Em Juiz de Fora há, proporcionalmente, mais gente morando em apartamento do que no estado, no país e nas outras cidades mineiras de mesmo porte. O município só fica atrás da capital Belo Horizonte. A informação, proveniente de mais um pacote de dados coletado pelo Censo Demográfico 2010 e divulgado esta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que 130.707 moradores em domicílios particulares permanentes (que servem exclusivamente à habitação) da cidade vivem nesse tipo de habitação, o que representam 25,5%. Ou seja, dos 512.651 juiz-foranos nessa situação, mais de um quarto residem em prédios. A percentagem é superior à de Minas Gerais (8,13%) e do Brasil (8,42%).
Dentre os 170.535 domicílios ocupados no levantamento realizado em 2010, 29,37% eram apartamentos, o que representa 50.092 unidades. Se comparar com o Censo realizado em 2000, é possível identificar a tendência de crescimento vertical de Juiz de Fora. Na época, das 132.465 moradias, 35.568 (26% do total) eram apartamentos. Percentualmente o índice encontrado também é maior do que Uberlândia, com 8,94%, e Contagem, 13,74%. Já o número de casas, apesar de ter aumentado de 96.803 para 117.391, proporcionalmente diminuiu com relação ao total de imóveis, declinando de 73,08% para 68,84%.
De acordo com a analista do IBGE Luciene Longo, é de se esperar que um município do porte de Juiz de Fora esteja mais próximo da realidade de Belo Horizonte do que da média nacional e estadual, porque o levantamento de Minas Gerais e do Brasil leva em conta as cidades pequenas e, nos dois casos, os municípios com menos de 20 mil habitantes são maioria. No entanto, ela destaca que o fato de o percentual de moradores em apartamentos na cidade ser maior do que em Contagem e Uberlândia, que têm perfil populacional semelhante, merece ser considerado. Luciane também pondera que, apesar de ter havido aumento no número de domicílios (tanto de casas quanto de apartamentos) entre os Censos de 2000 e 2010, é possível perceber a tendência de verticalização. "Ainda que tenha ocorrido aumento no número total de domicílios, ele foi maior na quantidade de apartamentos."
Sobre a porcentagem de pessoas que escolhem viver em apartamentos em Juiz de Fora ter sido maior que em outros municípios, a subsecretária de Planejamento do Território da Prefeitura, Cecília Rabelo, afirma que estão relacionadas com as características da cidade. "Contagem, por exemplo, tem muitos apartamentos, mas são conjuntos pequenos, como os que chegam agora em Juiz de Fora pelos programas habitacionais."
Tendência nacional
De acordo com o professor da UFJF e presidente do núcleo local do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB/JF), Marcos Olender, a tendência de verticalização, demonstrada pelo acréscimo no número de apartamentos nos últimos dez anos, pode ser observada não apenas em Juiz de Fora, mas em todo o país. "A questão é verificar como essa verticalização vem ocorrendo. Saber que mais gente vive em prédios aqui em Juiz de Fora do que em outras cidades é significativo, mas é preciso voltar o olhar para o tipo de habitação." Conforme Olender, a falta de orientação e planejamento urbano da cidade durante muitos anos é que representa o maior problema.
"Juiz de Fora não teve política de desenvolvimento urbano significativa desde o Plano Diretor, que é anterior ao Estatuto das Cidades (Regulamentado em 2001). O que vemos é um adensamento populacional desordenado em diversas regiões, o que é preocupante", destaca o presidente do IAB/JF.
Na opinião de Cecília, se faz necessário uma análise aprofundada dos resultados apresentados pelo Censo para descobrir quais bairros alavancaram o crescimento. No entanto, ela afirma que a escolha por morar em apartamento reflete uma opção da cidade. "Nossa topografia não é muito favorável. Ou seja, não há como espalhar muito o município, porque os moradores acabam ficando longe do Centro. Hoje temos uma teoria que é melhor adensar a espalhar, mas com planejamento. Apenas desta forma conseguimos, por exemplo, evitar a sobrecarga no sistema viário."
Segundo Cecília, para manter o crescimento de forma ordenada é preciso atualizar o Plano Diretor, o que deveria ter ocorrido em 2010. "A revisão do plano é importante, junto com uma nova legislação do plano urbanístico." Ela salienta que o crescimento da cidade não é desordenado e, embora alguns instrumentos estejam defasados, ainda há controle da situação.
Verticalização é observada na Cidade Alta
Para o presidente do IAB/JF, Marcos Olender, não é só a verticalização do Centro da cidade que precisa ser revista. "Apesar de nessa região a situação ser mais crítica, porque a infraestrutura não comporta mais o crescimento, outras áreas, como a Cidade Alta, estão sendo adensadas e já dão mostras de que podem não suportar esse impacto." Olender ressalta que a Cidade Alta não deveria ser uma opção de adensamento devido a sua característica geomorfológica. "Futuramente podemos verificar prejuízos ao meio ambiente por falta de uma política mais incisiva. O crescimento que hoje ocorre nessa região poderia estar sendo realizado na Zona Norte."
Em 2011, a Tribuna publicou matéria sobre o crescimento populacional da cidade com base nos números dos dois últimos Censos e revelou que a Cidade Alta é a região que mais cresce. Apesar de ainda não estar entre as mais populosas e povoadas, em 2010 a população já somava 38.711 residentes, número 32% maior do que o registrado em 2000. A explosão de novos prédios em bairros como o São Pedro pode fazer com que a densidade demográfica da região seja maior no próximo levantamento do IBGE.