulo. Muitas pessoas que circulavam nas proximidades ficaram assustadas com o ocorrido. O trânsito de veículos, na Avenida Itamar Franco, ficou comprometido nas pistas de subida e descida. Também houve uma grande movimentação de policiais do entorno do hospital.
Pelo menos dez viaturas estiveram no local, além do helicóptero Pégasus da Polícia Militar. O corpo foi removido pela Funerária Candelária às 18h40.
Vários projéteis foram recolhidos no chão do estacionamento, mas o número de tiros que atingiu Chicão e os policiais de São Paulo não foi divulgado. Também não foi revelado quem disparou contra os policiais paulistas. Sabe-se apenas que Chicão estava acompanhado de um outro policial civil, que nada sofreu no tiroteio.
Um carro de passeio que estava estacionado no local deixou a garagem com marca de tiro. Além disso, a Polícia Civil de Juiz de Fora descobriu que os paulistas estavam hospedados em hotel do entorno. Uma pistola, com carga de São Paulo, foi localizada dentro do estabelecimento comercial.
De acordo com o chefe do 4º Departamento de Polícia Civil de Juiz de Fora, delegado Carlos Roberto da Silveira, a identidade dos agentes estava sendo levantada, bem como a documentação por eles apresentada. Ele ainda confirmou que não houve comunicação da Polícia Civil de São Paulo com a Polícia Civil mineira, com o objetivo de explicar qual seria o motivo de os paulistas estarem na cidade, o que é considerado suspeito. Ninguém conseguiu explicar o que Chicão e o parceiro que o acompanhava estavam fazendo no local onde houve a troca de tiros. Até o fechamento desta edição, os suspeitos estavam sendo ouvidos na delegacia de Santa Terezinha a portas fechadas.
A Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo encaminhou nota à Tribuna informando que todas as circunstâncias do caso estão sendo apuradas e que está mantendo contato constante com a Polícia Judiciária de Minas Gerais para auxiliar nos trabalhos realizados em Juiz de Fora. O enterro de Chicão deve ocorrer neste sábado. De acordo com a funerária, o corpo será velado na capela 6 do Cemitério Municipal, e o sepultamento está previsto para as 15h30.