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Quadrilha já desviou quase 60 contêineres em Minas Gerais

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eurico marcelo
Delegado Eurico Cunha Neto afirma que Polícia Civil foi procurada por empresário de BH, depois de ele ficar sabendo que os contêineres desviados estariam em JF (Foto: Marcelo Ribeiro)
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Mais de R$ 1 milhão. Esta é a estimativa de prejuízo que uma quadrilha especializada em furtos de contêiner teria causado a empresas de exportação somente em Minas Gerais, onde quase 60 equipamentos teriam sido desviados. Estima-se que o valor seja ainda maior, uma vez que o bando é suspeito de agir em todo território nacional. Na região de Juiz de Fora, a Polícia Civil identificou 21 contêineres produtos de crime nesta quinta-feira (19). A maior parte das estruturas, 20 delas, foram localizadas na BR-040, em Matias Barbosa, numa empresa que atua no segmento. Já o outro foi encontrado no Bairro São Pedro, na Cidade Alta. As apurações apontam que os proprietários das duas empresas, apesar de se enquadrarem no crime de receptação, também foram vítimas da quadrilha. Não há outros estabelecimentos da cidade sendo investigados. De acordo com a polícia, cada contêiner novo seria vendido a US$ 5 mil, o equivalente a cerca de R$ 20 mil.

O caso veio à tona após o proprietário de uma agência de cargas internacional, responsável pela intermediação de cargas entre exportador e importador, com sede na capital mineira, perceber que havia caído em um golpe e procurar a Polícia Civil. Há cerca de três semanas, o delegado à frente do caso, Eurico Cunha Neto, deu início as investigações. “Apesar de a empresa lesada ser de Belo Horizonte, não temos a informação de alguma investigação naquela cidade. Há sim um registro de ocorrência, que ainda não culminou em apurações. Nós fomos procurados pelo empresário, depois de ele ficar sabendo que os contêineres desviados estariam em Juiz de Fora. Diante disso, começamos a investigar e, nesta tarde, chegamos aos 21 contêineres”, destacou o titular da 1ª Delegacia de Polícia Civil. Todos eles foram apreendidos, mas permanecem nos estabelecimentos onde foram localizados, devido à dificuldade de transporte.

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O golpe

Para conseguir os equipamentos, os criminosos falsificavam a documentação de empresas conceituadas no ramo da exportação e faziam o pedido das estruturas. Diante da suposta veracidade das informações, como nome, CNPJ, dentre outros dados, os contêineres eram entregues, no entanto, em destinos solicitados pelos bandidos. O dono de uma das agências lesadas em Belo Horizonte, que preferiu não se identificar, disse que, após o pedido em nome de uma determinada empresa do ramo alimentício, foi feita análise, e nada de irregular foi constatado. “Fazemos a intermediação de fretes internacionais aéreos e marítimos e, neste caso, eles nos solicitaram três reservas – uma espécie de passagem – totalizando 24 contêineres. E, como em nossa análise estaria tudo certo, e o nome da solicitante era conhecido, liberamos o pedido e expedimos o booking – documento numerado necessário para a retirada dos equipamentos – e encaminhamos à suposta empresa.

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Com o documento em mãos, eles seguiram para o terminal e fizeram a retirada dos equipamentos vazios. Depois de um tempo, as estruturas não voltaram carregadas e pediram ainda o adiamento do booking, o que não é algo normal e gera multas. A partir daí, demos falta e vimos que tínhamos caído em um golpe”, disse o empresário belo-horizontino, acrescentando que logo iniciou investigação por conta própria até chegar a um contêiner que estava em Juiz de Fora. “Posteriormente, encontramos outros 19. Ainda faltam outros quatro”, relatou ele, fazendo referência às estruturas que ainda estão desviadas. O 21º contêiner encontrado em Juiz de Fora pertence a uma agência com sede em São Paulo. A Polícia Civil acredita que os golpistas tenham feito vítimas em outros estados brasileiros. Ainda é investigado o prejuízo da transportadora que fez a retirada dos equipamentos do porto e entregou em um galpão de Duque de Caxias (RJ).

Crime considerado inusitado

A modalidade criminosa pode ser considerada inusitada e chama atenção devido ao tamanho dos objetos desviados e à estrutura que a quadrilha possui. “Contêineres são equipamentos grandes, pesados, portanto de difícil deslocamento. Mas, segundo as informações do empresário lesado, os estelionatários possuem todo aparato necessário para realizar o transbordo, como caminhões, guinchos e restante da estrutura. É necessário descobrir como eles conseguem acesso a dados particulares da empresa, como nome de registro, CNPJ, entre outros, de forma que as agências acreditam nas informações repassadas por e-mail e fazem a liberação sem desconfiar de nada”, disse Eurico, sem descartar a possibilidade da participação de funcionários das empresas que realizam compra e venda no exterior. As investigações apontam que, na cidade, os equipamentos foram vendidos abaixo do preço de mercado. Os contêineres usados são estimados em valores entre R$ 12 mil e R$ 14 mil, mas foram repassados por cerca de R$ 8 mil cada. Nenhum deles, no entanto, tem documento fiscal. A localização só foi possível graças ao número de série de cada um. Os empresários juiz-foranos, de 43 e 44 anos, onde foram encontrados os contêineres furtados, foram encaminhados à delegacia e poderão responder pelo crime de receptação. À Tribuna, eles disseram não saber que as estruturas eram produtos de crime e afirmaram que estão colaborando com as investigações.

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Para o delegado, ambos foram vítimas de golpe e, durante a ação da Polícia Civil, auxiliaram nas investigações. “Ao saberem que possuíam estruturas produtos de crime, eles ficaram bastante nervosos, mas não deixaram de nos fornecer dados sobre o vendedor, que foi identificado como sendo morador do distrito de Campos Elíseos (Duque de Caxias-RJ)”, conta. Os homens foram levados para a delegacia onde prestaram depoimento.

“Temos que fazer uma análise se eles sabiam efetivamente que aquele produto é proveniente de furto ou se deveriam saber se a mercadoria é produto de crime, fazendo algumas análises como, por exemplo, pela desproporcionalidade de preço e da forma como aquilo foi ofertado.” Após prestar esclarecimentos, os empresários de Juiz de Fora assinaram Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO), ficando de comparecer ao Juizado Especial caso sejam convocados. A investigação de receptação, realizada em Juiz de Fora, será anexada a um Registro de Evento e Defesa Social (Reds), oriundo de Belo Horizonte, e encaminhada à Polícia Civil da capital mineira que deverá abrir inquérito para investigar a quadrilha. Na capital, os juiz-foranos poderão responder por outras modalidades, caso o delegado responsável assim entenda.

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