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Família de psicóloga morta não aceita liberdade de suspeito

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Marina Cunha deixou três filhos entre 2 e 6 anos de idade (Foto: Arquivo de família)
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Indignação e medo permeiam os sentimentos dos familiares de Marina Gonçalves Cunha desde que o marido, que confessou tê-la matado, deixou o Ceresp, na última sexta-feira (15), após alvará de soltura concedido pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). A psicóloga completaria 36 anos nesta terça (19), mas foi assassinada supostamente por esganadura no dia 21 de maio, no apartamento onde morava com o pai de seus filhos, 38, no Bairro São Mateus, Zona Sul.

Em entrevista à Tribuna, o irmão da vítima, Marino Liberato da Cunha Júnior, 38, falou da forma como o cunhado tratou toda a família durante o desaparecimento da mulher e da suspeita de que o aparente crime de feminicídio teria sido premeditado. Uma tentativa de enforcamento anterior durante uma discussão teria sido relatada pela psicóloga ao próprio pai. Além disso, uma caixa de papelão usada para colocar o corpo enrolado em um edredom seria exatamente do tamanho do carrinho utilizado para transportar o cadáver, conforme imagens das câmeras de segurança do prédio. Artifícios também teriam sido empregados para dificultar a identificação do corpo, como a retirada da aliança e o possível lançamento de algum líquido sobre o rosto, achado em estado cadavérico e sem os cabelos dez dias depois em uma mata próximo ao Parque da Lajinha.

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Segundo Marino, três dias após afirmar a todos que a psicóloga teria saído de casa com “nojo” dele e das crianças, porque elas a fariam lembrar dele, o empresário do ramo de software viajou com os três filhos, com idades entre 2 e 6 anos, para o Rio de Janeiro, sua terra natal. Por meio do aplicativo WhatsApp, ele enviava fotos tiradas em uma série de atrações, como o Cristo Redentor e o Aquário Marinho. “Ele ficou levando a vida normalmente, como se nada tivesse acontecido. Foi em todos os pontos turísticos com as crianças, e nunca havia feito isso.” Naquela semana, o casal havia programado uma viagem a Porto Alegre (RS), mas o marido alegou que a mulher havia desistido. “O que mais nos indignou foi esse comportamento que ele teve depois (da morte). Almoçou várias vezes na casa da minha mãe, deu até sobremesa na boca dela”, desabafou o irmão.

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O casal levava uma vida reservada e algumas coisas só vieram à tona após o homicídio. “Meu pai falou que uma vez minha irmã contou que ele (o marido) a pegou pelo pescoço, a esganou em uma discussão entre os dois.” A coincidência entre o dia do assassinato de Marina com o início da greve dos caminhoneiros também contribuiu para o irmão não se ater tanto ao sumiço dela, já que ele é empresário do setor de transporte de combustíveis e vivia um período turbulento. “Fiquei dez dias envolvido com aquilo. Quando aconteceu (a morte), ele me ligou no dia seguinte falando: ‘sua irmã me falou umas coisas muito fortes, não quero nem ficar repetindo, mas disse que estava com muito nojo de mim e das crianças. Sumiu, não falou para onde ia’.”

Quando a família procurava saber notícias, o suspeito alegava que a mulher havia feito contato e estava bem, mas estava sem celular e não queria falar com outras pessoas.

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“Minha irmã estava em um momento muito bom. Pensei que tinha ido meditar ou fazer outro curso em São Paulo, porque estava viajando bastante para fazer especialização na área dela, de coaching.”

Ao mesmo tempo, os familiares questionavam o fato de ela ficar tanto tempo longe dos filhos. “Isso causou muita estranheza na minha mãe, e ela perguntava se a gente não tinha que ver isso (o desaparecimento) a fundo.”

Os irmãos são do Acre, mesma terra natal da mãe, e mudaram-se para Juiz de Fora em 1992. “Alguns amigos da Marina me mandaram mensagem, dizendo que ela não estava interagindo nos grupos. Eu contei que ela havia brigado com o marido, saído de casa e que ninguém sabia o paradeiro dela. Um deles me disse que ela estava pensando seriamente em se separar. Mas comigo ela não havia conversado sobre isso.”

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Ainda de acordo com Marino, a psicóloga vivia uma boa fase profissional, após se dedicar integralmente aos filhos. “Eles se conheceram logo depois de ela se formar. Ela engravidou do primeiro filho, e eles ficaram muito felizes. Marina era uma mãezona, extremamente dedicada. Viveram muito tempo no Rio, mas começou a ficar apertado financeiramente e resolveram mudar para Juiz de Fora. Para ele também não era problema, porque a maioria dos clientes estava perto. Ela estava muito entusiasmada, com a vida profissional e pessoal.”

Vítima quase chegou a ser enterrada como indigente

A psicóloga Marina Gonçalves Cunha quase foi enterrada como indigente, segundo revelou o irmão dela, Marino Júnior. Após ser encontrado no dia 31 de maio em uma matagal às margens da Avenida Prefeito Mello Reis, no Aeroporto, na Cidade Alta, dez dias após a morte, o cadáver ficou à espera de identificação no IML por uma semana. Quando a família soube da vítima, com características semelhantes, já desconfiou do envolvimento do esposo dela.

“Na quinta-feira (7), meus pais me ligaram muito preocupados, dizendo que não aguentavam mais aquela situação. Resolvemos tomar uma providência. Liguei para um amigo meu advogado, e ele entrou em contato com o IML. Se não fôssemos naquele dia, ela seria enterrada como indigente. Ele quase conseguiu. “O sentimento do meu pai e da minha mãe foi o que motivou a gente a ir atrás.”

