Dos alimentos consumidos, o óleo de cozinha é o que tem potencial de degradação mais alto: a cada litro descartado no meio ambiente, a poluição pode atingir cerca de 25 mil litros de água. Com o objetivo de diminuir o descarte incorreto do produto, a pesquisadora doutora em Ciência Política Flávia David fundou, em janeiro deste ano, o Instituto Epros, localizado no Bairro Costa Carvalho em Juiz de Fora. Segundo a pesquisadora, conforme dados de 2009 da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Juiz descarta cerca de 110 mil litros de óleo de cozinha usado todos os meses, a pesquisa foi realizada por meio do cálculo entre consumo per capita/ano e o potencial de descarte.
O óleo de cozinha coletado pelo instituto passa por um processo de beneficiamento até chegar a graus mais baixos de impureza e conseguir ser destinado à produção de biodiesel. Em contrapartida, o instituto oferece aos fornecedores valores em dinheiro, palestras e projetos de educação ambiental. O material é recolhido em vários pontos da cidade. “A gente foca em vários eixos, sobretudo residencial. Outros são escolas, ONGs e revendas de gás. Nas escolas, vamos até o local e fazemos a mobilização e conscientização dos alunos sobre a importância de se juntarem a nós como agentes ambientais e sociais da campanha, pois todo óleo coletado, além de reciclado e reinserido na economia circular, gera um valor que volta para as escolas públicas e municipais investirem em projetos com os próprios alunos.”
O dinheiro obtido pelo instituto com a reciclagem do óleo usado que vem das escolas particulares é doado para instituições que trabalham com pessoas em situações de vulnerabilidade. Essas instituições podem ser indicadas pela própria escola ou escolhida a partir da lista fornecida pela entidade. Nas ONGs e associações, são feitas palestras de conscientização, para mobilizar todo o entorno nesse processo. “O óleo gera captação de recursos para que os projetos possam ser mantidos e/ou desenvolvidos, a ideia é tornar as instituições sustentáveis, também economicamente.”
Nas revendas de gás, a ideia é fomentar a economia doméstica junto com a proteção ambiental. “O consumidor final ganha descontos na compra do gás, proporcionais à quantidade de óleo coletada na hora da compra, pois a partir dos óleos arrecadados e direcionados para nós, damos um retorno em dinheiro as lojas de revendas que possibilita esse desconto aos seus clientes.” A fundadora e presidente do Instituto Epros cita alguns parceiros que já faziam a coleta em Juiz de Fora, como a Recicla Minas, empresa de coleta de óleo usado que há anos atua na cidade. “Eles são grandes parceiros que partilham valores comuns com nosso instituto”.
Gincana de óleo faz sucesso na escola Duque de Caxias
O Instituto Epros esteve na Escola Estadual Duque de Caxias, onde passou de sala em sala, apresentando o projeto e solicitando doações de óleo. A professora de Ciências e Biologia, Roberta Botelho Ferreira, observou grande interesse nos alunos do sétimo ano e teve a ideia de fazer uma gincana. “A turma que mais arrecadar vai fazer um passeio no Museu de História Natural do CES (Centro de Ensino Superior/Academia). A resposta foi muito positiva. Em uma semana, conseguimos dois litros, na outra, três. Teve colega que trouxe 24 litros, outro, que tem a mãe salgadeira, trouxe cinco litros. Em 40 dias, arrecadamos 141 litros.”
Diante da adesão dos estudantes, o prazo para o passeio foi prorrogado para outubro e será expandido para todas turmas. Ainda assim, os que ficarem em primeiro lugar vão ganhar um bônus como uma forma de incentivo. “O que mais surpreendeu os alunos foi para onde ia esse lixo, pois muitos relataram que as mães jogavam o óleo na pia. Além disso, foi uma forma de descobrir a quantidade de óleo que eles têm em suas alimentações. O projeto abriu discussão para vários assuntos, como o destino correto do lixo e alimentação saudável”.
Segundo a professora, os próximos passos é convidar os integrantes do instituto, para que mostrem exatamente o que será feito com o óleo arrecadado. “Eu quero que eles vejam que o esforço que tiveram não é só pela recompensa da gincana. Esse hábito precisa ser algo que esteja sempre presente em suas vidas.” Além disso, Roberta deseja incluir as famílias nesse processo. “O próximo passo é fazer um aulão para as mães, a fim de que elas aprendam a reaproveitar os alimentos, como as casas, por exemplo. O impacto não tem que ser só no aluno, então se a gente puder passar para a família é bem interessante”.
ONG sendo fomentada por ações sustentáveis
Além das escolas, outro ponto de coleta são as ONGs, como a Brothers do Bem, criada em 2020, com o foco em desenvolver as crianças por meio da educação, afeto e responsabilidade na comunidade do Bairro de Santa Terezinha. Atualmente, a ONG oferece inglês, matemática, oficina de rima, oficina de tecnologia, suporte e orientação em saúde e medicamentos.
A coordenadora Nina Halfeld conta que a parceria com o instituto é muito importante por fomentar ações sustentáveis. Além de receber por cada litro de óleo arrecadado, outra forma de retorno que a ONG tem são palestras feitas pelos membros do Instituto Epros.
Reciclagem de óleo gera economia na compra do próximo gás
A empresa Kiko Gás e Água, administrada por Francisco Brito, iniciou uma parceria com o Instituto Epros há duas semanas, mas já consegue ver os resultados positivos do projeto. “O pessoal está muito ligado à questão de ecologia. Então, vários clientes estão perguntando como funciona a coleta. Inclusive, vários restaurantes já fecharam com a gente a entrega do óleo, pois evita poluir o meio ambiente, além de garantir também desconto, pois a cada dois litros entregue é dado R$ 2 de abatimento na compra do próximo gás.” O instituto, por sua vez, dá contrapartida em dinheiro à revenda de gás.
O restaurante Umami, gerido por Marco Antônio, é um dos clientes de Francisco que aderiu à reciclagem. “Desde 2012, quando o restaurante surgiu a gente recicla. Agora, estamos levando para o Kiko, pois lá conseguimos um desconto na compra do gás”, um produto extremamente relevante para a empresa alimentícia dele funcionar. Francisco Brito acredita que a campanha que vem sendo desenvolvida em sua empresa de gás, além de ajudar no bolso da comunidade que consome seu produto e no meio ambiente, é uma forma de contribuir na imagem do seu negócio.