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As próteses de silicone e a comparação da arcada dentária ajudaram na identificação, mas foi um pequeno detalhe que fez Marino não ter dúvidas de que, infelizmente, aquele corpo era da sua irmã. “Consegui identificá-la pela mão. Temos um dedo (polegar) achatado.” Sobre o rosto desfigurado, a suspeita, segundo ele, é de que possa ter sido usado algum tipo de solvente. “O cabelo havia soltado da cabeça, mas o resto do corpo não estava tanto em decomposição como o rosto. Preferi não ver (a face) para não ficar na minha memória.” Ainda conforme o empresário, investigadores retornaram ao local em que o corpo foi desovado e recolheram cabelos que seriam da vítima. O material está sob análise.

Irmão descreve suspeito como ‘manipulador’

“Ele era muito na dele, variava entre um cara completamente equilibrado e muito nervoso. Praticava meditação, fazia cursos de autoconhecimento, mas tinha umas explosões que a gente até desconhecia. O que fugia à regra, à rotina deles, o deixava transtornado”, descreveu o empresário Marino Júnior sobre o perfil do cunhado que confessou ter matado sua irmã, Marina. “Agora percebo que ele era muito manipulador. Os fatos evidenciam.”

Logo após saber que um corpo no IML batia com as características da sua irmã, Marino contatou o síndico do prédio onde também mora para verificar as imagens das câmeras de segurança. “Algumas pessoas já haviam levantado a suspeita (do marido), mas eu não queria acreditar. Quando liguei para o síndico, ele me disse que meu cunhado já havia pedido e estava ‘muito preocupado’ com as imagens.” Segundo o empresário de transporte de combustíveis, o suspeito já teria sido informado que as gravações ficavam armazenadas de sete a dez dias. “Meu pai foi até a casa dela, porque também tem câmeras, mas o DVR estava desligado”, completou Marino.

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Para o irmão, há muitos indícios de crime premeditado. “Queremos saber como a caixa colocada no fundo do carrinho (para transportar o corpo) foi parar no apartamento e por qual motivo estava lá.” As imagens do prédio reforçaram a suspeita em torno do marido da vítima. Pelas gravações, Marina chega de viagem com o marido, os três filhos e a empregada, que vai embora cerca de uma hora depois. A vítima não aparece mais nas filmagens. Já o companheiro sai por volta da meia-noite do mesmo dia, retorna com compras no fundo de um carrinho e sai novamente do apartamento com o carrinho cheio de compras, com várias sacolas tampando, possivelmente, o corpo. “Foi a partir do vídeo que tivemos a certeza. E ele confessou”, disse Marino.

O homem foi abordado por policiais civis quando chegava à casa da sogra na Vila Ideal, Zona Sudeste. “Ele negou em um primeiro momento, mas quando falei que as imagens do prédio não haviam sido apagadas, disse que conversava depois.” Em depoimento na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, o homem confessou a morte da psicóloga com uma tese de legítima defesa durante uma briga do casal. Ele teve a prisão preventiva decretada no mesmo dia, mas a defesa entrou com pedido de habeas corpus e conseguiu a soltura, com aplicação de medidas cautelares, como não deixar a comarca e comparecer em juízo periodicamente. “Estamos com medo. A escola onde as crianças estudam está em pânico. Tem mães que nem estão mandando os filhos para a aula. Os vizinhos no prédio também estão apavorados, com medo de ele fazer alguma coisa”, contou Marino. Segundo ele, durante o fim de semana, o suspeito não fez contato. A família pretende conseguir uma medida protetiva.

“Diante de tudo, não é justo que ele responda a esse crime em liberdade. São muitos agravantes. E com tamanha frieza em lidar com a gente”, avalia. Para ele, o suspeito representa um risco à sociedade. “Se ele se sentir ameaçado, pode fazer alguma coisa, como fez. Temos medo, principalmente, pelas crianças.”

Defesa diz que investigado agiu sob “forte emoção”

Em nota, o advogado José Arthur Kalil, que defende o empresário suspeito do crime, afirmou que seu cliente “está bastante abatido com o triste episódio e vem recebendo irrestrito apoio da família e de amigos”. Ainda segundo ele, “o fim trágico foi impulsionado por forte emoção e por desespero natural de quem jamais vivenciara inusitada situação similar”.

Empresário de 38 anos ficou preso durante uma semana, mas foi solto na sexta-feira (Foto: Felipe Couri)

Conforme a defesa, o investigado “compreende e respeita a dor da família de sua esposa. No momento, apenas deseja continuar colaborando com as investigações e conservar seus direitos não atingidos por ordem judicial. Deseja acreditar que a apuração seja imparcial e obediente às regras legais.” De acordo com o advogado, o suspeito “conserva todos os direitos não restringidos pela justiça, respeitará a família enlutada e acredita que seus procuradores e seus familiares chegarão a um ponto adequado a respeito do acesso e das visitas aos filhos menores”. As três crianças estão sob a guarda provisória dos avós maternos.

Sobre o TJMG ter concedido o direito de o empresário aguardar em liberdade o curso do processo, a defesa reforçou: “A corte mineira, diante da ilegalidade da prisão – decretada fora dos requisitos legais – tendo em conta a contribuição para a elucidação do caso promovida, e diante do fato de ele jamais ter se envolvido em episódios de violência contra pessoa e, ainda, ser primário e de bons antecedentes, não poderia ter decidido de outro modo.”

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